Os arquivos secretos da Força Aérea Brasileira (FAB) cobrindo os anos 90 e 2000, recentemente liberados, indicam que a unidade do Cindacta em Curitiba teve acesso a várias ocorrências no período, investigando algumas e apenas registrando outras.
Por Jackson Luiz Camargo, em artigo para a Revista UFO, edição 174, de fevereiro de 2011
Em agosto e setembro de 2010, o Governo Brasileiro liberou mais um novo lote de documentos sobre atividades ufológicas em nosso território, como conseqüência direta da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, implantada pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) em 2004, através da Revista UFO [Veja edições UFO 098, 099 e 111]. Desta vez, tornaram-se públicos os arquivos referentes a avistamentos ocorridos na década de 90 e nos anos 2000, que foram relatados à Força Aérea Brasileira (FAB), e então mantidos ocultos pelo órgão. Entre estes relatórios há inúmeros registros de casos na Região Sul do país remetidos ao 2º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), em Curitiba. Alguns destes episódios têm especial importância, principalmente pelas testemunhas envolvidas e por terem ocorrido em áreas de incidência conhecidas dos ufólogos.
Um evento impressionante ocorreu na noite de 23 de abril de 1991, envolvendo uma aeronave que decolou de Curitiba com seis pessoas a bordo. Quando o avião encontrava-se a sudoeste de Sorocaba, os pilotos observaram um objeto voador luminoso com cores vermelha, azul, branca e amarela acompanhando-o do lado esquerdo e a uma distância estimada entre 50 e 100 km. O UFO, que foi testemunhado por todos a bordo, seguiu a aeronave por aproximadamente 25 minutos. Aparentemente houve algum tipo de interferência do objeto voador não identificado com o aparelho, pois em dado momento sua altitude variou sem que qualquer instrumento tenha sido acionado pelos pilotos. No documento, agora liberado oficialmente pelo Governo, não consta se a variação foi detectada apenas pelos equipamentos de bordo, que talvez tenham informado incorretamente a altitude devido à interferência do UFO, ou se ela foi sentida pelos pilotos. O relatório deste caso, composto por apenas duas páginas, evidencia muito bem o que se observa em quase todos os documentos recém liberados pela Aeronáutica: a superficialidade das informações.
Diretriz específica registra UFOs
Em lotes disponibilizados anteriormente, referentes às décadas de 70 e 80, por exemplo, havia a transcrição completa das comunicações trocadas entre aeronaves perseguidas por UFOs e os centros de controle envolvidos em cada episódio. No início da década de 90 a situação mudou com a implantação das normas definidas pela Diretriz Específica 04/89, da Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo (DEPV). Este documento determina os procedimentos a serem adotados em caso de avistamento ou registro de artefatos voadores não identificados em Território Brasileiro. Entre os mais importantes estão a determinação da gravação em vídeo da detecção no radar, as anotações da identidade da aeronave, da freqüência utilizada nas comunicações e o preenchimento de um questionário específico e padronizado com detalhes da ocorrência [Veja edição UFO 068].
O formulário foi, anos depois, substituído por outro modelo, mais detalhado, intitulado como Ocorrência de Tráfego Hotel, que vigora até hoje. Mas, independente do relatório utilizado, sempre há a ausência de informações importantes na descrição dos fatos observados sobre nosso espaço aéreo, tais como transcrições completas das comunicações entre pilotos e controladores de vôo, vídeos ou imagens das telas de radar em cada evento, desenhos e croquis descrevendo cada fato, e mesmo análises posteriores — eventualmente levadas a cabo pela Força Aérea Brasileira (FAB). No caso de 23 de abril de 1991, por exemplo, não temos informações sobre a detecção do UFO por radar e nem a transcrição das comunicações, que seriam fundamentais na investigação do incidente.
Outro episódio interessante, e que agora vêm a público como resultado da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, ocorreu na noite de 14 de janeiro de 1994, ao sul de Curitiba. Na ocasião, mais de 20 pessoas observaram por mais de uma hora um objeto voador luminoso, que foi filmado por uma das testemunhas. O documento recém liberado pela Aeronáutica não informa o destino do filme obtido ou mesmo se chegou a ser analisado pelos militares. Entre as testemunhas estava um professor e chefe de gabinete da Prefeitura Municipal de Nova Terra (PR), na época do caso.
Objetos luminosos sobre Curitiba
Outro fato constante nos recentes documentos e digno de nota aconteceu na noite de 16 de março de 1994, também em Curitiba. Oito pessoas observaram com o auxílio de um binóculo e uma luneta dois objetos luminosos semelhantes, posicionados em pontos distintos da cidade. O primeiro pairou sobre a região do Aeroporto Internacional Afonso Pena e, o outro, nas proximidades do Aeroporto do Bacacheri, o aeródromo secundário da capital paranaense — justamente onde está a sede do Cindacta II, que faz todo o controle de vôos e a defesa do espaço aéreo da Região Sul, integrado ao sistema nacional de monitoração. Os objetos eram luminosos e de cor prateada, tendo três pontos brilhantes vermelhos ao redor. Em dado momento, segundo os arquivos liberados, um avião de grande porte desviou-se momentaneamente de sua rota, aproximando-se do objeto. Assim, a testemunha do fato pôde constatar que o UFO tinha tamanho maior que o do avião.
Um aspecto que chama a atenção na nova documentação agora disponibilizada pelos militares diz respeito à ausência de qualquer menção, neles, quanto à realização de buscas visuais por objetos voadores não identificados, que se esperaria dos militares do Cindacta II — com o fenômeno acontecendo praticamente acima de suas cabeças, eles se limitaram a apenas verificar no radar se havia “algo estranho” sendo registrado. Não procuraram documentar o fato e aparentemente não solicitaram o vídeo que teria sido feito pela testemunha.
Em 13 de janeiro de 1998, também em Curitiba, ocorreu um novo fato relevante envolvendo inúmeros observadores, agora espalhados pela cidade. Há nos documentos referentes a este episódio relatórios de duas testemunhas distintas descrevendo o mesmo fenômeno. Uma delas estava no bairro Cabral quando observou, por aproximadamente 20 minutos, um artefato voador esférico e luminoso, de cor vermelha, sobrevoando a região norte da cidade, incluindo a sede do Cindacta II, no citado bairro Bacacheri. Já nas imediações do bairro Alto da XV, uma jornalista observou o mesmo acontecimento por aproximadamente 50 minutos. Ela também descreveu o objeto como sendo esférico, luminoso e vermelho. A testemunha ligou para o Comando de Operações Militares (COE), de Curitiba, questionando se o aparelho desconhecido havia sido captado por radar. De acordo com o documento liberado pela Aeronáutica, nenhuma informação foi passada à jornalista, que apenas recebeu a garantia de que a resposta para tal questionamento seria enviada para seu endereço.
Áreas de incidência registradas
Alguns casos investigados pelos militares e disponíveis na documentação recém liberada têm especial importância para os ufólogos brasileiros, em especial os paranaenses, pois ocorreram dentro de áreas de elevada incidência ufológica já mapeadas pelos pesquisadores. Duas delas estão próximas da residência de dois abduzidos, também na região metropolitana de Curitiba. Esses casos, agora finalmente conhecidos, somam-se aos vários já ocorridos na cidade, podendo ou não ter relação direta com a história pessoal dos referidos abduzidos. Um deles é Walter Correa, que teve uma experiência direta com ETs ao lado do quartel do 5º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, no bairro Boqueirão da capital paranaense.
No começo de uma noite de domingo, em julho de 1988, Correa foi levado de sua residência, situada muito próxima ao quartel. Um mês e quinze dias depois a vítima e sua esposa observaram um aparelho que tinha a forma de um charuto, como um avião, mas sem asas, sobrevoar o local. Ele permanecia estático no ar e a alguns metros do chão sobre um terreno baldio, onde mais tarde foi construído o Clube de Oficiais do Exército. Não produzia qualquer espécie de ruído mesmo depois de as testemunhas abaixarem o som da televisão e do rádio, que estavam ligados. O casal permaneceu 20 minutos observando o artefato, que possuía janelas coloridas nas cores laranja e verde. Correa também relatou que o UFO tinha luzes inferiores nas mesmas cores, que piscavam.
No dia seguinte, foi descoberta uma marca circular de capim queimado no local exato onde o objeto havia pairado. O Exército vasculhou toda a região e os militares reviraram a terra, inclusive com o uso de um trator, para apagar as pistas. Em seguida, o órgão cercou a área e um jipe militar que nunca estivera por ali passou a rondar a localidade dia e noite, não permitindo a aproximação de ninguém ao ponto sobrevoado pelo objeto voador não identificado.
Artefato brilhante sobre as casas
Nas pastas agora disponibilizadas pelo Governo, já entregues à Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e mantidas no Arquivo Nacional, em Brasília, embora não existam relatórios do Exército sobre qualquer incidente anômalo na região do quartel do Boqueirão, há um relatório do Cindacta II contendo detalhes de um avistamento ocorrido na noite de 12 de dezembro de 1998, na mesma localidade. Quatro objetos luminosos foram observados durante 15 minutos por seis pessoas nas proximidades de uma instalação militar. Um novo avistamento ocorreu na noite de 01 de julho de 2010, confirmando a região como uma nova área de incidência do Fenômeno UFO. Uma senhora filmou um artefato luminoso evoluindo sobre as casas da região. O Centro de Investigação e Pesquisa Exobiológica (CIPEX), uma das mais antigas entidades de pesquisa ufológica do Paraná, tem dado especial atenção à casuística e investiga cada nova ocorrência.
Nas proximidades da residência de outra abduzida, a senhora “Maria” — cujo nome verdadeiro é omitido a seu pedido —, também há grande incidência ufológica, como agora se constata pela documentação liberada. Maria foi abduzida em Praia de Leste, no litoral paranaense, em uma noite do mês de abril de 1997. Na ocasião, ela e mais 12 pessoas testemunharam a passagem de um objeto voador metálico e luminoso sobre a região. A vítima sentiu-se compelida a sair dali e dirigir-se à praia, em um local mais deserto. Várias pessoas viram o momento em que ela saiu do local, mas estranhamente não reagiram ao fato.
Ao chegar à praia, Maria viu o mesmo artefato, que agora pousava alguns metros à sua frente. Tem a lembrança consciente de ter observado os tripulantes do aparelho dirigindo-se até ela e pedindo que mantivesse a calma, pois nada de mal lhe aconteceria. Após isso, a abduzida perdeu a consciência, só voltando a si na manhã seguinte, deitada na areia ainda no mesmo local. Alguns dias depois, Maria e seus familiares voltaram para sua residência, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba. Menos de um mês depois do episódio, um pequeno objeto voador de cor vermelha deixou marcas no gramado de um vizinho. As duas testemunhas desta nova aparição, na época com 10 e 14 anos de idade, aproximaram-se da marca deixada pelo objeto, que ainda ardia em chamas — pouco tempo depois elas passaram mal, apresentando sinais característicos de intoxicação radioativa ou eletromagnética.
Objeto voador prateado
A pele do rosto de ambos os jovens ficou vermelha, os olhos se incharam e também se tornaram bem avermelhados, e eles passaram a sofrer intensas dores de cabeça, tontura e náuseas. A residência de Maria situa-se nos limites do Clube de Campo Santa Mônica, em Colombo, e foi precisamente neste local que um novo avistamento ocorreu em julho do mesmo ano. Desta vez, um objeto muito luminoso sobrevoou lentamente a área, em sentido norte-sul. O episódio, inclusive, foi noticiado no jornal da instituição meses depois. Com a publicação dos novos documentos da Aeronáutica, um caso inédito de observação ufológica pôde ser descoberto, agora ocorrido no limite sul do referido clube. Neste acontecimento, um objeto voador prateado e de formato oval sobrevoou lentamente a região, em movimentos circulares.
Luzes no centro de Curitiba
Como noticiado pela Revista UFO, o Governo Federal considera encerrado seu processo de abertura ufológica ao ter liberado, de década em década, os documentos que foram produzidos pelos militares da Força Aérea Brasileira (FAB) entre 1950 a 2009 [Veja edição UFO 171]. Os arquivos mais recentes, liberados em 13 de agosto e em 06 de setembro do ano passado, são os referentes aos anos 90 e 2000. Nestas últimas liberações — as mais superficiais entre tudo o que veio a público até então — há alguns casos dignos de nota. É justamente nestes recentes lotes de papéis que são apresentados com espantosa superficialidade relatórios de fatos ocorridos de norte a sul do Brasil, embora existam algumas exceções, como veremos.
Entre os casos mais interessantes registrados há um avistamento ocorrido em 02 de julho de 2000 na Rodovia PR-508, que liga os municípios litorâneos de Alexandra e Matinhos, há menos de 100 km de Curitiba. A testemunha, um médico dermatologista, voltava de um plantão no Hospital de Caiobá, outra cidade praiana mais ao sul, quando observou um enorme objeto voador que, a princípio, permaneceu estático no céu por aproximadamente 20 minutos, desaparecendo em alta velocidade em direção ao mar. Na parte inferior do aparelho havia um foco de luz vermelha e apêndices ou garras, lembrando vagamente um caranguejo, segundo o depoimento do observador.
Não há nos arquivos oficiais, infelizmente, muito mais detalhes sobre este importante acontecimento, que une a alta credibilidade da testemunha com a proximidade do objeto observado. Mas há outros três relatórios sobre dois casos ocorridos no mesmo ano em Curitiba, em um período de duas semanas. O primeiro deu-se no centro da cidade, por volta das 11h00 de 22 de outubro de 2000. Na ocasião, dois militares observaram durante 15 minutos um par de objetos voadores prateados e de formato arredondado deslocando-se rapidamente sobre o município — além deles, um antropólogo presente nas proximidades também viu os estranhos artefatos.
Dias depois, em 05 de novembro de 2000, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu novos relatos sobre a presença de UFOs na capital paranaense. Desta vez, várias pessoas viram dois pequenos objetos voadores luminosos evoluindo por entre prédios do bairro Juvevê. Os aparelhos, que surgiram logo após a meia noite, foram observados por mais de uma hora pelos moradores de um edifício residencial. Em dado momento, um deles mergulhou em vôo rasante, passando tão próximo das testemunhas que foi confundido com as luzes do prédio. Três testemunhas são citadas nos documentos: uma dentista, um médico e professor universitário e uma dona de casa — esta última reclamou aos militares do Cindacta II sobre o descaso da FAB para com estes fatos, avisando que no dia seguinte iria procurar o jornal A Gazeta do Povo para relatar o incidente. Os militares deixaram o protesto registrado na área de observações do documento.
Grande parte dos casos da Região Sul do país registrados pelo Cindacta II após o ano 2000, agora conhecidos graças à abertura ufológica oficial, ocorreu nas imediações do Aeroporto Internacional Afonso Pena ou envolveu aeronaves comerciais em manobras de pouso ou decolagem — o aeroporto tem uma das maiores atividades aéreas do Brasil. Um deles se deu às 19h43 de 23 de abril de 2000, quando um objeto voador esférico e luminoso, de cor laranja, foi observado por mais de 30 minutos, inicialmente deslocando-se na direção da Serra do Mar, situada a leste de Curitiba e do Afonso Pena. Após dado momento, o artefato parou e permaneceu estático no céu por 20 minutos, acelerando abruptamente em seguida, até desaparecer de vista.
Objeto anômalo nos radares
Outro episódio importante aconteceu em 07 de agosto de 2003 e envolveu uma aeronave de cargas da empresa Varig Log, subsidiária da companhia aérea Varig, que seguia rumo a São Paulo. Por volta das 22h20, os pilotos do Boeing viram um objeto luminoso à direita do avião e pediram informações ao centro de controle de Curitiba, que não registrava qualquer objeto anômalo nos radares. Neste caso específico, há sete páginas de transcrição das comunicações entre a aeronave envolvida e o controle de vôo — caso raro de acontecimento tratado com mais profundidade nos documentos ufológicos oficiais dos anos 90 e 2000.
Na noite de 16 de janeiro de 2005 um novo fato ocorreu envolvendo aeronaves comerciais, desta vez a sudoeste de Curitiba. Por volta das 21h00, os pilotos do vôo 8638, da Varig, viram três objetos voadores luminosos e de coloração branca pairando no céu. Durante a observação, que durou cinco minutos, os artefatos piscavam a cada 10 segundos, emitindo intensa luminosidade. Nos documentos oficiais referentes ao episódio, no entanto, mais uma vez não estão disponíveis as transcrições das conversas mantidas entre a torre de controle e a aeronave.
Por fim, uma busca cuidadosa nos referidos arquivos revelaria mais um episódio interessante. O caso, mais recente, ocorreu em 18 de abril de 2009 e envolveu uma aeronave da companhia aérea TAM que passava na região de Paranaguá, no litoral paranaense. Por volta das 13h45, o piloto viu um objeto voador metálico de formato triangular e com aproximadamente três metros de envergadura, que se posicionou 10 a 20 m acima da aeronave, onde permaneceu por alguns segundos. Este certamente deve ter sido um caso bastante interessante, pois o avião, naquela situação, desenvolve uma velocidade entre 800 e 900 km/h, tornando o posicionamento de qualquer artefato a 10 ou 20 m dele, em qualquer direção, uma manobra arriscadíssima e de grande competência para os tripulantes do misterioso triangular voador.
Embora os documentos disponibilizados tenham informações mais limitadas do que esperávamos sobre os relevantes casos ufológicos de conhecimento oficial, são importantes subsídios para a pesquisa ufológica civil. Através deles é possível, pelo menos, buscar as testemunhas de cada caso, que poderão acrescentar maiores detalhes. Aliás, essa é a atribuição do ufólogo: buscar o máximo de informações, por vias diferentes e cruzando os dados, sempre comparando, identificando padrões e discrepâncias. É assim que se mostra seriedade e se obtém respeito para a Ufologia. Com trabalho árduo e com as ferramentas que temos à disposição, além de persistência e paciência, compondo o grande quebra-cabeças que tanto nos intriga.
Referências:
- Documentos Oficiais da Força Aérea Brasileira
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