Coronel da Força Aérea do Uruguai revela: enquanto caças da Força Aérea Brasileira perseguiam UFOs no Brasil, caças da Força Aérea do Uruguai também perseguiam UFOs no país.
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No final do ano de 2011, o ufólogo A. J. Gevaerd esteve em visita à sede do CRIDOVNI, um órgão de pesquisa ufológica oficial do governo do Uruguai, funcionando dentro da Força Aérea daquele país, onde entrevistou o Coronel Ariel Sanchez, responsável pelo departamento. Ao longo da entrevista, muito reveladora, Coronel Sanchez relata que na noite de 19 de maio de 1986, a Força Aérea do Uruguai também envolveu-se em perseguição à OVNIs, com as mesmas características daqueles documentados no Brasil, no mesmo horário. A seguir, transcreveremos na íntegra a entrevista, publicada nas edições 185 e 186, da revista UFO.
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Vocês conduzem no Uruguai investigações ufológicas de maneira única, levantando ocorrências de avistamentos e contatos de forma oficial, nos locais onde ocorrem, com a máxima rapidez e metodologia militar. É o que poderíamos chamar de “os verdadeiros Arquivo-X”. Diga-nos, coronel, como é a vida de um “ufólogo oficial”, alguém que tem a Ufologia como uma missão militar? Levamos uma vida normal, mas com muitas responsabilidades, já que representamos a Força Aérea Uruguaia (FAU) nesse trabalho, ou seja, representamos o Estado Uruguaio no momento de emitir relatórios de nossas descobertas. Na Comissão temos que ter certa postura para podermos nos dirigir às testemunhas ou nos relacionarmos com a imprensa. E, sobretudo, temos que agir com imparcialidade e objetividade no manuseio da questão ufológica, para não estimular nem desestimular investigações, e ainda demonstrar a maior seriedade possível no momento de transmitir a informação obtida em algum trabalho de campo. Não podemos, como representantes da FAU, sair de forma apressada fazendo relatórios conclusivos sobre fatos que ainda exijam mais averiguações. Enfim, devemos ser muito comedidos em nosso trabalho, não para ocultar fatos, mas para bem informar o público — que deve ser respeitado.
Consta que foi o seu pai, também militar, quem iniciou a Cridovni, em 1979. E o senhor, desde quando está envolvido com as atividades da entidade? Foi por exemplo dele? Não exatamente. Estou há 20 anos na entidade, tendo ingressado primeiramente como primeiro-tenente, convidado pelo coronel Carlos Prieto, que era o presidente da Comissão na época. Ele viu que eu tinha perfil adequado para trabalhar nessa atividade, e me deu a atribuição de secretário do órgão. Ou seja, comecei na Comissão cuidando de seus arquivos. Tive que lê-los um por um e aprender muitos casos quase que de memória para depois poder trabalhar nas investigações de fato e passar a responder à imprensa sobre determinados assuntos. Como membro de uma instituição oficial, e ainda mais lidando com um tema com UFOs, deve-se conhecê-lo a fundo e explicar os casos que tínhamos investigado sem erros. Há aproximadamente quatro anos sou presidente da Comissão, que já chega a 32 anos de exercício sem interrupção, desde que foi fundada, em 1979.
O que o senhor diria que é o maior patrimônio da Cridovni, fora, naturalmente, suas investigações e conclusões? Eu diria que o que temos de mais importante são nossos recursos humanos. Sim, o patrimônio humano da entidade, representado por nosso grupo de pesquisadores e analistas, é nosso maior bem, muito além da tecnologia ou dos recursos estruturais ou funcionais de que dispomos para realizar nosso trabalho. O que há de mais importante na Comissão são seus membros, que têm as atribuições técnicas necessárias para oferecer à Força Aérea Uruguaia (FAU), e consequentemente ao Governo Uruguaio, informações consistentes sobre o Fenômeno UFO em nosso país.
Quantos casos ufológicos a Cridovni investigou antes que o senhor ingressasse nela, e quantos depois disso? A Comissão tem atualmente mais de 2.200 registros de avistamentos recebidos durante os últimos 30 anos, dos quais cerca de 1.250 casos foram investigados. Isso quer dizer que nem sempre uma denúncia [Relato] se transforma em uma investigação, pois ele pode ter pouca informação para que se abra um procedimento. Nesses casos, registramos o que aconteceu, o que foi visto, em que data e hora etc, mas havendo poucos dados para trabalhar, paramos aí. No entanto, se uma denúncia é boa, se há testemunhas ou evidências consistentes, então abrimos uma investigação, que se transforma no que chamamos de um “caso ufológico”.
Elevado “nível de estranheza”
Basicamente, o procedimento investigativo da Cridovni é semelhante ao adotado por ufólogos civis? Sim, e é devido à falta de dados mais detalhados sobre determinados acontecimentos que, das 2.200 denúncias que recebemos, pouco mais de 50% foram investigadas. E desse total de 1.250 registros, temos cerca de 40 que são classificados como casos ufológicos — aqueles que ficaram sem resolução, sem uma explicação científica que determinasse a natureza do objeto observado. São eventos não convencionais para os quais nosso conhecimento aeronáutico e espacial não tem explicação até o momento. Eles são bastante estranhos e peculiares, apresentam um alto nível de estranheza e não nos permitem chegar a uma conclusão.
É um número considerável de ocorrências confirmadas, um pouco acima da média mundial devido ao fato de a Cridovni trabalhar com padrões mais rigorosos, não aplicados pela Ufologia Civil. Ao falar em “nível de estranheza” creio que vocês trabalham com a classificação de avistamentos criada pelo astrônomo J. A. Hynek, certo? A de Hynek foi a sistemática de classificação de casos ufológicos que usamos inicialmente em nosso trabalho. Mas ela foi modificada e melhorada para que pudéssemos adaptá-la às nossas necessidades. Como se sabe, segundo Hynek, uma série de fatores pode aumentar o “nível de estranheza” de uma ocorrência, assim como o “nível de credibilidade” das testemunhas. Uma conjunção desses fatores, quando elevados, nos leva a considerar mais uma ocorrência ufológica.
E desses cerca de 40 casos ufológicos de alto nível de estranheza que a Cridovni pesquisou, qual o senhor poderia dizer que mais lhe chamou a atenção? Poderia descrevê-lo? Sim. O episódio mais impactante que tivemos foram perseguições de aviões de combate uruguaios a objetos voadores não identificados, especialmente uma ocorrida em 1986. Duas aeronaves militares tentaram interceptar um UFO que cortava o espaço aéreo do país sem autorização e sem identificação — creio que no mesmo ano e mês em que em seu país se deu a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em 19 de maio de 1986 [Veja edição UFO 170, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
O senhor acredita que tal perseguição se deu no Uruguai como parte do mesmo fenômeno que ocorria no Brasil, quando mais de 20 UFOs esféricos e com cerca de 100 m de diâmetro congestionaram os radares de várias capitais da Região Sudeste, sendo interceptados por sete caças da Força Aérea Brasileira (FAB)? Tenho que verificar a data em nossos documentos, mas é possível. Eram cerca de 20h30 e os dois aviões de combate a que me referi buscaram se aproximar de um objeto que fazia evoluções sobre uma represa. Eles tentaram alcançar o UFO por duas vezes, mas sem êxito porque o objeto fez manobras evasivas a uma velocidade tão alta que nossas aeronaves não tiveram chance de acompanhá-los.
Quais foram os procedimentos adotados na investigação do caso? Registramos todos os detalhes de voo dos aviões, seu tempo de duração, velocidade etc, e interrogamos detalhadamente os pilotos. Eram quatro aviadores em dois aviões modelo FMA IA 58 Pucará, um bimotor turboélice de combate ligeiro, de projeto e construção argentina [O nome significa fortaleza em idioma quéchua e o avião foi muito usado durante a Guerra das Malvinas]. Os Pucarás alcançam uma velocidade de 400 a 500 km/h, mas o UFO desenvolveu uma velocidade muito maior, que estimamos em nossa investigação em cerca de 1.000 km/h, ou seja, o dobro da velocidade dos aviões ou mais.
Além da extrema velocidade do UFO, ele demonstrou alguma outra particularidade que indicasse uma origem extraordinária? Sim, um fato peculiar foi que o objeto mudou de cor ao acelerar, indo do amarelo para o laranja e depois para um tom vermelho. Ele se afastou com uma velocidade vertiginosa, até que se perdeu de vista. Na segunda tentativa de interceptação ocorreu o mesmo processo: quando os Pucarás se aproximavam do UFO, ele disparava a enorme velocidade no sentido oeste. Sem ter o que fazer, os pilotos desistiram da perseguição e retomaram.
O UFO brincava com os pilotos
Por quanto tempo demorou a segunda tentativa de interceptação? Por poucos minutos, pois no momento em que os pilotos observavam o UFO e tentaram alcançá-lo, logo o aparelho se evadiu do local. O curioso é que ele acabava retornando ao mesmo ponto onde estava quando os aviões retomavam sua rota original — era como se estivesse brincando com nossos aviadores. Em dado momento, o objeto começou a circular ao redor da represa. Quando nossos pilotos o viram fazendo isso, não puderam crer e voltaram novamente a tentar a interceptação em uma manobra muito rápida — com uns 30 ou 40 segundos de reação. E o que ocorreu? O objeto, quando percebeu que os aviões estavam se aproximando, disparou a grande velocidade no sentido oeste e mudando outra vez de cor, e não foi mais visto.
Impressionante. E o que se passou aos aviadores após toda essa experiência? Eles cancelaram seu treinamento, pois aquele havia sido um fato muito estressante, e voltaram à Base Aérea de Durazno [A mais importante instalação da Força Aérea Uruguaia (FAU), localizada bem no meio do país], de onde não estavam longe. Ao chegarem, relataram aos oficiais o que havia sucedido. O curioso é que, quando aterrissaram, souberam que em Montevidéu havia ocorrido um apagão em toda a cidade por alguns minutos, devido ao superaquecimento de uma linha de transmissão elétrica que vinha justamente da usina elétrica localizada na represa que aquele UFO estava sobrevoando. Deixe-me acrescentar que a base de Durazno é onde se concentram as operações de treinamento de aviadores, onde há inúmeras aeronaves de vários tipos.
A Cridovni chegou a fazer uma associação dos fatos, ou seja, do sobrevoo da represa com o apagão em Montevidéu? Sim. Cremos que aquele objeto deve ter interagido de alguma maneira com a linha de transmissão, levando ao seu superaquecimento. Essa é uma suposição baseada nos informes técnicos da empresa que proporciona a energia elétrica ao país, a Usinas y Trasmisiones Eléctricas (UTE). Seus técnicos concluíram que houve aquecimento demasiado em alguns transformadores instalados ao longo da linha de transmissão que alimenta a capital, e supomos que pode ter sido resultado daquela ocorrência, pois por alguma razão aquele objeto estava sobre a represa — alguma coisa ele estava fazendo lá, mas não sabemos o quê. Os vigilantes e operários da usina do local também observaram o UFO voando ao redor da represa naquela noite — ou seja, o objeto foi visto da terra e do ar, o que não deixa dúvidas sobre sua materialidade.
O senhor conversou com os pilotos dos Pucarás? Qual era seu estado emocional? Eles estavam bastante surpresos com o que tinham visto. Cheguei a entrevistar pessoalmente os quatro pilotos, fazendo-o separadamente, um a um, como instrui nosso protocolo de investigação ufológica, e todos os relatos coincidiam quanto à descrição do objeto observado e às manobras que efetuou. Os aviadores estavam impactados com o que viveram.
Não é para menos, coronel. Mas eles continuam trabalhando na Força Aérea? Dos quatro aviadores, apenas um segue trabalhando aqui na Força Aérea.
Protocolo de interceptação
O senhor gostaria de estar no lugar deles? Qual teria sido sua reação caso estivesse no comando de um daqueles aviões? Gostaria muito [Risos], mas acho que minha reação também teria sido de total surpresa. Na verdade, não sei que atitude teria tomado naquela hora — nunca se sabe. Os aviões envolvidos na perseguição eram de combate e poderia ter ocorrido algum tipo de hostilidade de qualquer uma das partes, uma reação de cunho bélico — apesar de, nesses casos, o aviador ser obrigado a solicitar ordens superiores para executar algum tipo de ação, como para disparar um canhão ou um foguete. Isso também segue um protocolo no país. Por lei, o Uruguai não pode atirar contra qualquer aeronave, salvo se ordenado pelo presidente ou em situações de combate real. Assim, um piloto pode até pensar em fazer qualquer coisa, mas está sujeito às ordens superiores e ao protocolo de interceptação de um veículo não conhecido.
Compreendo. Além desse caso investigado pela Cridovni, de natureza militar, há algum outro que seja igualmente impactante, porém vivido por testemunhas civis? Poderia descrevê-lo? Sim, trata-se de um episódio ocorrido com a tripulação de um avião da Força Aérea que, em determinada época, era usado para transporte regular de civis pelo continente, sendo também operado por civis. A aeronave fazia o trajeto entre Assunção, no Paraguai, e Montevidéu quando algo ocorreu. O caso se deu e foi investigado em 1979. Quando o avião já estava em território uruguaio, passou a ser acompanhado por uma esfera luminosa bem ao seu lado e durante boa parte do trajeto restante até a capital. Quando a tripulação viu o objeto, consultou a central de controle de tráfego aéreo para verificar se havia algum avião que pudesse estar sem comunicação ali, causando aquele efeito, talvez uma aeronave que não fosse de conhecimento dos controladores. Mas a resposta foi que não havia qualquer avião naquela situação por perto.
O que ocorreu em seguida? Qual foi a reação do piloto da aeronave? Os pilotos, comissários e passageiros começaram então a observar o estranho objeto, mas não estavam nem um pouco contentes por terem um aparelho não identificado voando ao seu lado — e ficaram nervosos principalmente por causa do risco que poderia causar à segurança do voo. Para ver se o objeto reagia a alguma manobra do avião, o piloto acendeu as luzes de aterrissagem, que são bastante potentes. Nesse momento, o UFO — que estava a mais ou menos 700 m de distância — se aproximou do avião e se colocou ao lado de sua asa esquerda. A tripulação se assustou ainda mais e passou a sentir imediatamente um estranho cheiro de material plástico queimado, como de baquelite, com que é feito o painel de controle do avião. Então o piloto apagou as luzes e o artefato se afastou, ou seja, mais uma vez reagiu ao estímulo dado. Podemos dizer que tais aparelhos reagem de alguma maneira à luz.
Quanto tempo durou esse episódio? Houve algum dano aos equipamentos da aeronave? Não, o caso todo foi breve, durou um ou dois minutos. E foi por pouco tempo porque, no momento em que o UFO se aproximou do avião e todos começaram a sentir cheiro de queimado, logo o piloto apagou as luzes de aterrissagem, que era o que atraía o estranho aparelho. Não chegou a haver fumaça na cabine, apenas o cheiro de plástico queimado. Mas foi o suficiente para que surgisse medo de que ocorreria um incêndio no painel de controle. O cheiro acabou saindo pelos dutos de ventilação e o objeto se afastou.
O senhor também entrevistou esse piloto e a tripulação do avião? Não. Naquela época eu não estava na Comissão, pois ingressei nela 10 anos depois, em 1989. Mas, evidentemente, me inteirei dos detalhes. Por exemplo, de como os passageiros haviam visto o objeto e que um deles tinha, inclusive, uma câmera fotográfica. Um dos comissários de bordo avisou o piloto disso, que lhe pediu para instruir o passageiro para que fizesse fotos do UFO. O fato é que, durante certo tempo, todos observavam o objeto, enquanto o comandante tentava controlar a situação para que não houvesse pânico. Quando chegava a Montevidéu e o piloto pedia permissão para aterrissar, o UFO já não estava mais tão perto. O avião desceu lentamente, atravessando uma camada de nuvens, e quando o UFO já podia ser avistado novamente, dentro do processo de pouso, já se encontrava bem distante da aeronave. Em solo, as testemunhas foram entrevistadas e os negativos da câmera fotográfica foram requisitados pelas autoridades.
O que aconteceu com as fotografias? Elas foram analisadas? Sim, foram analisadas e temos o relatório, que foi muito interessante. A conclusão dos especialistas, embora um tanto subjetiva, é de que o que produziu a imagem na foto foi uma fonte luminosa muito forte. Os pilotos também estranharam um objeto como aquele estar a uma altitude tão grande, descartando a possibilidade de que pudessem ser fenômenos luminosos como plasmas ou desprendidos de alguma rede elétrica ou torre de alta tensão, ou até mesmo que fosse algum tipo de plasma meteorológico — pois é muito difícil que pudesse chegar àquela altitude e reagir às manobras de acendimento e apagamento das luzes de aterrissagem, como reagiu. O UFO não flutuava livremente, mas acompanhava uma aeronave a uma determinada velocidade, e esse é um dos casos não convencionais que se encontram abertos nos arquivos da Comissão.
Certamente são dois casos emblemáticos, ambos envolvendo aeronaves e tripulações civis e militares. Mas e os casos que envolveram civis, pessoas desconhecidas que ligaram para vocês e relataram um avistamento? Qual é o acontecimento do gênero que mais o impactou? Há muitos casos dos quais podemos falar, alguns antigos e outros recentes, todos muito interessantes. Por exemplo, o de uma família que estava em uma estância do departamento [Estado] de Tacuarembó, em tarefas domésticas. Já era noite e estavam todos assistindo televisão, antes de irem dormir, quando começaram a notar uma interferência na imagem do aparelho. Logo pensaram que, como havia um pouco de vento, a antena talvez tivesse se movido ou girado. Um dos membros da família saiu para checar e, ao olhar para cima, viu que a antena estava normal, mas que havia um objeto luminoso sobre a casa.
O que ocorreu em seguida? Era de fato o UFO que causava interferência na imagem do aparelho? Aparentemente, sim. Quando todos saíram da casa, viram o artefato se movimentar em direção a um campo e fazer manobras diversas. Era um objeto vermelho que se movia muito rapidamente e à baixa altitude. Em determinado momento, a família ficou amedrontada e voltou para o interior da residência — mas os pais e os filhos homens seguiram observando pela janela o espetáculo. O UFO se aproximou da casa, sempre indo e voltando, até que passou por cima da habitação. Nesse instante, todos ouviram um barulho forte e a antena foi como que arrancada de sua posição e atirada ao chão. Obviamente o objeto se chocou contra ela e a derrubou.
Todos entrincheirados na casa
Talvez a nave estivesse sendo comandada por maus pilotos… Sim, maus pilotos [Risos]. Fora o barulho da antena, não havia outros ruídos e se ouvia apenas um pequeno zumbido que ia e voltava fora de casa. Em dado momento, temeroso de que algo pior ocorresse, o pai pegou uma arma e se prontificou a defender a família. Mas dali a pouco a luz da habitação também foi encerrada — a família tinha luz elétrica a partir de um moinho próximo. Todos ficaram entrincheirados na casa, olhando pela janela aquela luz que passava para lá e para cá. E voltaram a vê-la outra vez sobre o campo, já mais distante, continuando seu movimento oscilante até desaparecer. Naquela noite ninguém na casa conseguiu dormir…
Houve algum tipo de evidência física relevante ou marca da passagem do artefato sobre o campo? No outro dia, quando os membros da família saíram para percorrer o local com os peões que haviam chegado para trabalhar na propriedade, encontraram marcas de pasto queimado e outros fatos estranhos. O mais surpreendente foi que também havia sinal de queimado em uma pedra que existia no campo — uma grande marca circular foi formada sobre o pasto, atingindo também aquela pedra. Ora, para queimar uma pedra é necessária uma quantidade substancial de calor, uma fonte autógena que provesse algo da ordem de 5.000 ou 6.000 graus, mas isso levaria à completa incineração do pasto, que estava apenas queimado. Como explicar isso?
Os estudiosos encontraram uma explicação para essa anormalidade? Alguns grupos civis de Ufologia também investigaram o caso, e forneceram informações à Comissão. Foi uma pesquisa bastante interessante e esse é outro caso que ficou aberto, pois nunca se determinou cientificamente o que poderia ter causado aquele efeito — inclusive, a marca de queimado permaneceu ali durante muitos anos, como vários integrantes da nossa entidade constataram. Esse é um episódio de quase 30 anos, mas muito impactante, ocorrido justamente quando a Comissão havia começado o seu trabalho.
Esses casos que o senhor descreve são como certos clássicos da Ufologia Mundial, que ocorreram tanto no Uruguai como no Brasil, Argentina, Chile, França, Estados Unidos etc. São indubitáveis. Mas qual a posição da Cridovni a respeito deles? O que viram as testemunhas? Naves provenientes do espaço exterior? Essa é justamente uma das coisas que nos frustram, porque não sabemos o que são tais objetos. Mas não podemos assegurar que tenham origem terrestre, que sejam um fenômeno físico, porque nos casos que relatei é impossível se obter uma explicação convencional, científica. Poderíamos argumentar que se tratam do desprendimento de algum tipo de gás em formato globular, ou de outro tipo de elemento que possa ascender e acompanhar um avião, ou possa ser perseguido por aviões de combate etc. Mas essas não são explicações razoáveis e fisicamente aceitáveis.
Podemos dizer, então, que se trata de veículos materiais construídos com uma tecnologia não existente na Terra, ou seja, de naves alienígenas? Bem, o fato é que o que ocorreu com essa família em um campo de Tacuarembó vem se repetindo em outros locais. Esse é um avistamento típico, e há muitos outros episódios de artefatos de formas sólidas, como os clássicos discos voadores. Temos em nossos arquivos todos os tipos de casos que se pode encontrar na série Arquivo-X. É verdade! E não temos uma resposta para eles. Não sabemos se estamos lidando com fenômenos físicos desconhecidos ou de outra natureza. Há hipóteses ousadas para explicá-los, como a apresentada pelo Projeto Hessdalen, na Noruega, de que se trata de microburacos negros que se formam em baixa altura na atmosfera [Veja detalhes no DVD Portal, código DVD-032 da coleção Videoteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Mas e se forem mesmo veículos extraterrestres? A Força Aérea não descarta nada. Mas o que acontece é que também não temos evidências para poder afirmar coisa alguma.
O receio é de se colocar uma etiqueta que diga “é isso”? Claro. Não temos elementos que possam nos ajudar a determinar a natureza desses veículos. O que podemos dizer é que são casos muito estranhos e que temos que ter a porta aberta para várias hipóteses. Há padrões de comportamento muito comuns a todos os acontecimentos que pesquisamos, e por isso criamos o Centro Regional de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales y Terrestres (Crifat), essa uma entidade civil formada também por membros de fora da Aeronáutica. Vimos que há um padrão em muitos desses fenômenos, que são iguais na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai etc. Mas não sabemos o que significam. Por isso, é bom ter contato com grupos de investigação de todos os países, pois podemos trocar informações e talvez chegar a algumas conclusões — que sozinhos não poderíamos alcançar.
O fenômeno não é perigoso
Cientistas também? Sim, também é importante que integremos mais cientistas e técnicos a esse trabalho, que possam cooperar com as forças aéreas dos países que o desenvolvem, pois o objeto de nosso estudo é algo que está no céu — embora, pelo menos no Uruguai, não demonstre ser um fenômeno perigoso para o ser humano. Mas é algo que está aí, que afeta nosso espaço aéreo em algumas ocasiões, e por isso interessa à Força Aérea investigar o tema de forma científica, técnica e também, é claro, do ponto de vista militar e estratégico — esse é trabalho da Comissão.
E qual é a opinião da pessoa Ariel Sánchez, não do coronel Ariel Sánchez, sobre o que são esses objetos? É muito difícil me desvincular de minha profissão como militar e me manifestar como civil, porque quando emito uma opinião, na verdade a estou fazendo como militar — as pessoas me veem apenas de uma forma. Por isso, procuro ser objetivo, mas sem estimular nem desestimular ideias que possam existir sobre o Fenômeno UFO. Penso que alguns dos casos que investigamos devem ter explicação científica, mas não sei qual. Há muitas hipóteses disponíveis e eu trabalho com evidências, pois minha cabeça é a de um investigador — para se poder fazer algo nesse estudo, há que se ter evidências em cima da mesa, e eu as tenho analisado exaustivamente. Se entrarmos no plano das minhas convicções, estaremos falando de crenças, algo mais voltado para o lado espiritual. Eu prefiro as evidências científicas da manifestação ufológica, pois creio que essas me convencerão e a todo mundo. Os UFOs não podem ser uma questão de fé ou algo que um indivíduo quer que sejam.
O senhor acredita em vida extraterrestre mais avançada existindo em planetas fora do Sistema Solar? Sim, creio que exista vida inteligente em outros sistemas planetários. No universo tem que haver outras formas de existência também do ponto de vista de organismos, de células, enfim. De certa forma, já se comprovou que em Marte existiu algum tipo de vida, e até água já foi encontrada lá — como me parece que na Lua também, debaixo das camadas de terra.
Será que tais espécies, lá em seus mundos, também estariam se perguntando se há vida inteligente em outros planetas? Boa questão! Penso que sim, porque seríamos ignorantes se fôssemos contra as teorias levantadas por Frank Drake, como sua famosa equação, e de outros que já aventaram a possibilidade de existência de múltiplas formas de vida no universo [Veja edição UFO 179, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
O senhor descreveu alguns casos ufológicos interessantes. Poderia explicar como se dá o mecanismo de investigação da Cridovni do princípio ao fim, ou seja, desde o momento em que alguém lhes dá a informação de um fato até a emissão de um relatório final? Bem, funciona assim: uma vez recebida uma ligação pela central telefônica da Força Aérea, é colocado em prática o procedimento normal que adotamos, que é destacar um grupo de investigadores da Comissão para ir ao local, entrevistar as testemunhas e recolher possíveis evidências dos fatos. Esse grupo, normalmente composto de duas ou três pessoas, chega à área dos acontecimentos e fala com os observadores, que oferecem seu relato e as eventuais evidências do que se passou, como fotos, vídeos etc. Faz-se então um reconhecimento do local, se é uma região arborizada, montanhosa, com rios, linhas de alta tensão, aeroportos próximos etc, para se elaborar um mapa geográfico — também tiramos fotografias e falamos com os vizinhos das testemunhas.
Enfim, uma típica investigação ufológica? Exatamente. É uma investigação de estilo policial, porque se fala com as testemunhas, mas igualmente se vai às casas dos vizinhos para se perguntar se eles também viram algo estranho que corroborem os dados — muitas vezes se levantam mais informações a partir de outros observadores.
E se houve aterrissagem de um artefato voador, são coletadas amostras? Sim. Se há alguma indicação de que possa ter havido um pouso, a aterrissagem de algo estranho, se toma amostras da marca deixada e do campo fora dela para podermos ter uma ideia dos compostos minerais ou químicos que existem naquele terreno. Após levantarmos todas as informações e evidências disponíveis, havendo algo que se possa analisar em laboratório, enviamos à Direção Nacional de Mineralogia e Geografia do Uruguai. Uma equipe de lá faz a análise dos materiais enviados e nos informa os resultados.
E qual é o passo seguinte do processo investigativo da Cridovni? Depois de colher toda essa informação, a levamos para a mesa de trabalho do Departamento Técnico da entidade e a avaliamos. As coisas na Comissão são bem divididas. Por exemplo, foi um grupo do Departamento Operativo quem fez o levantamento primário e coletou informações e evidências, submetendo-as às análises. Já os resultados são tratados pelo nosso Departamento Técnico, que avalia a investigação e, se for o caso, pode pedir que se entreviste outra vez as testemunhas, para que sejam adicionados novos dados ou sejam sugeridas novas perguntas que o Departamento Operativo não fez naquele momento. Assim, temos a possibilidade de voltar aos observadores e buscar novas evidências que talvez não tenham sido pedidas na primeira investigação.
Ponto de vista aeronáutico
Quais são as outras atribuições do Departamento Operativo da Cridovni? O grupo também faz uma reconstituição das circunstâncias do avistamento do ponto de vista aeronáutico, ou seja, procuramos informações sobre aeronaves militares ou civis que tenham passado pelo local, dados sobre movimentação de satélites na zona na hora em que sucederam os fatos, informações de caráter astronômico, meteorológico, geológico etc. Ah, claro, também tentamos saber se houve alguma manobra militar nas imediações — coisa que já nos ocorreu algumas vezes e pode confundir as pessoas, que pensarão tratar-se de UFOs. Enfim, se busca levantar toda a informação possível que possa complementar a investigação.
Em média, quanto tempo dura uma investigação, desde a primeira entrevista com as testemunhas até sua conclusão final? Pode durar uma semana, em geral. Depende dos fatos. Se há evidências físicas, como amostras a serem analisadas, o laboratório pode demorar alguns dias para nos entregar os resultados. Se temos evidências fotográficas, os técnicos também podem demorar mais outros dias para emitir seus laudos. Às vezes demora porque não temos pessoal exclusivo para fazer esses trabalhos. Nós utilizamos recursos do Estado Uruguaio, da Força Aérea e de universidades parceiras. Já quanto às análises de imagens, temos a sorte de contar com um grupo que trabalha com fotografia aérea na Base de Boiso Lanza, e quando necessitamos de um serviço, lhe enviamos as evidências fotográficas.
Todo o processo de investigação da Cridovni parece bem meticuloso, com várias fases e dupla checagem dos fatos. Sim, e estimo que uma conclusão sobre um determinado caso pode demorar entre uma semana e 10 dias. Por exemplo, há pouco tempo, quando a seleção de futebol do Uruguai chegou a Montevidéu, vinda da Copa do Mundo, durante os festejos de sua classificação surgiu uma série de fotos de anomalias aéreas, e elas foram todas analisadas [Veja edição UFO 170, idem]. Esse trabalho nos tomou quase duas semanas, porque conforme as notícias saíam nos jornais, passaram a aparecer mais e mais fotos — tanto que, devido à quantidade de e-mails recebidos, o servidor da Comissão ficou saturado. No total recebemos mais de 60 fotos, mas que não eram apenas daquele acontecimento, porém de vários outros, em diversos lugares e épocas. Precisamos de quase duas semanas para analisar todas.
E o que era, afinal, o objeto registrado durante a chegada da seleção uruguaia? Com relação ao que foi fotografado durante os festejos, como houve fotos obtidas de diferentes ângulos, pudemos concluir que se tratava de um objeto conhecido, que podia ser um balão de nylon ou de papel. Muitos balões foram soltos naquela ocasião e confundiram as pessoas quando baixavam as fotos em seus computadores — não houve testemunhos diretos desse fato, apenas fotos.
Perfeito. Voltando ao seu método investigativo, descreva as outras fases dos procedimentos da Cridovni, por favor? Depois que temos todos os dados e informações sobre um determinado caso, fazemos cinco perguntas básicas: 1) se há possibilidade de fraude por parte da testemunha; 2) se há possibilidade de fraude por parte de terceiros; 3) se há possibilidade de ilusão psicológica dos envolvidos; 4) se há possibilidade de se tratar de um fato convencional não identificado pela testemunha; e 5) se há possibilidade de algo não convencional. São esses últimos os casos mais interessantes, e somente depois de esgotadas todas essas perguntas é que estamos aptos para começar nossas análises de testemunhos e evidências. Entre outras coisas, contamos com psicólogos na Comissão para se realizar um perfil dos observadores. Também temos astrônomos, engenheiros, pilotos, controladores de voo, meteorologistas etc. Como já falei, há uma quantidade muito rica de recursos humanos, e de diferentes disciplinas, para que possamos avaliar cada caso. Depois de tudo isso, a documentação passa ao Departamento Técnico, que analisa e finalmente elabora um relatório final sobre o acontecimento.
O senhor falou que são duas ou três as pessoas escolhidas para irem a campo falar com as testemunhas. Com base em que elas são selecionadas? E vão com uniforme militar? Sim, vão com uniformes e às vezes até em carros militares, depende da situação. Por exemplo, pode ser que me liguem em casa às 10 horas da noite, por causa de algo que esteja ocorrendo naquele momento, e tenho que sair imediatamente. Ligo para algum oficial ou mesmo para um civil da Comissão para que possa me acompanhar naquela missão, e saímos em uma equipe de duas ou três pessoas, dependendo da urgência e da disponibilidade de pessoal naquele momento. É importante que se diga que recebemos chamadas a qualquer instante e temos que estar preparados. Sou eu quem decide quem vai a campo, e posso nomear um oficial ou um civil da Comissão, ou sair eu mesmo em missão.
Operações conjuntas
Quantos são os ufólogos civis da Cridovni e o que fazem? São vários antigos investigadores, alguns deles provenientes de grupos de pesquisas uruguaios, convidados para tomar parte do grupo quando ele foi criado. Nos anos 70, havia uma meia dúzia de organizações civis que trabalhavam com Ufologia no Uruguai, e quando a Força Aérea formou a Comissão, em 1979, todos foram convidados a participar de um trabalho de investigação conjunta.
Isso é fantástico! É justamente o que buscamos junto à Força Aérea Brasileira (FAB), através de nossa campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Obrigado. Assim, no início, em torno de 30 pessoas da Comunidade Ufológica Uruguaia entraram e permanecem na Comissão. Mas depois o grupo diminuiu um pouco, passando a ter uns 20 pesquisadores, e hoje somos entre 12 e 18 membros entre civis e militares.
Desses, quantos são os civis e quantos são os militares? Em atividade, nesse momento, somos apenas três militares — um tenente, um tenente-coronel e um coronel, que é o presidente da Comissão, eu. Mas já tenho mais dois oficiais escalados para o trabalho, quando então seremos cinco militares em atividade. E temos ainda mais oito pesquisadores civis, constituindo um grupo de 12 membros permanentes. Fora esses, temos também integrantes eventuais, assessores que colaboram conosco dependendo de cada caso. Por exemplo, se precisamos de análises fotográficas, contamos não só com um grupo de analistas da Força Aérea — que nos empresta seus membros —, mas também com um engenheiro especializado em análises de imagens, que igualmente participa das investigações. O staff permanente da Comissão é de 12 pessoas, cinco oficiais e sete civis.
Quando se chega ao resultado final de uma investigação ufológica e se descobre que o objeto observado não é algo convencional, o que se faz? Quando as conclusões são de que a observação foi causada por algo não convencional, o caso é arquivado, mas fica pendente, pois não há nada que se possa fazer com ele — a menos que apareçam novas informações que determinem que, afinal, se tratou de algo convencional.
Arquivadas? Mas não são justamente esses os casos mais interessantes que sobram quando se peneira todos os outros que têm possíveis explicações? Sim, e dou um exemplo. Suponha que tenhamos um objeto triangular negro fotografado e visto pela tripulação de uma aeronave militar, que tenha conseguido alcançá-lo e persegui-lo. Esse é, no momento, um caso não convencional. Mas imagine que depois de alguns anos descobrimos que se tratava de um avião experimental de alguma força aérea amiga, que estava, digamos, sem comunicação e perdido na região. Essa informação pode chegar muitos anos depois e nos forçará a reabrir o caso para dá-lo como esclarecido. Assim, sempre deixamos os arquivos pendentes à espera de novas informações que não temos no momento.
E em casos de ocorrências não convencionais significativas, quem vocês têm que informar? O comandante da Força Aérea Uruguaia (FAU), o presidente da República, enfim, algum departamento ou outro órgão do país? Sim. Nesses casos, sempre informamos os fatos ao comandante da Força Aérea, pois nossa Comissão está subordinada a ele e tenho que lhe relatar qualquer coisa que ocorra no país e que envolva a arma — algo que possa ser não convencional, por exemplo. Em seguida a informação segue para o ministro da Defesa e para o presidente da República. E no caso de a ocorrência ser muito importante, fica a cargo do presidente decidir o que fazer.
Conhecimento do presidente
Mas vocês têm ideia do que ele faria com uma informação como essa, ou comunicam o fato apenas por obrigação? Nós lhe informamos para que esteja ciente do que se passa em nosso território, pois é de sua competência. Houve um caso ufológico muito interessante, ocorrido em nosso país, que responde um pouco à sua pergunta. Em 2007, recebemos o relato de um avião da companhia alemã Lufthansa, que estava indo do Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, para a Europa e teria que atravessar parte dos territórios uruguaio e brasileiro. Exatamente sobre o Rio da Plata, os pilotos observaram um objeto que cruzou o céu de baixo para cima, bem perto do avião e em velocidade muito alta — aquilo passou a metros da cabine da aeronave. Esse caso foi tratado de tal forma que chegou ao conhecimento do presidente.
A Cridovni tem obrigação de informar tudo o que apura por meio dessa linha de comando? Não. Nossa obrigação é de informar apenas nosso superior imediato, que é o comandante da Força Aérea. Mas em um caso como o de 2007, que envolveu a intervenção de um país vizinho, houve exceções. Nós passamos informações à Força Aérea Argentina (FAA) e conversei pessoalmente com o chefe de relações públicas daquela arma, na época, que descartou totalmente que tivesse sido um míssil ou uma aeronave secreta de seu país. Assim, acabou sendo necessário informar também o ministro da Defesa.
E como ficam os arquivos dos casos que vocês investigam? Por exemplo, se um civil vai à Cridovni e pede para ver os documentos de um episódio como esse da Lufthansa, de 2007, ele poderá ter acesso ao material? Sim, mas não podemos entregar os arquivos à pessoa, como se fossem livros de uma biblioteca. O interessado fará a solicitação, nós procuraremos a informação desejada e, se a localizarmos, mostramos os arquivos e diremos qual foi nossa conclusão. As pessoas podem ver o que aconteceu e o que não aconteceu com relação a cada caso que investigamos aqui na Comissão. Claro que não podemos mostrar todas as 1.200 ocorrências que pesquisamos porque isso seria uma loucura — simplesmente não há disponibilidade de tempo e nem de pessoal para tanto. Por isso, oferecemos acesso apenas aos casos que nos solicitam. Por exemplo, se alguém quer saber o que se passou no Uruguai no ano de 1986, quantos relatos recebemos, nós mostramos os arquivos, dizemos detalhes dos casos etc. Aqui não há segredos.
É muito bom saber disso, coronel. Mas… Não há mesmo segredo algum? Nem de casos mais graves? Não, lhe asseguro que não existe. Nós sempre damos todas as informações que nos pedem. O que não podemos fazer, como falei há pouco — e biblioteca alguma no mundo faria —, é dar ou mostrar a alguém todos os livros e arquivos de uma só vez, para que sejam levados ou consultados pelos interessados.
Houve algum caso muito grave, entre os pesquisados pela Cridovni, em que vocês receberam determinação, instrução ou recomendação de que não fosse divulgado publicamente, ou os seus resultados? Como ordens do ministro ou do presidente, por exemplo? Não, até agora não. Temos levado ao conhecimento público todos os fatos que nos chegam e os resultados de nossas investigações — até mesmo casos envolvendo as próprias aeronaves da Força Aérea Uruguaia (FAU) e nossos pilotos. Simplesmente, nunca houve necessidade de ocultamento de qualquer episódio, pois não há razão para isso. A Comissão não estimula e nem desestimula a questão ufológica, e ocultar informações é algo que nunca fizemos em mais de 30 anos. Veja que lhe relatei até mesmo o caso dos aviões Púcaras que perseguiram um UFO sobre uma represa no país e não puderam alcançá-lo. “Não nos treme o pulso dar essa informação
Como militar na ativa da Força Aérea Uruguaia (FAU), o senhor tem a facilidade de se comunicar com seus colegas das forças armadas de outros países para tratar de temas relativos à aviação. O mesmo ocorre com casos ufológicos? Sim, em casos interessantes podemos fazer uso da facilidade que existe, através da nossa Força Aérea, de podermos nos comunicar com colegas do Brasil, da Argentina ou do Chile, e intercambiar dados que nos permitam avaliar algumas denúncias de objetos voadores não identificados que tenhamos aqui sendo investigados. Creio que, em nível de consultas internacionais, isso é o que temos de mais importante.
A respeito disso, vocês, na Cridovni, têm conhecimento de algum protocolo que exista exclusivamente entre as forças armadas do continente, ou de outras partes do mundo, para estabelecer regras de cooperação nesses casos? Um militar equatoriano nos informou, e um brasileiro confirmou, que há um protocolo de relações que estaria acima das diferenças políticas dos governantes dos países, que estabeleceria como algo deve ser tratado em nível militar. Esse sistema também inclui casos ufológicos? O que existe na América do Sul são reuniões realizadas anualmente com membros das forças aéreas do continente. A elas comparecem os comandantes da Aeronáutica de cada país para discutirem diferentes problemas, como de logística, intercâmbio, cursos para pilotos ou para pessoal de terra etc. Nelas também se discutem diversas questões que forças aéreas sul-americanas têm e se realiza troca de dados e informações. A coordenação das aeronáuticas amigas permite o melhor aproveitamento dos recursos de cada uma. Nessas reuniões também se pode discutir o tema ufológico, e não nego isso, mas não me consta que ele esteja na pauta de discussões como algo oficial. O assunto pode estar, entretanto, na agenda de diferentes comandantes dos países participantes.
Reuniões militares
O senhor tem conhecimento de alguma reunião em que o tema ufológico foi tratado, pelo menos como tema secundário? Especificamente sobre o assunto, não. Mas posso afirmar que há reuniões de comandantes das forças aéreas do continente, às vezes no Uruguai, no Brasil ou na Argentina, para se estabelecer coordenadas de trabalho ou novas rotas aéreas que atravessam diferentes países, e examinar quais serviços uma nação pode oferecer às outras, desde combustível, novos aeroportos, serviços em terra, aeronaves militares de apoio etc. São todas reuniões de trabalho e coordenação entre as forças aéreas, para que possam trabalhar de forma conjunta na América do Sul, mas isso é de conhecimento público e geralmente se informa os resultados à imprensa.
Perfeito. Os militares brasileiros já fizeram alguma requisição ou consulta à Cridovni sobre casos ufológicos, seja de forma oficial ou extraoficial? Desde que estou na Comissão, há 20 anos, não me consta que o seu governo tenha nos consultado sobre qualquer questão ufológica. Eu sim, pessoalmente, em algumas comemorações do Dia da Força Aérea, aqui no Uruguai, quando se faz uma reunião com todos os agregados militares de outras nações operando no país, tive a oportunidade de trocar ideias sobre a questão com membros da Aeronáutica Brasileira. Mas foram apenas conversas para eu saber se havia alguma nova experiência lá ou se já estaria funcionando alguma comissão oficial para tratar do tema no Brasil — mas isso nunca me foi confirmado.
E quanto à Força Aérea Norte-Americana (USAF), assim como a Russa, a Francesa, a Inglesa ou qualquer outra? A Cridovni já recebeu alguma requisição ou consulta sobre casos ufológicos dessas nações? Não, nunca tivemos intercâmbio de informações com elas e não tenho conhecimento de que qualquer uma dessas forças aéreas tenha se interessado pelo nosso trabalho.
O senhor conhece algum grupo semelhante à Cridovni que esteja lidando oficialmente com o Fenômeno UFO em outra nação do mundo? Sim, temos no Chile o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA) e no Peru a Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA), essa que me parece ser apenas um escritório. E sei também que há um grupo ou departamento na Força Aérea Equatoriana (FAE) dedicada à questão. Fora essas, sei que foram abertas comissões de trabalho nos Estados Unidos, como o Relatório Condon e o Projeto Blue Book, mas foram fechadas em seguida. Tudo isso está em livros e revistas. Mas, em atividade permanente, a única que existe no mundo, nesse momento, é a nossa Comissão. Outras foram abertas antes e depois dela, mas já estão encerradas. No caso do CEFAA ou da OIFAA, parece-me que foram instaladas e funcionaram por algum tempo, e depois deixaram de operar ou tiveram seu trabalho interrompido. Isso é diferente do que ocorre no Uruguai, onde a Comissão está com 32 anos de existência ativa e ininterrupta.
Certamente, é um feito, pelo qual a Cridovni merece nossos parabéns. Mas, diga, por favor, se é verdade que a sua entidade elaborou um modelo de trabalho de pesquisas ufológicas e o levou para instruir militares de outras nações? Parece que a OIFAA foi criada em cima do modelo desenvolvido por vocês? Isso ocorreu no Chile. Quando se criou o CEFAA, uma delegação da Força Aérea Uruguaia (FAU) foi a um evento internacional de aviação realizado naquele país — a Feira Internacional do Ar e do Espaço (FIDAE) — e ali eu tive a oportunidade de contatar o general Ricardo Bermúdez e o senhor Gustavo Rodriguez, que estão à frente da entidade de pesquisa ufológica chilena. A eles fiz a apresentação de como a Cridovni trabalhava no Uruguai, e também lhes entreguei um pequeno livro sobre como aplicamos um sistema que desenvolvemos para avaliar casos ufológicos. Ainda lhes ofereci uma série de conselhos e recomendações para que pudessem levar a cabo seu trabalho. Se você observar como está estabelecido o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA) e a forma como trabalham, verá que tem operações praticamente idênticas às que fazemos na Comissão.
Reconhecimento internacional
É a Cridovni fazendo escola, coronel… Sim, e tenho o orgulho de ter escutado do próprio general Bermúdez um agradecimento pelo apoio que a Comissão lhe ofereceu para que pudesse criar uma entidade similar de pesquisas ufológicas no Chile. Ele também já manifestou sua gratidão de forma pública em várias ocasiões.
E sobre o que acontece no Brasil, vocês têm informações se nossos militares investigam ou não o assunto oficialmente? Não. Oficialmente, não temos nada da Força Aérea Brasileira (FAB). A única coisa que sabemos é que alguns civis pediram a desclassificação de seus arquivos ufológicos secretos, através do grupo que você integra, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), para buscar que o tema seja tratado com mais transparência no Brasil.
Sim, a FAB realizou uma desclassificação de documentos secretos — creio que a primeira no continente — e hoje temos liberados arquivos dos anos 50 até 2010, que se encontram disponíveis ao público no Arquivo Nacional, em Brasília. Sim, disso estamos sabendo através de informes anteriores e da conferência que você realizou em nosso congresso, durante o qual gentilmente nos ofereceu um CD com cópia de todo esse material já liberado pela FAB.
O senhor também sabe que parte das reivindicações da CBU é de que a FAB estabeleça uma comissão mista, civil e militar, para pesquisa ufológica, aproximadamente nos moldes da Cridovni? Apesar da abertura ufológica que já conquistamos no Brasil, isso ainda falta ocorrer. O que o senhor pensa da nossa reivindicação? Acho que as forças aéreas de todas as nações do mundo deveriam investigar os UFOs, pois são objetos que estão sobrevoando seus territórios. Ou seja, deveria ser obrigação de todos os países — tenham ou não um órgão como a Comissão — investigar veículos que sejam detectados por radares ou vistos por testemunhas, para saber o que está acontecendo. Isso é o que ocorre aqui no Uruguai, onde, quando os casos relatados têm alto nível de estranheza [Veja a primeira parte da entrevista na edição UFO 185], a Comissão é ativada para analisar as características de voo de tais aparelhos, já que essa não é tarefa dos controladores de tráfego aéreo, que cuidam dos voos regulares que entram ou saem do país.
E por que, em sua opinião, os países relutam em tratar da questão? Bem, na verdade, todos os países do mundo investigam UFOs, mas não como máquinas extraterrestres — o problema é que muita gente pensa que os UFOs têm necessariamente origem extraterrestre. Ora, a maioria das observações resulta em algo identificado, que não é nada extraordinário. Assim, as nações que mantêm seus territórios sob vigilância estão, direta ou indiretamente, investigando UFOs. Elas apenas não os tratam como veículos alienígenas. Existe muita coisa nesse meio que não é real, muitas teorias conspiratórias sobre essa questão.
Controle de tráfego aéreo
A fantasia popular atrapalha as investigações sérias do Fenômeno UFO? Sim. O que podemos dizer é que todas as forças aéreas do mundo controlam o espaço aéreo de seus países, mas o que não se vê ou não se detecta no radar não pode ser investigado. No entanto, com a ajuda dos cidadãos, que recorrem às autoridades quando veem coisas estranhas nos céus, comissões como a nossa podem ser formadas ou ativadas para que investiguem tais ocorrências — e isso pode levar à confirmação de que um UFO pode ser “algo mais”.
E quando isso ocorre, o que fazer com a informação de que algo visto ou detectado tenha uma origem extraordinária? Isso depende de cada órgão, de cada país. Aqui no Uruguai, em nossa Comissão, trabalhamos dando apoio às tarefas de controle de tráfego aéreo que faz a Aeronáutica e também oferecemos subsídios à pesquisa científica da questão. O que temos detectado e visto é um fenômeno que não se comporta de maneira normal. É algo extraordinário — os tais 3% dos quais falamos [Veja a primeira parte da entrevista na edição UFO 185] — que investigamos de forma científica para tentar chegarmos a alguma conclusão sobre sua natureza. E isso é difícil, porque sempre nos faltam provas, comprovações e evidências, pois não podemos repetir esses fenômenos em laboratório. Se pudéssemos, seria muito fácil.
Isso seria o ideal… Sim. Mas, seja como for, todas as forças aéreas do mundo controlam seus céus, e podem também estar registrando UFOs. Muitas coisas podem escapar ao seu controle, mas elas investigam o que podem. Porém, bom mesmo seria se houvesse comissões como a Cridovni em todas as partes do globo, até para trocarmos informações.
Vendo por esse ângulo, coronel, não parece irresponsável que não existam entidades como a Cridovni em outras partes do mundo? Se os UFOs são um fenômeno tão sério, coisa da qual vocês aqui no Uruguai têm plena consciência, e por isso fazem esse trabalho, o mesmo teriam que fazer Argentina, Brasil, Bolívia, Peru, México, Estados Unidos, todos os países, enfim… Acho que muitas dessas nações estão fazendo suas pesquisas, apenas não as tornam públicas. Aliás, elas não têm porque anunciar que estão investigando um fenômeno desconhecido em seu espaço aéreo, porque poderiam interferir em outras áreas. Não se esqueça de que países como os Estados Unidos, França, Russia etc, são nações envolvidas em uma corrida armamentista militar diferente da que estão os nossos países, aqui no continente. Eles podem estar desenvolvendo veículos com tecnologia aeronáutica ainda desconhecida, que as pessoas veem e pensam que são UFOs, e isso pode atrapalhar tais experimentos. Há muita concorrência entre tais nações. Nos Estados Unidos, por exemplo, há empresas de desenvolvimento aeroespacial que têm novos protótipos de aeronaves, tanto comerciais como militares, ou protótipos de satélites e foguetes que estão competindo com companhias de outros países.
O senhor acredita que uma parte das observações ufológicas tenha origem em testes militares? Sim, pode acontecer de as forças aéreas que operam em conjunto com empresas civis no desenvolvimento aeroespacial não tenham interesse em tornar público que estão lançando um novo tipo de foguete propulsor de satélites, por exemplo, algo com tecnologia diferente da que podem ter as companhias concorrentes. Por isso, faltam informações para avaliarmos muitos casos ufológicos. Uma testemunha que viu algum tipo de foguete desconhecido no céu pode achar que era uma nave extraterrestre — e se for divulgado o que ela realmente viu, a concorrência pode pesquisar ou copiar o novo veículo. Temos aí um problema de natureza econômica. E veja que mesmo países como Brasil, Argentina e Chile estão em uma corrida aeroespacial.
O Fenômeno UFO ocorre no Uruguai da mesma forma como em todo o mundo, e os governos e suas forças aéreas — especialmente do nosso continente — deveriam estar mais interessados em trocar informações a respeito. Ou, pelo menos, instituições como Cridovni, CEFAA e OIFAA deveriam ter contato mais firme entre si para intercambiar dados para benefício de todos. O que o senhor acha? Acho que temos alguma coisa positiva quanto a isso. Tenho falado regularmente com os amigos peruanos e chilenos — especialmente o comandante Julio Chamorro, da OIFAA [Consultor da Revista UFO], e o general Ricardo Bermúdez, do CEFAA — sobre fazermos reuniões para tratar do problema. Também discutimos formas de motivar outros países para que se unam a nós nesse esforço, criando comissões dentro de suas forças aéreas para todos podermos trabalhar de forma conjunta com o fenômeno — que, como você bem disse, ocorre em todo o mundo por igual. Seria interessante fomentar isso e eu já propus tais coisas, mas a questão é se as propostas vão encontrar receptividade nas demais nações e se elas vão incorporar a questão ufológica ao trabalho de suas forças aéreas. Seria muito importante que o tema fosse tratado nas reuniões que elas realizam anualmente.
A Cridovni ou a Força Aérea Uruguaia (FAU) estaria interessada em propor isso de forma oficial a outros países? Na verdade, já propus isso em congressos de que participei no Chile e na Argentina. Já mencionei várias vezes as vantagens de podermos trocar informações e, como disse, também mandei nosso sistema de trabalho à comissão de pesquisas ufológicas chilena, que o passou à peruana — e parece que a equatoriana também trabalha com os mesmos métodos que elaboramos. O que quero dizer é que já houve um eco ao trabalho que realizamos, e isso nos interessa, pois talvez assim cheguemos a conclusões mais rápidas sobre esse fenômeno. Trabalhando juntos, nosso banco de dados será maior e nosso intercâmbio e diálogo com outros grupos também será mais amplo. Daí, creio que poderemos chegar a algumas respostas sobre o tema.
Registros de UFOs por pilotos
No Brasil, há anos, quando é feita uma observação ufológica por um piloto — seja civil ou militar, brasileiro ou mesmo estrangeiro, mas que esteja voando em nosso país —, ele é obrigado a preencher um formulário próprio que está disponível nos centros de controle de tráfego aéreo de nossos aeroportos, que se encarregarão de encaminhá-lo ao Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), em Brasília. Pelo menos em teoria, pois muitos decidem não registrar oficialmente o fato. Existe algo assim no Uruguai? Aqui, quando um piloto civil ou militar tem algum incidente em voo, seja de que tipo for, ele tem a obrigação de informar o fato aos órgãos aeronáuticos — e existe um formulário próprio para se relatar incidentes ocorridos no âmbito da Aeronáutica civil. Os pilotos devem registrar ocorrências que tenham colocado em risco a operação de suas aeronaves. É dessa forma que acabamos recebendo relatos de muitos deles com descrições de avistamentos de estranhos objetos. Ontem mesmo, ao ir ao Aeroporto de Carrasco, aqui em Montevidéu, encontrei um amigo comandante da companhia Pluna que me relatou um avistamento que teve em voo. Eu já formalizei um pedido de mais detalhes do fato. Os pilotos geralmente colaboram com nosso trabalho e nos enviam seus relatos, mas é claro que há aqueles que preferem não informar nada — e assim nunca sabemos de ocorrências ufológicas que poderiam ser pesquisadas.
Um Sioani modernizado
No Brasil, em 1969, tivemos uma comissão oficial de pesquisas ufológicas chamada Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), uma corporação semelhante à Cridovni, porém com estrutura maior, já que o país é maior e há mais casos para investigar. O Sioani tinha membros civis e militares fazendo o mesmo que vocês fazem no Uruguai, mas fechou no começo dos anos 70. Desde então, não há mais nada oficial em andamento no país para pesquisar discos voadores. O senhor sabia disso? Sim. Acompanhei um pouco a trajetória do Sioani e lamento que tenha fechado, mas, pelo que eu soube, a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já quer reabrir a entidade modernizada [Veja edições UFO 156 e 158, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br].
Sim. O movimento obteve até agora a liberação de documentos secretos dos anos 50 até 2009. Porém, algo importante ocorreu em agosto de 2009, quando o comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), o brigadeiro Juniti Saito, expediu determinação para que todos os casos ufológicos registrados pela arma — especialmente relatados por pilotos — sejam enviados ao Arquivo Nacional, em Brasília, para conhecimento público. É uma grande inovação, mas o problema é que Saito não mencionou se, no processo, irá mandar investigar tais casos, o que gerou dúvida entre os ufólogos brasileiros. O senhor acredita ser possível que episódios envolvendo aviões comerciais com 100 ou 200 pessoas a bordo sejam apenas registrados pela Aeronáutica, mas não investigados? Bem, não conheço os procedimentos internos adotados pela FAB, e então não posso opinar sobre isso. Mas me parece que, se a arma estiver recebendo relatos de avistamentos ufológicos, eles devem passar por alguma investigação, e só então os resultados devem ser enviados ao Arquivo Nacional para que as pessoas possam tomar conhecimento dos fatos. Não acho que a FAB deva receber tais registros para não investigá-los — ainda que enviar tais casos ao Arquivo mostre certa transparência nos seus atos.
A determinação do brigadeiro Saito causou estranheza a todos, primeiro devido à sua própria natureza e ineditismo, e depois porque não deixou claro o que vai acontecer com os relatos recebidos. Afinal, estamos falando de aviões comerciais repletos de passageiros e em rota entre grandes cidades, que podem ter tido contato com UFOs. São fatos muito sérios para que a FAB não abra uma investigação a respeito. O que pode estar acontecendo é que talvez os relatos vindos de aviões comerciais tenham sua investigação feita pela aviação civil. Parece que no Brasil, tanto quanto no Uruguai, a aviação comercial é independente da Força Aérea, certo? Nesse caso, é possível que o meio aeronáutico civil se incumba desses casos. Há países em que os avistamentos aéreos não são investigados pelos militares, mas por civis. O Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA), por exemplo, está alojado na estrutura da Escola Técnica da Aeronáutica, que pertence à Direção Nacional de Aviação Civil chilena, e não à Força Aérea. Talvez o Brasil esteja fazendo a mesma coisa. Já no Uruguai é diferente: a Comissão depende diretamente do comando da Força Aérea. Isso deve ser levado em conta. Talvez no Brasil os relatos vindos de pilotos civis estejam sendo encarados pelo meio aeronáutico civil.
Creio que a tarefa de investigar tais casos aeronáuticos, sejam eles relatados por civis ou militares, teria que ser da Força Aérea de cada país, como ocorre no Uruguai, e assim deveria ocorrer também no Brasil. Até porque, até onde sabemos, a aviação civil não tem nenhum departamento de investigação de casos ufológicos no país. Sim, teria que ser uma responsabilidade militar, mas em certos países, como o Chile, por exemplo, não é assim. Pode ser que, no futuro, haja um departamento em seu país que se envolva com o tema. Não sei se terá natureza militar ou civil.
Esse é nosso objetivo principal, que esperamos ver atingido em breve através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já — coisa que já nos foi prometida. E se ocorrer, será muito importante que vocês, da Cridovni, por terem tanta experiência acumulada, venham ao Brasil apresentar seu modelo de trabalho e nos demonstrar como o realizam no Uruguai, pois o fazem de maneira exemplar. Será um prazer. As tarefas de investigação ufológica que realizamos são muito simples e, creio, muito lógicas também. Seguimos um padrão, um protocolo de investigação, e mais nada — não inventamos nada exótico. O que fizemos aqui, no começo, foi pegar a tabela de classificação de casos ufológicos de J. A. Hynek, que lida com o “nível de estranheza” de uma ocorrência e o “nível de credibilidade” das testemunhas, e a modificamos e ampliamos para adaptá-la às nossas necessidades [Veja a primeira parte da entrevista, na edição UFO 185].
Perfeito. Agora, coronel, gostaria de saber que conhecimento o senhor e sua equipe têm a respeito da Ufologia e dos casos brasileiros, como a Operação Prato, o Caso Varginha, a Noite Oficial dos UFOs e outros? Graças à Revista UFO, temos um conhecimento muito amplo desses acontecimentos — e, em particular, o que mais me interessa, da Operação Prato, de 1977. Essa me parece uma situação muito impactante. Dos casos mais emblemáticos e que se tornaram consagrados no Brasil, como a Noite Oficial dos UFOs, Varginha e um outro que não me recordo nesse momento, creio que a Operação é o episódio mais importante, por todo seu desenvolvimento, a forma como a população local foi afetada pelos objetos não identificados, os ataques às vítimas — inclusive por envolver a morte de quatro pessoas durante a onda chupa-chupa naquelas regiões [Veja edições UFO 114 a 117, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br]. Esse é um caso de cuja investigação eu gostaria de ter participado.
Ataques por extraterrestres
Creio que também teria sido uma satisfação ao coronel Uyrangê Hollanda, comandante da Operação Prato, que o senhor o tivesse acompanhado nas investigações. Teria sido uma honra e um prazer para mim, porque realmente seu trabalho foi muito importante.
E por falar nisso, já houve algo semelhante à onda chupa-chupa ou à Operação Prato no Uruguai? Um período de grande atividade ufológica, em que tivessem sido registrados até ataques por extraterrestres, seguido de uma investigação oficial? Não, nada semelhante à onda chupa-chupa e nem à Operação Prato ocorreu por aqui. Aliás, em linhas gerais, tomando os 3% de todos os casos ufológicos que investigamos, aqueles 40 casos que não podemos explicar [Veja a primeira parte da entrevista, na edição UFO 185], podemos deduzir que o fenômeno não demonstra agressividade em nosso país.
Não há nenhum caso de ataque a pessoas por objetos não identificados ou seres estranhos no Uruguai? Exceto um ou dois acontecimentos, não há nada assim aqui. Lembro-me de um caso em que uma grande esfera apareceu à noite para uma pessoa que vinha caminhando, que a descreveu como um pequeno Sol. O observador ficou muito queimado, como se tivesse sido exposto ao Sol durante algumas horas ou dormido na praia. Sua pele ficou bem bronzeada, escura mesmo. Esse é um dos poucos casos ocorridos aqui em que alguém saiu afetado.
Casos de queimaduras provocadas pela luminosidade de discos voadores são comuns em todo o mundo, mas no Uruguai só houve esse? Ah, houve outro episódio em uma fazenda da região de Aurora, no interior do país, que também foi emblemático. Mas ele não foi investigado pela Comissão, que não existia naquela época, e sim por grupos civis — que depois cederam seus arquivos para nós. O dono da propriedade também relatou ter ficado com algumas queimaduras, como se tivesse sido exposto ao Sol durante bastante tempo. Ele disse que isso ocorreu devido a um raio emitido de uma suposta nave, que também teria atingido uma árvore e matado um touro, um cão e vários animais. Esse é outro caso de que lembro em que pessoas foram afetadas. Mas, de qualquer forma, o Fenômeno UFO — pelo menos aqui no Uruguai — demonstrou ser inofensivo para as pessoas.
E casos mais extremos, como de abduções alienígenas e implantes? Há ocorrências ufológicas assim em seu país? Sim, em baixa porcentagem, mas aqui também há casos desse tipo. Temos uma variedade de acontecimentos como às vezes encontramos nas séries de TV, tal como Arquivo-X. Há aqui relatos de abduções e casos de pessoas que dizem ter implantes em seus corpos. Inclusive, há uma testemunha recente que alega ter uma dessas peças — ainda não foi possível marcar uma pesquisa com ela, mas estamos para fazer uma análise do local onde ela diz que o implante estaria. O cidadão já afirmou que não há problema algum que façamos uma radiografia ou uma ecografia em sua perna, onde estaria o tal objeto, e estamos nos preparando para realizar tais procedimentos. Essas coisas sempre exigem cautela, pois há leis rigorosas em nosso país. Na hora de pedir um exame médico, é preciso ter certa segurança do que se procura, para que mais tarde não haja nenhum problema legal.
E os casos de abdução, como são? Bem, sobre esse gênero de ocorrências temos recebido alguns relatos. Há, inclusive, o caso de uma pessoa que, dormindo com sua esposa, à noite, acordava e de repente tinha seu corpo enrijecido, e então via surgir seres como os clássicos grays [Cinzas] ao seu redor. Ela diz sentir, nessa hora, como se alguma coisa fosse introduzida em seu tórax e abdome, algo que dói e que a faz querer gritar, mas ela não consegue. Eu investiguei esse caso pessoalmente, falando com a testemunha e com a família separadamente. O que podíamos fazer, além disso, era tentar uma regressão hipnótica, mas ela não foi autorizada pela pessoa e o caso acabou arquivado.
A testemunha não aceitou ser submetida a uma regressão hipnótica? Por quê? Não, não aceitou. Nós nos propusemos a fazer isso com todas as garantias, mas ela ainda assim não aceitou. E como não tínhamos evidências muito contundentes de que fosse uma abdução de fato, exceto pelo relato da pessoa — tanto sua esposa como os filhos nunca notaram nada estranho na casa que pudesse indicar algo desse tipo —, arquivamos. O melhor seria se pudéssemos ter feito a regressão para tentarmos encontrar algo mais.
Regressão hipnótica
Em casos em que regressões são necessárias, a Cridovni também está preparada para realizá-las? Vocês têm profissionais para isso? Sim, temos médicos, psiquiatras e psicólogos que podem desempenhar esse trabalho e nos dar uma opinião profissional sobre tais casos. Mas, até agora, não fizemos nenhuma regressão hipnótica em ocorrências ufológicas que nos foram informadas. Não tem havido registro de casos que tenham necessidade de ser pesquisados com essa técnica, mas temos recebido relatos de pessoas que dizem ter estado dentro de naves. Recordo-me de um em que uma menina estava em uma festa na casa de uns amigos e se afastou dali brincando de esconder, indo para um terreno baldio, e voltou dizendo ter entrado em um aparelho que estava estacionado ali. A jovem afirmou que viu alguns seres naquele local e que eles a convidaram para ver a nave por dentro, acompanhando-a até lá. Mas depois ela ficou com medo e desceu as escadas pelas quais havia subido e dirigiu-se a casa onde ocorria a festa de aniversário.
E o que aconteceu em seguida? Como a Cridovni tratou desse caso? Bem, a menina então contou o que se passara para sua mãe e a família inteira saiu para ir ao terreno ver a tal nave, mas ninguém encontrou qualquer coisa ali. Nós fomos informados do fato e nos deslocamos até o local, mas também não achamos marcas que corroborassem a história da jovem. Daí, fizemos um estudo psicológico dela, com autorização dos pais, para termos ideia da veracidade de seu relato, mas igualmente não encontramos nada que confirmasse o que a menina contou. Temos um staff na área de psicologia e psiquiatria que nos apoia nesse tipo de trabalho, para sabermos se estamos ou não diante de uma testemunha confiável.
A Cridovni tem algum protocolo ou procedimento já estabelecido para o caso de abduções alienígenas, se for necessário? Não temos um protocolo exclusivamente para abduções, mas seguimos o procedimento normal de investigação quando há relatos desse tipo. Primeiramente, pedimos à testemunha que faça uma entrevista com psicólogos que indicamos, que lhe fazem uma série de perguntas, e avaliamos o resultado a que eles chegam. Às vezes encontramos pessoas que estão psicologicamente desequilibradas, e nossos profissionais detectam isso. Mas, em muitas ocasiões, concordamos com eles quando um caso merece ser investigado.
Ainda nessa linha de casos extremos, há no Uruguai ocorrências mais controversas estudas pela Cridovni, como de contatados, pessoas que dizem estar em sintonia com extraterrestres quando querem? A Comissão tenta não estimular nem desestimular essas crenças, como já disse anteriormente — as pessoas são livres para fazer a afirmação que quiserem. Mas realizamos um trabalho profissional para ver qual a porcentagem de verdade que pode existir em tais afirmações. E eu diria que, em 99,9% dos casos, o que está sendo afirmado não corresponde à realidade. Ou seja, até agora ninguém que tenha se apresentado a nós como contatado demonstrou ter de fato tal capacidade. Percebemos, no entanto, que essas pessoas parecem ter uma sensibilidade diferente, um comportamento distinto das demais. São até muito boas, mas, nesse ponto, estão fora da realidade. Pelo menos cientificamente não se pode comprovar que o que afirmam seja verdade.
Há algum tempo a Cridovni recebeu um complemento, uma organização paralela chamada Centro Regional Investigador de Fenómenos Aeroespaciais e Terrestres (Crifat). Com que objetivo ela foi criada? Essa foi uma ideia minha. Meu objetivo era criar um grupo de pesquisas que atuasse em toda a América Latina e que reunisse as demais entidades do gênero — como a Associação Uruguaia de Futebol, por exemplo, que agrupa todas as equipes dedicadas ao esporte no país, ou a FIFA, que reúne todas as seleções de futebol do mundo. Mas pretendíamos fazer isso com âmbito regional, no continente.
Um grande banco de dados
E como a Crifat foi implantada? Teve sucesso em seu funcionamento? Já tratei do assunto com alguns amigos da Argentina e Chile, assim como falei com você sobre a ideia de formar esse centro regional na América do Sul, que pudesse coletar informações de casos ufológicos e também disseminar tais dados entre todos seus membros. A ideia era de se criar um grande banco de dados em benefício de todos. Mas acabou sendo difícil fazer com que os grupos convidados adotassem o nosso sistema de trabalho, que é semelhante ao que a Comissão usa. Veja que o próprio nome da entidade — Centro Regional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais e Terrestres — já define que suas operações visam tratar da fenomenologia ufológica ocorrida no céu, em terra ou na água. O objetivo inicial era atrair grupos do Uruguai, Argentina, Chile e Brasil para atuarem segundo uma mesma linha de trabalho — e seus resultados poderiam ser usados pela Comissão.
E qual seria a razão de o método de investigação ufológica da Crifat ser adotado pelas demais entidades que a ela se associassem? As vantagens são muitas, entre elas termos uma padronização de métodos. Por exemplo, não sei se o sistema usado no Brasil pode ser compatível com o nosso, e assim, quando algum grupo em seu país me enviar um caso para que eu dê minha opinião, não saberei avaliá-lo devido à diferença entre os métodos empregados. Mas se tivermos todos usando os mesmos procedimentos, teremos uma base de dados padronizada e mais facilmente examinável — ou seja, estaremos “falando o mesmo idioma” em matéria de investigação ufológica.
Isso não será tarefa fácil… Não, não. Reconheço que tal objetivo é bastante difícil de ser atingido, porque na América do Sul temos grupos que encaram a fenomenologia ufológica de formas muito diferentes. Alguns o fazem sob o ponto de vista científico, outros de maneira esotérica ou espiritual, e há ainda outras linhas de pensamento — como os grupos de contatados, a exemplo do Rama [Entidade criada pelos peruanos Carlos e Sixto Paz nos anos 70, difundida em todo o mundo e praticamente extinta. No Brasil, converteu-se em Projeto Amar e está fechado], que não fazem investigação e apenas afirmam estar em sintonia com outras espécies cósmicas.
A ideia da Crifat é excelente, mas implementá-la será um trabalho hercúleo… Sim, mas os benefícios seriam inúmeros, além dos que já descrevi. Usando o mesmo sistema de avaliação de casos ufológicos, podemos todos trabalhar de forma conjunta, o quem representa até mesmo menos gastos. Os resultados, por outro lado, podem ser espetaculares. Teremos condições de analisar muito mais ocorrências e ter com mais precisão informações sobre a fenomenologia que se apresenta, tais como formas, cores, movimentos, trajetórias, comportamentos etc de discos voadores pesquisados com um mesmo sistema. Assim, hipoteticamente, poderíamos dizer: o Fenômeno UFO se manifesta dessa maneira em determinada época do ano, fazendo-o com esse comportamento, apresentando tais formas e cores etc. De outra maneira, como poderíamos saber se tais objetos têm as mesmas características no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, se não temos um banco de dados único?
Realmente, isso seria excelente. E mais ainda em nível mundial, caso se conseguisse que um expressivo número de entidades de pesquisas ufológicas em todo o globo aderisse. Essa foi, aliás, uma tentativa que teve Hynek nos anos 80, mas que não funcionou. Sim, seria. Mas sigo tentando estabelecer a Crifat dentro dos objetivos propostos inicialmente. Não desisto.
Perfeito, coronel. Voltando agora à casuística ufológica, o senhor comentou [Veja a primeira parte da entrevista, na edição UFO 185] que, durante a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em maio de 1986, houve troca de informações entre a Cridovni e a Força Aérea Brasileira (FAB). Como ocorreu isso? Naquela época eu estava trabalhando nos radares do centro de controle de tráfego aéreo uruguaio e soube dos fatos relativos àquela ocorrência em seu país. A Comissão levantou informações sobre o acontecido no Brasil porque aqui no Uruguai também tivemos avistamentos na mesma época — como o caso dos aviões Pucará — e queríamos comparar os dados brasileiros com os nossos. Entre eles, em especial, se o que foi avistado pelos pilotos de seu país era o mesmo que fora testemunhado pelos daqui, e descobrimos que algumas peculiaridades de ambas as ocorrências eram similares — nos dois casos foram avistadas esferas luminosas. O que chamou muito nossa atenção foi que a Aeronáutica brasileira perseguiu uma frota de UFOs sobre a Região Sudeste, especialmente sobre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Como a Cridovni obteve informações sobre a Noite Oficial dos UFOs no Brasil para comparar tal acontecimento com os uruguaios? Na ocasião, o coronel Eduardo Aguirre, que foi o primeiro presidente da Comissão, fez algumas consultas ao adido militar do consulado brasileiro em Montevidéu, um representante da sua Força Aérea. Também houve muita informação divulgada pela imprensa dos dois países, da qual pudemos tirar alguma informação. Fomos muito bem atendidos e recebemos dados bem úteis da FAB, que nos permitiram ver que algo similar à noite oficial ocorreu aqui do lado uruguaio. Não sei se foram os mesmos objetos os observados, mas eram bem similares quanto à forma, suas cores e luminosidade.
Quantidade e qualidade
À frente de um órgão oficial de pesquisas ufológicas, como a Cridovni, o senhor percebeu se houve recentemente algum aumento no número de ocorrências, em termos globais? O que me parece ter acontecido foi um aumento na quantidade de informação sobre o tema. Hoje, graças aos meios de comunicação e à internet, contamos com muito mais dados do que antes. Podemos, por exemplo, conhecer em tempo real detalhes de uma ocorrência de avistamento na Europa, se ela é registrada pela mídia e pela rede mundial. Já no Uruguai houve uma diminuição do número de relatos de novos casos, ao passo que aumentou sua qualidade. Se antes havia 100 relatos por ano, agora temos 30 ou 40, mas são mais elaborados e completos — hoje, o cidadão, ao ver um objeto que não conhece, já descarta a possibilidade de ser um satélite, avião ou qualquer outro fenômeno atmosférico ou meteorológico.
O que o senhor espera para o futuro da Ufologia, digamos em 10 ou 20 anos? O fenômeno irá aumentar em intensidade, a pesquisa estará em um estágio mais avançado? Que quadro, enfim, o senhor imagina que teremos? Pelo que temos visto nesses últimos 30 anos, penso que no futuro a qualidade dos relatos que receberemos vai melhorar ainda mais, que é o que já estamos vendo. Se você tivesse feito essa pergunta em 1979, quando a Comissão foi inaugurada, talvez eu tivesse dito que as pesquisas e investigações iriam continuar à espera de algo novo, ou talvez que a quantidade de relatos aumentaria. No entanto, o que vemos é que aumentou sua qualidade, não quantidade — e acho que dentro de uma ou duas décadas ela será ainda maior e teremos algo mais definido quanto ao fenômeno. Esse é meu prognóstico. Talvez tenhamos a sorte de encontrar alguma civilização extraterrestre inteligente em 10 ou 20 anos. Tomara!
O senhor acredita que a inteligência que está por trás do Fenômeno UFO, seja ela de natureza extraterrestre, ultraterrestre ou qualquer outra, está tentando se aproximar de nós com algum propósito específico? É difícil ter certeza, mas penso que sim. Essa é uma das minhas hipóteses para explicar a fenomenologia, algo relacionado a extraterrestres. Mas, ao passo que não posso descartar essa ideia, também não posso assegurar que estejamos sendo visitados por outras inteligências. De maneira lógica, a possibilidade existe. Acho que assim como vários países estão enviando sondas espaciais para explorar o Sistema Solar, uma civilização igual à nossa — e não precisa ser superior, apenas igual à nossa — também pode estar enviando seus aparelhos para cá. Talvez alguma raça vivendo em um sistema planetário vizinho esteja enviando sondas em nossa direção, para fotografar e explorar a Terra e os diferentes planetas do Sistema Solar. Por que não?
Quem sabe tal civilização seja mais adiantada do que a terrestre… Sim, e se for mais adiantada, poderia enviar até tripulantes em tais aparelhos. Mas, não pensemos que sejam mais adiantadas, pelo menos por enquanto. Pensemos apenas que sejam outra semente de vida que caiu em um sistema planetário vizinho ao nosso, e que envia somente sondas robóticas para cá, tais como as nossas enviadas para o espaço. Apenas isso já seria algo extraordinário.
Sobre nossos possíveis vizinhos cósmicos, o que o senhor pensa das declarações feitas recentemente por Stephen Hawking, cientista reconhecido em todo o mundo, que disse que, se extraterrestres vierem à Terra, poderemos ter uma surpresa bem desagradável? Quando se ouve alguém como Hawking dizer que temos que ter cuidado quando nos encontrarmos com uma civilização superior à nossa, logo se pensa: bem, ele deve saber de algo que nós não sabemos — Hawking não faria uma afirmação dessas sem alguma base sólida. Mas o que ele diz é certo. Veja o exemplo do contato que os espanhóis tiveram com as civilizações indígenas aqui da América do Sul, na Idade Média: a experiência foi bastante ruim para os primitivos, não é verdade? Como se sabe, uma civilização mais poderosa e avançada, como era a europeia daquela época, se comparada às nações indígenas que aqui havia, ao se aproximar de uma mais fraca e despreparada, tende a aniquilar essa última. Isso ocorreu aos incas, aos maias e aos astecas, por exemplo.
Podemos de fato estar em risco caso outras espécies cósmicas venham até aqui? Creio que o que Hawking disse foi que o contato com uma civilização superior a nossa, que possa vir até aqui em busca de certos recursos naturais, que talvez lhes faltem, pode ser algo perigoso para a humanidade. Mas, na verdade, isso dependerá do objetivo que efetivamente tenham. Pode ser que venham em busca de algum conhecimento científico que detenhamos, ou de aprendizagem em técnicas de colonização…
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- Gravações da Noite Oficial: Fita 3 – Lado A – Audio da Torre de Controle do Aeroporto de São José dos Campos
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- Gravações da Noite Oficial: Fita 4 – Lado A – Gravação das Comunicações entre o caça Jaguar 98 e a Defesa Aérea
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- Gravações da Noite Oficial: Fita 5 – Lado B – Gravação das Comunicações entre o caça Jambock 07 e a Defesa Aérea
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