
As Estranhas Marcas de Moron de La Frontera
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Neste artigo:
Introdução
Em 15 de maio de 1970, a imprensa espanhola começou a noticiar, ainda que de forma tímida, a descoberta de misteriosas pegadas em uma propriedade rural próxima à cidade de Morón de la Frontera, na província de Sevilha. No dia seguinte, o caso explodiu na mídia nacional — e até jornais estrangeiros citaram o episódio. Durante quase duas semanas, o público acompanhou o desenrolar dos fatos, até que, de repente, as notícias cessaram, embora nenhuma explicação satisfatória tivesse sido apresentada. Mais um possível caso ufológico parecia destinado ao esquecimento.
A forma como a imprensa e os órgãos oficiais lidaram com o caso foi especialmente frustrante. Em um ano pobre em relatos de avistamentos, não só na Península Ibérica, mas no mundo inteiro, dois episódios ganharam destaque por suas características peculiares: o incidente no Hospital Cowichan, no Canadá, em 1º de janeiro, e o ocorrido em Morón de la Frontera. O caso canadense foi marcante porque os supostos ocupantes do OVNI, ao que tudo indica, buscavam ser vistos claramente pela testemunha. Já o evento em Morón tornou-se singular devido às marcas deixadas no solo — evidências físicas que chamaram atenção de pesquisadores, curiosos e autoridades.
A Madrugada da Tempestade
Era madrugada de segunda-feira, 11 de maio. Uma tempestade intensa, acompanhada de fortes descargas elétricas, avançava sobre a região. A cerca de 20 quilômetros dali, funcionava uma base aérea norte-americana — um detalhe que mais tarde seria lembrado, mas prontamente descartado pelas autoridades.

O local onde o caso ocorreu.
Por volta das três da manhã, no auge da tempestade, a família Gordillo, moradora da “Casilla Gordillo”, próxima ao “Rancho del Maestro Oliva”, foi acordada por estrondos particularmente fortes. Ao mesmo tempo, um agricultor chamado Juan — que vivia sozinho numa pequena casa a 600 metros do local — ouviu um barulho estranho. “Pareceu-me por muito tempo um trovão”, comentou mais tarde. Não deu importância… até saber das pegadas.
A Descoberta das Marcas
Na manhã seguinte, entre 8h e 9h, Manuel Gordillo, proprietário do “Rancho Maestro Oliva”, deslocou-se à sua plantação de girassóis. Ao chegar, viu algo completamente fora do comum: duas áreas irregulares, cada uma com cerca de 100 m², onde o solo estava queimado e repleto de pequenos buracos. As plantas haviam sido destruídas. Impressionado, relatou o fato imediatamente à Guarda Civil.
Gordillo, homem simples e habituado a lidar com a terra, deu respostas contraditórias à imprensa. Por um lado, afirmava que os buracos não eram nada — “como o ciscar de uma galinha”. Por outro, achou necessário reportá-los às autoridades militares. Repetia que tudo fora obra de um raio, apesar de:
• as marcas não estarem nas áreas mais altas do terreno, onde um raio naturalmente cairia;
• haver árvores altas e linhas elétrica e telefônica nas proximidades, também intactas;
• a área afetada apresentar características incompatíveis com descargas atmosféricas.
Além disso, sentindo-se pressionado por visitantes, curiosos e jornalistas que pisoteavam sua plantação, Gordillo acabou arando parte da área afetada, destruindo evidências.

Um dos girassóis afetados.
A Geometria das Pegadas
A investigação conduzida por Juan Salas revelou um arranjo surpreendente das marcas:
• Dois círculos, cada um com raio de 50 cm, separados por 25 metros.
• Em cada círculo, dois furos centrais de 6 cm de diâmetro, alinhados ao longo de um eixo orientado a 60° Norte.
• Ao redor, cinco pares de furos periféricos, simetricamente distribuídos — cada furo medindo 4,5 cm de diâmetro.
• Os furos penetravam o solo em ângulos precisos: 25° os periféricos e 70° os centrais.
• Em profundidade, alguns deixavam trilhas sinuosas, como se o material fosse flexível, penetrando o solo a partir de trajetórias curvas.

Uma das marcas centrais.
Dentro dos círculos, o solo apresentava características intrigantes:
• achatado e endurecido, como se tivesse sido pressionado com enorme força;
• rachado em flocos, sugerindo calor súbito ou efeito de sucção;
• paredes internas com coloração esbranquiçada e textura áspera, como se tivessem sido vibradas por um instrumento mecânico.
As plantas dentro das áreas circulares simplesmente desapareceram — nem raízes restaram.
O Enigma da Vegetação Morta
Nas áreas periféricas, os girassóis estavam queimados, secos, achatados. O processo era brutal, mas seletivo:
• caules suprimidos, rachados longitudinalmente;
• seiva escorrendo em vários pontos;
• plantas que morriam em questão de horas;
• outras que sobreviveram, mas com deformações e queda do caule no estágio de frutificação;
• cardos próximos retorcidos, com coloração branco-avermelhada.
Interessante notar que:
• as flores dos girassóis estavam intactas — um fenômeno difícil de conciliar com efeitos climáticos ou químicos conhecidos;
• alguns dias depois, novas manchas começaram a aparecer, em áreas irregulares e sem simetria, ampliando o mistério.

Croquis detalhando as marcas dispostas no terreno.
Um fato curioso: ao manipular plantas afetadas, membros da família Salas sentiram formigamento nas mãos e nos lábios, um efeito que desapareceu após 24 horas. Possível radiação? Talvez — mas, se houve, foi de curta duração.
Estima-se que a área total afetada tenha atingido cerca de 5.000 m².
As Conclusões das Autoridades Agrícolas
Análises foram conduzidas pelo Departamento Agrícola de Sevilha. O engenheiro-chefe, Juan Pomares, afirmou categoricamente:
• não se tratava de doença agrícola;
• os danos haviam sido causados por um agente externo, abrupto e localizado;
• as plantas sofreram ação de calor intenso, que afetou caules, mas não flores;
• não era contaminação trazida pela chuva;
• não havia motivo para novas investigações, já que o problema não se expandiu após 11 de maio.
Em síntese:
1. As plantas não apresentavam doenças próprias da agricultura.
2. O dano ocorreu somente no dia 11.
3. Não era um fenômeno agrícola comum.
4. Não havia justificativa para aprofundar as investigações.

Croqui de uma das marcas
Testemunhas e Visitas ao Local
Relatos indicavam que um motociclista e um caminhoneiro presenciaram um clarão cruzando a estrada no momento do evento, mas nunca foram localizados.
O local foi inspecionado por:
• jornalistas, curiosos e moradores;
• ufólogos com detectores de radiação (sem resultados);
• agrônomos e engenheiros de Sevilha e Madri;
• meteorologistas, que descartaram raios;
• militares da Guarda Civil, Exército espanhol, Força Aérea e Marinha dos EUA.
A Base Aérea de Morón negou qualquer queda de equipamento, emergência ou atividade anômala.
O coronel José Rodríguez y Rodríguez classificou o caso como “piada” ou “invenção de um visionário”, encerrando formalmente a investigação militar.

Corte em profundidade de uma das marcas.
O Mistério Permanece
O padrão geométrico das marcas levantou hipóteses: dois objetos sincronizados? Um único aparato que se deslocou 25 metros? Ou um objeto alongado com dois pontos de apoio? A última possibilidade pareceu mais razoável aos pesquisadores — mas sem testemunhas identificadas, nada pôde ser comprovado.
Casos semelhantes ocorreram em:
• Marliens, França (1967)
• Valensole, França (1965)
• Pembroke, Canadá (1969)
• Airy, Carolina do Norte (1965)
• Sant Faust de Capcentelles, Barcelona (maio de 1970s), onde videiras foram queimadas seletivamente.
Conclusão
As Pegadas de Morón de la Frontera constituem um dos casos físicos mais intrigantes da ufologia europeia. Apesar da cobertura inicial e das análises técnicas, o tema foi rapidamente abafado, e a explicação oficial — raios — não resiste a uma leitura atenta.
As marcas geométricas, a destruição seletiva da vegetação, os efeitos térmicos bruscos, os relatos não confirmados de luzes e a ausência de explicações meteorológicas, agrícolas ou militares coerentes fazem deste um dos episódios mais enigmáticos da Espanha.
Um caso que, como tantos outros na história da ufologia, foi encerrado sem respostas — permanecendo, até hoje, como um mistério aberto
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