Avistamento ufológico provocou tensão na Nova Zelândia

Avistamento ufológico provocou tensão na Nova Zelândia

Em 13 de junho de 1959, ocorreu um importante caso de avistamento de disco voador e seus tripulantes, na zona rural de Blenheim, uma pequena cidade, situada na ilha Sul da Nova Zelândia. Um fato, que gerou apreensão entre a população e entre os militares do país.


Neste artigo:


Introdução

A protagonista do caso, Eileen Moreland, na época com 42 anos, saiu para ordenhar suas vacas, por volta de 5h30 da madrugada.

Já na metade do caminho, ela viu um estranho brilho verde em  meio à nuvens baixas.

O brilho verde rompeu a cobertura de nuvens, transformando-se em duas luzes, ‘como olhos ou grandes lâmpadas‘. Tudo estava banhado por uma luz assustadora que sobrepujou sua tocha.

Era uma cor horrível”, ela contou mais tarde a um jornalista.

Meu primeiro pensamento foi ‘eu não deveria estar aqui’ e mergulhei em direção às árvores.

De seu esconderijo entre um cinturão de pinheiros, ela olhou para cima e viu a coisa mais linda que ela já tinha visto. Uma nave circular com cerca de nove metros de largura e uma cabine de vidro curvada desceu silenciosamente em sua direção.

O local onde o caso ocorreu. Fotografia da época do caso.

Dois raios de luz verde irradiavam de sua parte inferior. Duas fileiras de pequenos jatos alaranjados disparavam para fora como raios da borda do disco.

A nave parou de descer repentinamente e começou a pairar a cerca de quatro metros e meio do solo.

Os jatos desapareceram e então reapareceram apontando para os lados em duas fileiras. A fileira superior girava no sentido horário muito rápido, enquanto a fileira inferior se movia na direção oposta, deixando um rastro de chamas laranja.

O ar naquela manhã fria de julho ficou quente e ela notou um zumbido baixo. Ela estava “assustada”, mas curiosa e encantada pelas luzes. Ela ficou tão impressionada que ela ainda conseguia lembrar em detalhes décadas depois.

Ficou simplesmente impresso indelevelmente na minha mente. Eu simplesmente assimilei. Eu vi tudo naqueles poucos minutos.”

Dentro do cockpit de vidro curvo, ela podia ver duas figuras usando trajes prateados brilhantes e capacetes. Os trajes eram justos como uma roupa molhada e pareciam feitos de papel alumínio.

Representação feita pelos militares, baseado no relato da testemunha, a senhora Moreland.

Os homens estavam sentados um na frente do outro. Ambos estavam de costas para ela. Uma luz bruxuleante brilhou abaixo deles, refletindo em seus trajes. Então um dos homens de traje prateado emergiu da nave e caminhou em sua direção. Ela podia ver seu rosto através de uma pequena viseira no capacete.

Ele usava um cinto largo com um disco preto no centro. Ele tinha um arnês no peito que segurava um pequeno mostrador e uma série de tubos saindo do capacete. Sua mão esquerda aparentemente estava faltando e estava envolta em uma bainha escura.

Ao avistá-la, ele gritou com ela em uma língua estrangeira que ela não reconheceu. Em seguda, ele recuou de volta para a nave e voltou a bordo.

Depois de alguns momentos, os jatos começaram a disparar da nave novamente. Ela se inclinou em um ângulo e então disparou para o céu em grande velocidade. Conforme recuava para trás das nuvens, fez um gemido suave e agudo.

Representação do tripulante do disco voador.

Após o desaparecimento do objeto ela viu-se sozinha. Ela estava aliviada que o poder de atração das luzes verdes tinha desaparecido, mas não sabia o que fazer em seguida. Então, resolveu terminar de ordenhar suas vacas.

“Enquanto eu ordenhava, fiquei pensando e me senti um pouco abalada e confusa, e não sabia muito bem o que fazer a respeito.”

Ela voltou para casa cerca de 80 minutos depois, e acordou seu marido Frederick para contar a ele o que tinha visto. Ela temeu que ele risse dela, mas ele a levou a sério e perguntou se ela tinha chamado a polícia.

Ela ligou para a polícia às 7 da manhã.

“Você pode pensar que sou louca mas eu vi um disco voador por volta das 5h40 desta manhã.”

O comandante de Woodbourne, Arthur Gainsford, visitou a fazenda e entrevistou Moreland mais tarde naquele dia.

O comandante da base, Arthur Gainsford.

Gainsford achou Moreland calma e racional. A polícia local disse a ele que ela era ”uma pessoa racional e estável, pelo conhecimento pessoal que tinham dela quando ela os ajudou em outro assunto.”

A investigação teve início e o policial encontrou outra testemunha. Um fazendeiro local chamado Roy Holdaway, que morava a cerca de sete quilômetros da casa de Moreland, viu uma luz brilhante no céu cerca de 30 minutos antes do avistamento de Moreland.

A alegação atraiu publicidade. Moreland deu uma longa entrevista ao Nelson Evening Mail sobre seu avistamento, sem falar sobre os tripulantes do disco voador. Em 22 de julho, o jornal publicou a história e o fato chegou ao conhecimento dos militares da Real Força Aérea da Nova Zelândia.

A Força Aérea levou a alegação de Moreland a sério o suficiente para nomear o Tenente Charles Milford Jennings para investigar. O militar de 34 anos estava na Força Aérea há 16 anos e era um oficial condecorado. Ele foi premiado com uma Medalha do Império Britânico em 1953 por trabalhar 72 horas seguidas consertando aviões durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi para a Inglaterra para receber pessoalmente sua honra da Rainha.

Jennings acreditava que o fenômeno dos OVNIs poderia ter explicações convencionais, mas teve dificuldades em explicar o caso da senhora Moreland. Segundo Gainsford:

“Jennings passou um tempo considerável em particular neste assunto. Ele está preparado para aparecer a qualquer hora do dia ou da noite para investigar pessoalmente mais incidentes.”

Nos anos 50, o mundo era permeado pelas ansiedades da Guerra Fria, com suas paranoias, medos de ataque nuclear, e apreensão com novas tecnologias. E isso se refletiu nas investigações do caso.

Em 1954, o diretor do Observatório Carter de Wellington, Ivan Thomsen, resumiu claramente a maneira como esses medos afetavam o pensamento sobre discos voadores.

”Em um mundo assustado por bombas atômicas, impressionado com o desempenho fenomenal de aeronaves, acostumado a pensamentos de viagens espaciais e vivendo em parte em uma atmosfera de histórias em quadrinhos sem sentido, o suposto fenômeno dos ‘discos voadores’ desenvolveu uma forma de histeria em massa.”

Jennings entrevistou Moreland pela primeira vez dez dias após o avistamento. Ele levou consigo uma máquina osciladora de áudio, que podia gerar diferentes tons musicais, para descobrir o tom exato do motor da aeronave.

Tenente Charles Milford Jennings, que investigou o caso.

Seu resumo da entrevista está repleto de detalhes sobre o tamanho e o formato da nave. O relatório observa que a nave se inclinou em um ângulo de 15 graus antes de disparar e que zumbia a uma frequência de 250 Hertz.

Moreland não mencionou o homem de uma mão em sua entrevista e Jennings sentiu que ela estava escondendo algo.

“A Sra. Moreland não me deu nenhuma impressão de ser excitável por natureza. Ela foi prestativa e, acredito, honestamente convencida de que ela de fato viu uma nave. ‘A declaração dela se sustenta em todos os aspectos.”

Jennings procurou por possíveis novas tecnologias semelhantes ao que Moreland havia descrito. Ele manteve um recorte de jornal em seu arquivo sobre dois “discos voadores” sendo desenvolvidos nos EUA e na Grã-Bretanha. Mas os “discos voadores” eram, na verdade, protótipos iniciais do hovercraft e só eram capazes de pairar muito ruidosamente a alguns metros do chão.

Em 1955, várias pessoas relataram ter visto estranhos “lápis voadores” sobre a Costa Oeste da Ilha Sul. Descobriu-se que eram os novos jatos Vampire da Força Aérea, que sobrevoaram a região repetidas vezes.

Moreland comentou sobre os jatos Vampire em sua entrevista com Jennings. Os jatos, introduzidos pela primeira vez na Nova Zelândia em 1951, às vezes usavam a base aérea de Woodbourne, próximo ao local onde o caso ocorreu, mas o relato do movimento do objeto e a velocidade atingida eliminaram a possibilidade de confusão com um jato militar.

Determinado a se aprofundar a investigação, Jennings levou um contador Geiger ao paddock de Moreland às 3 da manhã e esperou lá até o amanhecer para ver se conseguia detectar alguma coisa.

Ele estava claramente preocupado com a perspectiva de que Moreland pudesse ter sido exposto à radiação da nave. Especialmente porque Moreland havia desenvolvido sintomas físicos após o avistamento.

As costas das mãos dela estavam doloridas. Bolhas surgiam como espinhas nas mãos, lábio inferior e costas. Se ela as coçasse, resíduos aquosos saíam. Então surgiam outros mais.

Ela tinha um inchaço doloroso sob o olho esquerdo e uma pequena mancha, como uma pinta marrom, apareceu em sua testa. Ela não queria consultar um médico civil e só veria o médico de Woodbourne se o assunto fosse “mantido altamente confidencial”. As bolhas e a pinta desapareceram depois de seis meses.

Em 7 de agosto, O jornal Marlborough Express publicou duas reportagens sobre moradores locais que viram uma luz verde no céu, por volta das 18h50, do dia 7 de agosto. Jennings localizou três das testemunhas e as entrevistou. Uma mulher lhe disse que estava procurando seu jornal no gramado da frente no escuro.

O fato foi divulgado nos jornais da região.

Somente depois da publicação desta reportagem, durante uma nova conversa, é que a senhora Moreland contou ao investigador da Força Aérea sobre ter visto o tripulante do disco voador que gritou para ela em um idioma desconhecido que ela supõem ser russo.

Outro detalhe que intrigou Jennings envolve o traje metálico usado pelo tripulante. Na mesma época, a revista Life fez uma matéria de capa com o piloto de testes dos Estados Unidos, Scott Crossfield. O traje de voo era semelhante ao utilizado pelo tripulante descrito por Moreland. Os novos detalhes foram levados a sério. A classificação de segurança do avistamento foi elevada de confidencial para secreta.

A novas declarações de Moreland, juntamente com desenhos recolhidos, foram enviadas ao quartel-general da Força Aérea em 20 de agosto. Gainsford garantiu a objetividade de Jennings, escrevendo que ele “não tinha interesse prévio em assuntos dessa natureza e começou sua tarefa com a mente aberta”.

A resposta do comandante da ala GS Martin foi contundente encerrando a investigação.

“A única conclusão possível a ser tirada das evidências é que a Sra. Moreland estava tendo alucinações, ou que sua história é um exagero imaginativo de uma experiência subjetiva normal, e que de fato não houve tal visitação por um objeto como descrito no relatório.”

“Os outros avistamentos em agosto não têm relação aparente com o relatório de Moreland, mas se encaixam perfeitamente com uma descrição de Vênus brilhando através de uma camada difusa de nuvens altas ou cristais de gelo, e vista através de uma camada de nuvens quebradas mais baixas, estando esta última sob a influência de uma corrente de ar do noroeste.”

As alegações de Moreland criaram uma onda de fofocas na pequena cidade de Blenheim. Havia rumores de que o solo havia sido queimado pelo objeto e que a área teria sido isolada pela polícia e pela Força Aérea. Em 28 de julho, o Marlborough Express publicou um artigo dissipando esses rumores.

Entretanto, Moreland relatou mais tarde, à repórteres, que uma fileira de pessegueiros no paddock morreu. Quando as árvores foram cortadas para lenha, os núcleos dos galhos eram “cinzas pretas – como fuligem”. Os galhos superiores de uma nogueira no paddock também morreram.

A senhora Moreland, por ocasião de seu casamento, anos antes do incidente.

Em março de 1960, a senhora Moreland vivenciou uma nova experiência ufológica. Agora, com um simples avistamento de luzes esverdeadas no céu. Ela relatou o fato à Força Aérea, pedindo sigilo sobre o caso, pois não queria mais ganhar publicidade com incidentes deste tipo.

Ao longo dos anos, a Força Aérea da Nova Zelândia manteve o assunto em sigilo máximo. Em 1969, o pesquisador Herbert Taylor solicitou os arquivos relacionados ao caso, mas seu pedido foi recusado pelas autoridades. Nos anos seguintes, os militares chegaram a negar sua existência, afirmando que não existiam documentos sobre o caso. Nas poucas vezes em que se manifestou sobre o caso, a Força Aérea e o Secretário de Defesa injustamente lançaram dúvidas sobre a credibilidade de Moreland e descreveram Jennings como um investigador tendencioso.

Em 1979, um jornalista solicitou oficialmente o relatório Moreland. O pedido foi recusado sob a alegação de que Moreland recebeu uma garantia de confidencialidade sobre o avistamento. Entretanto, mais tarde, isso se mostrou uma mentira, pois a garantia de confidencialidade não abrangia o avistamento de 1959.

Outra solicitação de acesso ocorreu em 1983, sendo novamente recusada pois a Força Aérea não deveria se envolver com os excêntricos entusiastas dos OVNIs.

Somente anos mais tarde que documentos ufológicos da Nova Zelândia foram oficialmente liberados. Entre eles, haviam relatórios oficiais do caso Moreland.

 

 

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