Estigmas – Enigma religioso ou farsa?

Estigmas – Enigma religioso ou farsa?

Os estigmas são ferimentos misteriosos e geralmente associados às chagas de Cristo, que surgem em pessoas profundamente religiosas — especialmente mulheres —, sendo interpretados por crentes como sinais divinos e por céticos como fenômenos psicossomáticos ou fraudes, desafiando a ciência e intrigando a fé há séculos.


Neste artigo:


Introdução

Os estigmas são marcas manifestadas fisicamente, ou seja, no próprio corpo de algumas pessoas, e teriam uma origem espiritual, reproduzindo as chagas de Jesus Cristo em sua crucificação.

Essas marcas, ou ferimentos podem ser de formas variadas, podendo aparecer como ulceras, chagas, ferimentos, queimaduras, bolhas e lacerações, que aparecem nas mãos ou nos punhos, nos pés, no tórax e na testa. Também podem aparecer como marcas de chibatadas ou daquilo que seria a coroa de espinhos colocada sobre a cabeça.

Segundo os religiosos, estes ferimentos tem realmente uma origem divina, que acontecem como sinal divino. Já os céticos apresentam explicações variadas, como sendo ferimentos auto-infligidos, e manifestações psicossomáticas derivadas de indução mental e histeria coletiva.

Não há registros de estigmas ocorridos antes do século 13. O primeiro caso oficial de estigma documentado envolveu São Francisco de Assis. Desde então, numerosos casos foram registrados.

De qualquer forma, o enigma persiste e intriga pesquisadores do mundo inteiro. Os céticos acreditam que absolutamente todos os estigmas tenham explicação, sendo em sua maioria causados por auto-sugestão. Segundo eles, geralmente os estigmatizados são tão devotos e obcecados em meditar sobre a agonia de Cristo na cruz que levam o próprio corpo a manifestar os ferimentos, sempre nos mesmos lugares que as chagas de Jesus.

Os estigmas envolvem dor e para a igreja católica, o sofrimento é parte do milagre, caso contrário, tais ferimentos seriam apenas um símbolo vazio que levaria ao orgulho. Para ela, um estigma autêntico é um dom divino e que reflete uma participação nos sofrimentos de Jesus.

Ela também reconhece que eles podem ser visíveis ou não, sangrentos ou não, permanentes ou não. No caso, estigmas invisíveis, segundo a Igreja Católica, podem causar tanta dor quanto os visíveis.

Os ferimentos apresentados pelos estigmatizados correspondem aos que teriam sido inflingidos à Jesus Cristo na crucificação.

Não há registros de estigmas ocorridos antes do século 13. O primeiro caso oficial de estigma documentado envolveu São Francisco de Assis. O caso da estigmatização de São Francisco de Assis destaca-se pelo número de testemunhas, algumas em vida, mas em maior número após a sua morte, que corroboraram a veracidade do acontecimento. De acordo com os escritos da época, os estigmas de São Francisco surgiram após um jejum bastante longo, durante o qual ele meditou profundamente sobre a crucificação de Cristo. Em vida, o Irmão León, foi um dos que acompanhou Francisco ao Monte Alvernia em agosto de 1224 onde, segundo os escritos de Buenaventura de Fidanza e In outros documentos da época, o “pobre de Assis” recebeu os chamados “estigmas de Cristo”. Seus estigmas surgiram nas mãos e nos pés. Ao longo de sua vida, apenas as pessoas próximas viram os estigmas. Após a morte de Francisco, inúmeras testemunhas viram os seus ferimentos.

Segundo as informações disponíveis, estes estigmas tinham aparência de terem sido causados por pregos grossos de cabeça redonda. A parte de cima das mãos e dos pés mostrava as marcas arredondadas. A parte de baixo, a pele retraída, como se tivesse sido perfurada com a ponta de um prego.

Apesar de São Francisco ser considerado o primeiro caso, outra pessoa, da mesma época, chamada Maria de Oignies, uma serva benigna, que teria recebido suas chagas 12 anos antes de São Francisco.

São Francisco de Assiste teria sido um dos primeiros estigmatizados.

A igreja católica não reconhece os estigmas como milagres aceitáveis para que alguém seja canonizado. Entretanto, vários santos católicos apresentaram estigmas.

Existem mais de 400 casos de estigmas documentados ao longo da história e a grande maioria deles ocorre no meio cristão. Elas raramente ocorrem em religiões não cristãs. E quando ocorrem, elas se manifestam com peculiaridades da religião professada por quem carrega o estigma. Entre os islâmicos foram documentados alguns casos de estigmas. O interessante é que os ferimentos destes estigmatizados correspondem aos ferimentos sofridos por Maomé em batalha.

Estudos Científicos

No final do século XIX, um médico francês chamado Dr. A Imbert-Goubeyre começou a compilar um censo de estigmáticos conhecidos desde o século XIII até a sua época. Este censo inclui 280 mulheres e 41 homens estigmáticos, o que significa que as mulheres representam pouco mais de 87% da lista.

Em abril de 2019, a Universidade de Antuérpia divulgou uma base de dados com informações sobre 244 estigmáticos. Cerca 92% dos estigmáticos na base de dados são mulheres. Em alguns casos, as irmãs do convento tentaram proteger as mulheres estigmáticas do escrutínio público, muitas vezes por medo de como a sua condição afetaria a reputação do convento. Assim, a quantidade de mulheres estigmáticas pode ser ainda maior do que mostra o registo histórico.

Apesar do elevado número de mulheres estigmáticas ao longo da história, os estigmáticos mais conhecidos e menos contestados, como Francisco de Assis e Padre Pio, foram homens.

A literatura católica está repleta de histórias sobre devotos católicos recebendo as chagas de Cristo. Muitos dos estigmatizados não apresentam comportamento obsessivo delirante. Um estigmatizado muito conhecido é Padre Pio, que manifestou estigmas ao longo de toda a sua vida. Conta-se que certa vez, destas feridas, escorreu muito sangue, a ponto de encher um copo. Apesar disso, ele nunca deixou de exercer suas obrigações sacerdotais. Ele simplesmente aceitou e continuou levando sua vida normalmente.

Muitos estigmatizados, embora religiosos, eram pessoas comuns. Alguns poucos casos envolvem crianças, que ainda não tiveram tempo de desenvolver uma obsessão religiosa.

Existem também casos de estigmatizados que eram de fato fanáticos religiosos, que nunca dormiam e sobreviviam alimentando-se apenas de hóstias. A mais notável destas é Theresa Neumann, não fazia nada mais do que rezar.

Um ponto comum nesses estigmatizados é a visão de uma figura religiosa, geralmente Jesus Cristo ou Nossa Senhora. Nessa visão inicia-se um processo culminando com o surgimento dos estigmas.

Muitos estigmatizados têm sido expostos pelo meio cético como fraude. Segundo o meio cético, Magdalena de la Cruz, por exemplo, que durante sua vida foi venerada como santa, confessou à beira da morte que seus estigmas haviam sido criados artificialmente e de forma deliberada.

Alguns estudos científicos modernos têm mostrado que alguns estigmas têm origem histérica, ou são produtos de transtornos dissociativos de identidade. Tais estudos demonstraram que existem relações claras entre constrições produzidas pela fome, estresse mental e auto-mutilação, principalmente no contexto de crenças religiosas. Casos de anorexia nervosa frequentemente apresentam auto-mutilações semelhantes a estígmas, como parte de rituais típicos de transtornos obsessivo-compulsivos. Além disso, a relação entre fome e auto-mutilação tem foi verificada entre prisioneiros de guerra e durante episódios de fome generalizada.

O psicólogo Leonard Zusne em seu livro Anomalistic Psychology: A Study of Magical Thinking (1989) conclui que:

Casos de estigma recaem em duas categorias: feridas auto-infligidas, que podem ser tanto casos de fraude quanto de auto-mutilação inconsciente, e feridas causadas por estados emocionais… auto-indução (através de auto-sugestão) de coceiras e subsequentes arranhões, dos quais o indivíduo não tem consciência, tem grande chance de ocorrer em pessoas impressionáveis, na presença de estímulos como imagens mentais ou físicas de cenas da crucificação usadas em meditação, e quando deseja-se receber estigmas. O motivo por detrás disso pode ser um conflito inconsciente e um desejo de escapar de uma situação intolerável, para uma situação de invalidez na qual as necessidades da pessoa recebem atenção e cuidado. […] Muitos casos de estigmas podem ser explicados como fraude ou como feridas auto-provocadas

Visando confirmar a possibilidade de auto-sugestão, alguns médicos e cientistas fizeram induções mentais à cobaias voluntárias. Nenhuma delas chegou a produzir qualquer ferimento ou sangramento que pudesse ser associado com estigmas.

Por outro lado, em alguns casos, a medicina não conseguiu explicar detalhes importantes referentes à esses ferimentos.

Elas não se curam nem cicatrizam por meio de tratamentos médicos convencionais.

Elas não liberam odor de infecção ou cheiro de ferimentos supurados.

Algumas liberaram aroma perfumado.

Casos Famosos

Pio de Pietrelcina , também conhecido como Padre Pio, nasceu em Pietrelcina, Campânia, Itália, em 25 de maio de 1887 e faleceu em San Giovanni Rotondo, Apúlia, Itália, em 23 de setembro de 1968. Foi um frade capuchinho italiano e sacerdote católico famoso por seus dons milagrosos e pelos estigmas presentes nas mãos, pés e laterais. Seu nome de batismo era Francesco Forgione e recebeu o nome de Pio quando ingressou na Ordem dos Irmãos Capuchinhos Menores. Foi beatificado em 1999 e canonizado em 2002 pelo Papa João Paulo II.

Padre Pio, falecido em 1968, teria sido um estigmatizado.

Sem dúvida, o que tornou Padre Pio mais famoso foi o fenômeno dos estigmas nas mãos, pés, flancos e ombros, dolorosas mas invisíveis entre 1911 e 1918. E depois visível por 50 anos, de setembro de 1918 a setembro de 1968. Seu sangue aparentemente tinha perfume de flores, um aroma associado à santidade. A notícia de que Padre Pio tinha os estigmas se espalhou rapidamente. Rapidamente, milhares de pessoas foram à San Giovanni Rotondo para vê-lo, beijar-lhe as mãos, confessar-se e assistir às suas missas. Ele foi o primeiro padre estigmatizado.

Dada a fama do padre, a Santa Sé enviou para investigar uma celebridade da psicologia, o padre Agostino Gemelli, franciscano, doutor em medicina, fundador da Universidade Católica de Milão e amigo do Papa Pio 11. Quando o Padre Gemelli saiu de San Giovanni, sem sequer ter visto os estigmas, publicou um artigo no qual afirmava que eram de origem neurótica.  O Santo Ofício aproveitou a opinião deste psicólogo e publicou um decreto que declarava que “o caráter sobrenatural dos acontecimentos não está confirmado”.

O Bispo de Volterra, Raffaello C. Rossi, carmelita, foi formalmente comissionado em 11 de junho de 1921 pelo Santo Ofício para realizar uma investigação canônica sobre Padre Pio. Rossi iniciou a Visita Apostólica no dia 14 de junho em San Giovanni Rotondo com o interrogatório de testemunhas, dois sacerdotes diocesanos e sete frades. Após oito dias de investigação, finalmente concluiu um relatório benevolente, que enviou ao Santo Ofício em 4 de outubro de 1921, festa de São Francisco de Assis. Neste relatório ele conclui:

O que me parece que se pode afirmar hoje, recapitulando, é que os estigmas em questão e examinados não são obra do diabo nem um engano grosseiro, uma fraude, a arte de uma pessoa maliciosa ou má. E isto, se não me engano, pode ser suficiente hoje para tranquilizar a Suprema Autoridade Eclesiástica no caso do Padre Pio de Pietrelcina. Gostaria de acrescentar que os seus “estigmas” também não me parecem ser um produto mórbido de sugestão externa.

Algum tempo antes de morrer – sob controle médico que o impedia de ter privacidade – os estigmas que sofreu nos últimos 50 anos sumiram. Quando as luvas foram retiradas, praticamente não havia mais marcas.

Giorgio Bongiovani

Giorgio Bongiovanni é um italiano, que mora em Porto Santo Elpídio, Itália. Em 5 de abril de 1989, Bongiovanni saía de seu trabalho, em uma sapataria, quando apareceu diante dele uma senhora resplandecente que o olhou profundamente e disse:

Giorgio, meu filho, sou Maria. Tu és minha última esperança. Escuta-me, tenho que confiar-lhe uma missão. Prepara-te e tenha fé”.

Giorgio Bongiovanni é um dos estigmatizados mais famosos.

Logo em seguida, a estranha figura desapareceu. Após isso, quase diariamente, aquela que se apresentou como Nossa Senhora aparecia à Bongiovanni, geralmente acompanhada de Jesus.

Ela o instruí-a e dizia que algo muito grave aconteceria no mundo, mas ainda não dizia o que seria. Finalmente, em agosto de 1989, a Virgem disse à Bongiovanni:

Vá até Fátima, em Portugal, porque ali você deverá se encontrar com Lúcia e convidá-la, em meu nome, a divulgar a terceira mensagem de Fátima, que eu dei a ela em 1917”.

Ele apresenta o que seria o Terceiro Segredo de Fátima. Mas algo diferente do que foi apresentado pela Igreja Católica.

Bongiovanni obedeceu e foi ao Mosteiro de Coimbra, Portugal, na esperança de falar com Lúcia, a vidente das aparições de Fátima, em 1917. Embora ele tenha conseguido falar com ela, a vidente recusou-se a disseminar a mensagem, alegando que as autoridades religiosas não permitiriam.

Após isso, Bongiovanni foi até o Santuário, que marca o local da aparição de 1917 e ali, após ver novamente a virgem, recebeu os estigmas. Dois raios de luz saíram do peito da virgem e atingiram as palmas das mãos, de onde jorrou sangue. O ferimento surgiu inicialmente na palma das mãos, mas foi lentamente, ao longo de uma semana se expandindo, se aprofundando até chegar à parte superior, do outro lado. Dois anos depois ele recebeu as chagas nos pés, e mais tarde no peito da testa.

Nos anos seguintes, ele passou por sangramentos periódicos em seus ferimentos e teve várias visões da virgem Maria e de Jesus.

Teresa Neumann

Teresa Neumann nasceu em Konnersreuth, Baviera, Alemanha, em 8 de abril de 1898.

Depois de um acidente, acontecido em 10 de março de 1918, ela ficou cega e com os membros inferiores paralisados.

Em 29 de abril de 1923, dia da beatificação de Santa Teresa de Lisieux, ea milagrosamente voltou à enxergar.

Em 17 de maio de 1925 ela recuperou o movimento das pernas, no dia da santificação de Santa Teresa de Lisieux.

Na noite de 1º de abril de 1925, após ser curada de apendicite, ela recebeu seus estigmas. Nos meses seguintes, Teresa deixou de ter fome e sede e permaneceu em jejum por 36 anos.

Teresa Newman é outra estigmatizada famosa.

Os estigmas continuam a ocorrer pelo mundo e, espantosamente, até mesmo entre pessoas que nunca ouviram falar de Jesus Cristo. Talvez essa seja uma prova de que trata-sede uma doença e não de um evento espiritual, ou Deus estaria deixando marcas em todos os seres humanos por algum motivo? Não podemos saber. Mas este fenômeno que, de tão intrigante, já levou à criação de um filme, continua a arrastar fiéis, curiosos, mobilizar cientistas e autoridades religiosas, além de causar polêmicas.

Confira nosso documentário no Canal Fenomenum:

 

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