Embora o Caso da Noite Oficial dos OVNIs conte com milhares de testemunhas diretas, centenas de páginas de documentação e gravações em áudio, ainda existem muitas informações desencontradas e alguns boatos envolvendo o caso e que necessitam de esclarecimentos.
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Por Jackson Luiz Camargo
Por várias décadas, as informações envolvendo a Noite Oficial dos OVNIs eram um tanto limitadas. O que se sabia , até então, era resultado das pesquisas de gabaritados ufólogos brasileiros, como Dona Irene Granchi, Walter Buller, Basílio Baranoff e Claudeir Covo, além das informações divulgadas na imprensa nacional, na época do caso.
Em 2009, a documentação oficial da Força Aérea para a década de 1980 veio à público, fornecendo valioso material investigativo, que acrescentou informações e permitiu retificar alguns dados até então incertos, como horários precisos das ocorrências e ações militares frente aos fatos. Nesse fabuloso acervo encontram-se relatórios escritos e datilografados, com relatórios individuais de envolvidos do caso, bem como a descrição de vários aspectos específicos verificados naquela noite, aumentando significativamente o que se sabia sobre o caso. Em 2015, foram disponibilizadas na Internet as gravações da Força Aérea, feitas no calor dos acontecimentos. Nas mais de sete horas de gravações, em áudio, temos comunicações telefônicas, dados de radar, com dados de posição, deslocamento, velocidade e direção de movimento daqueles objetos, além de dados de voo de quatro dos cinco caças envolvidos na perseguição.
Mais recentemente, dentro de um resgate histórico do caso a partir de novas investigações, este autor vem obtendo relatos, de civis e militares, expandindo ainda mais os conhecimentos sobre o caso. Entretanto, muitos detalhes ainda permanecem obscuros e existem ainda muitos boatos, alguns sem fundo de verdade, outros possíveis de serem verdadeiros, pelo menos em parte.
Com base nesta investigação, existem duas informações sobre o caso que devem ser retificadas. A primeira delas, envolvendo o número de objetos presentes no espaço aéreo brasileiro naquela noite. Até hoje, fala-se que eram 21 OVNIs, que teriam sobrevoado os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Hoje sabe-se, que além destes três estados, houve também avistamentos nos estados de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia. Houve avistamentos no Uruguai também, de dois objetos com as mesmas características relatadas no Brasil, no mesmo dia e horário e que também foram perseguidos por dois caças da Força Aérea daquele país.
Com essa gigantesca área de abrangência, com várias centenas de cidades sobrevoadas simultâneamente em diferentes regiões, podemos concluir, com altíssimo grau de certeza, que eram bem mais de 21 objetos naquela noite. Esta informação é corroborada pelo depoimento do controlador de voo Sérgio Mota da Silva, em entrevista à este autor, em que ele confirma esta informação, acrescentando que o número de 21 objetos corresponde ao que foi avistado pelos militares e confirmado pelos radares. Então, avistamentos ocorridos em outros locais, por civis, não entraram na contagem geral. Soma-se à isso, o fato de que quando os militares monitoravam uma área específica com os radares, outras áreas deixavam de ser visualizadas no radar. O processo de acompanhamento é semelhante ao que ocorre nos atuais aplicativos de radar. Se observarmos toda a área do estado de São Paulo, estaremos visualizando a área de várias cidades que compõem aquele estado. Se aproximarmos, visualizando apenas a área da cidade de São Paulo, não estaremos vendo Pirassununga, por exemplo, pois ela estará fora da visualização. Assim era o monitoramento de radar naquela época. Ao ampliar determinada região, outras deixavam de ser visualizadas, consequentemente, qualquer OVNI que cruzasse sobre essas áreas não estaria sendo monitorado pelo operador de radar. Então, talvez nunca saibamos ao certo a quantidade exata de OVNIs que sobrevoaram o Brasil, naquela noite.
Divergência de horários
Outra informação incerta, bastante difundida a respeito da Noite Oficial, envolve os horários das ocorrências. Alguns artigos escritos, ao longo dos anos, apresentam horários diferentes para as ações de interceptação aérea, bem com o horário de começo e término do fenômeno (alguns afirmando que as aparições duraram apenas três horas). Hoje, com o testemunho público de envolvidos, tanto civis e militares, sabe-se que os primeiros objetos surgiram por volta das 17 horas de 19 de maio de 1986 e foram observados continuamente, em diferentes regiões até o raiar do Sol, em 20 de maio de 1986, portanto o fenômeno durou de 12 a 13 horas.
Com relação aos horários de decolagem e pouso dos caças envolvidos e da aeronave Xingú, vale o registro oficial dos documentos da Força Aérea. Sendo assim, temos os seguintes horários (no padrão internacional Zulu [subtraia 3 horas e você terá o horário de Brasília]):
Piloto | Caça/Avião | Controlador | Acionamento | Decolagem | Retorno | Pouso |
Tenente Kleber | Caça F-5 Jambock-17 | Sargento Roarelli | 01:27z | 01:34z | 02:27z | 02:37z |
Capitão Viriato | Caça Mirage IIIEBR Jaguar-116 |
Sargento Fernando | 01:45z | 01:48z | 02:40z | 02:46z |
Capitão Jordão | Caça F-5 Jambock-07 | Sargento Nelson | 01:45z | 01:50z | 02:54z | 03:05z |
Capitão Rodolfo | Caça Mirage IIIEBR Jaguar-98 |
Sargento Enéas | 02:10z | 02:17z | 03:02z | 03:07z |
Capitão Rozemberg | Caça Mirage IIIEBR Jaguar-107 |
Sargento Ivan | 02:30z | 02:36z | 03:26z | 03:30z |
Cmte. Alcir Pereira e Cel. Ozires Silva | Xingu PT-MBZ | Centro Brasília APP-SP e TWR SJC |
–:– | –:– | –:– | 21h30 (hora local) |
Com os dados de registros de horário, presentes nos audios e documentos oficial é possível reconstituir com maior precisar os acontecimentos daquela noite, em um trabalho investigativo que resultou na obra Noite Oficial dos UFOs no Brasil, que pode ser adquirido em contato com este autor. Neste portal, disponibilizados as informações atualizadas da investigação, conforme novos depoimento e informações são obtidos.
Câmera de caça Filmou OVNI
Este é um questionamento interessante, que surgiu mais recentemente, a partir da confirmação da informação de que os caças da FAB possuíam câmeras a bordo, que poderiam ter registrado o caso. De fato, os caças contavam sim com câmeras, mas elas só eram ligadas quando o caça passava para modo rojão, ou seja, modo de combate, com possibilidade de usar seu armamento. Neste caso, a câmera só iria iniciar algum registro caso algum disparo fosse efetuado, pois essa câmera existe para registro de acerto de alvo. Como nenhum dos caças efetuou qualquer disparo, a câmera não fez nenhum registro.
Câmeras e intrumentos registraram o fenômeno em São José dos Campos
Esta é um questionamento mais recente, que não foi cogitado na época e não foi averiguado por pesquisadores civis. Em São José dos Campos (SP), epicentro dos eventos, existiam e ainda existem vários centros tecnológicos e industriais de importância estratégica. Sendo assim, seria natural que houvesse câmeras de segurança e que pudessem ter captado a passagem destes objetos pela região. Além das câmeras, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais realiza monitoramentos diversos em termos de meteorologia e climatologia, com equipamentos e intrumentos posicionados em diferentes áreas do departamento. Então, é inevitável se questionar se houve registro de alguma anomalia detectada por aqueles equipamentos e se tais registros ainda existem. Se foram feitos registros dessa natureza e se ainda existem, seriam elementos de pesquisa interessantes para o caso.
Vídeo dos OVNIS na Noite Oficial de posse de militares
Um outro boato que circula no meio ufológico é sobre a existência de um suposto vídeo, de posse de militares, que registraria em vídeo, o voo de alguns OVNIs na Noite Oficial. Uma versão desse boato dizem que o vídeo foi feito pelos próprios militares. Outras versão diz que ele foi feito por civis, que testemunhavam a aparição. O ponto em comum, nestas duas versões é de que ele está de posse dos militares e que já foi apresentado à militares e para alguns civis. Seja como for, as informações sobre ele são escassas e não há como confirmar de forma definitiva sua existência por enquanto.
Piloto Pousou em Outro Local, Desorientado
Outro boato, envolvendo este caso, relata que um dos pilotos da FAB envolvidos nas perseguições aos OVNIs na noite de 19 de maio de 1986, deveria ter retornado para sua base aérea, possivelmente Anápolis, em Goiás, mas acabou pousando na Base Aérea de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, completamente desorientado, sem saber como teria chegado lá. Sabemos que cinco caças decolaram em missão de interceptação aérea aos OVNIs. Os documentos oficiais informam a hora de acionamento, decolagem, chamado de retorno e de pouso de cada um deles. Além disso, contamos com os relatórios de voo de cada um desses pilotos. Em nenhum documento liberado existe qualquer menção, ou simples pista de pouso em local diferente do programado. Além disso, temos a disposição o áudio gravado durante a missão, de quatro dos cinco pilotos envolvidos, o que pode indicar que tal afirmativa seja mesmo mero boato.
Caça estava imantado e teve de ser aposentado
Outra afirmativa interessante envolve o caça F-5, prefixo FAB4849, pilotado pelo Capitão Jordão e que decolou da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O caça foi chamado de volta para a base já com seu combustível em níveis críticos. As informações não confirmadas, neste caso, citam que o caça parou por falta de combustível já na pista de pouso, o que obrigou a ser rebocado até o hangar. Se o piloto demorasse um minuto a mais em voo, provavelmente seu avião teria caído. No hangar, o avião passou por uma vistoria e quando os técnicos da manutenção aproximaram as ferramentas para abrir os painéis, estas grudaram na fuselagem da aeronave, indicando forte imantação. Devido à isso, a aeronave acabou sendo retirada de serviço permanentemente e aposentada.
Durante nossa entrevista com o controlador Sérgio Mota, ele nos declarou que ouvi esse relato de um dos técnicos aeronáuticos, da Base Aérea de Santa Cruz. Estas informações são, todavia, negadas pelo hoje Coronel Márcio Jordão, que as classifica como boatos. Conforme pudemos checar, a aeronave por ele utilizada naquela noite continua em uso pela Força Aérea Brasileira.
Ainda na tentativa de confirmar todo ou em parte estas afirmativas, conseguimos contato, via Internet, com um militar, que em Maio de 1986 era Oficial de Operações, na Base Aérea de Santa Cruz. Ele, que havia feito um comentário em uma publicação sobre o caso, onde constava seu nome, posto e uma descrição de participação, demonstrando vívida memória dos fatos. Logo de início ele se colocou totalmente à disposição para comentar sobre o caso, e ficamos esperançosos de esclarecer este detalhe em específico. Poucas horas depois, este militar retornou contato declarando que não poderia ajudar, pois nada mais se lembrava daquele caso e foi rapidamente encerrando a conversa. Embora extremamente frustrado, respeitamos a decisão do militar, que até onde pudemos checar, continua ligado ao meio militar, já com um patente mais elevada. Acreditamos, que após contatar outros militares foi aconselhado a nada comentar sobre o fato.
Base Aérea de Taubaté em Alerta
Durante nossa investigação, conseguimos o relato do filho de um ex-militar, na região de Taubaté (SP), que declarou que a Base Aérea de Taubaté acionou o Plano de Defesa do Aquartelamento (PDA), colocando toda a unidade em alerta. Esta informação nos chegou pouco antes da finalização do nosso livro Noite Oficial dos OVNIs, sendo incluído no mesmo. Pouco depois da sua publicação, com em informações de colegas gaúchos e militares, pudemos confirmar que tal unidade não existia em maio de 1986, sendo a Base Aérea criada e estabelecida nos anos seguintes. Se houve algum fato ufológico, que gerou o acionamento do chamado PDA nesta base, então foi em um evento posterior, e não durante a onda ufológica de 1986.
Investigação da FAB sobre o caso
Existem informações extra-oficiais, ou seja, não confirmadas publicamente pela Força Aérea Brasileira, sobre os bastidores dessa investigação. Citaremos aqui estas informações, mas alertamos que elas podem não ser reais em sua totalidade. Como são comentários de bastidores, não se sabe até que ponto correspondem à realidade dos fatos.
Segundo essas informações, todo o material coletado, entre relatórios, depoimentos e gravações, foram colocados sob vigilância já no dia seguinte, até que todo o material fosse reunido.
A equipe formada para a investigação teria sido composta por militares graduados da ativa da Força Aérea e do Exército. Nesta equipe havia também especialistas professores do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e do Instituto Militar de Engenharia. Ambas são instituições de ensino da Força Aérea e do Exército, respectivamente, que oferecem cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas de tecnologia e defesa. Como esses especialistas eram professores nessas instituições, professores substitutos seriam convocados para assumir suas turmas, o que teria gerado especulação entre os alunos sobre os motivos para tais substituições. Para os alunos, inicialmente teria sido informado que estes professores se afastaram por motivos de doença. Posteriormente, diante dos questionamentos por parte dos alunos, alegou-se que a substituição ocorreu por motivos pessoais e mais tarde teriam confirmado que isso ocorreu devido à uma missão classificada (secreta).
Ainda segundo estas informações extraoficiais, alguns trechos mais impactantes das gravações teriam sido editadas, para divulgação pública e de fato, existem sinais de cortes em alguns trechos de algumas gravações, embora ainda assim existam outros trechos impactantes já disponíveis publicamente.
Por conta da coletiva de imprensa, realizada em Brasília, no dia 23, os participantes teriam recebido um roteiro prévio, informando o que poderia ser declarado à imprensa, o que explicaria toda a cautela que demonstraram durante as declarações dadas aos jornalistas.
Ainda de acordo com tais informações, em junho daquele ano, uma equipe de especialistas vindos dos Estados Unidos juntou-se aos militares brasileiros e de imediato eles teriam copiado todos os registros, descartado algumas conclusões da Força Aérea Brasileira. O major aviador chefe da investigação não teria autoridade sobre a equipe estrangeira, e depois de atritos com um dos membros do time norte-americano, teria sido transferido para outra cidade.
Ao final, a comissão conjunta teria concluído que no total eram 21 UFOs, que sobrevoaram os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais e algumas anomalias magnéticas e sismográficas teriam sido detectadas em alguns desses locais. Ainda segundo a comissão, tais objetos demonstravam inteligência, voando em formação complexa, com alternância de posição entre seus elementos. Em dado momento, um deles teria se aproximado, chegando a apenas 50 metros de um dos caças e voado em formação com este, sem que o piloto tivesse percebido visualmente sua presença.
Não há nada de extraordinário nestas informações extraoficiais e é bem plausível e até possível que isso algumas delas tenham realmente ocorrido dessa forma. Quem sabe, no futuro isso se confirme de algum modo.
Referências:
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- Gravações da Noite Oficial: Fita 2 – Lado A – Audio da Torre de Controle do Aeroporto de São José dos Campos
- Gravações da Noite Oficial: Fita 2 – Lado B – Audio da Torre de Controle do Aeroporto de São José dos Campos
- Gravações da Noite Oficial: Fita 3 – Lado A – Audio da Torre de Controle do Aeroporto de São José dos Campos
- Gravações da Noite Oficial: Fita 3 – Lado B – Audio da Torre de Controle do Aeroporto de São José dos Campos
- Gravações da Noite Oficial: Fita 4 – Lado A – Gravação das Comunicações entre o caça Jaguar 98 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 4 – Lado B – Gravação das Comunicações entre o caça Jaguar 98 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 5 – Lado A – Gravação das Comunicações entre o caça Jambock 07 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 5 – Lado B – Gravação das Comunicações entre o caça Jambock 07 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 6 – Lado A – Gravação das Comunicações entre o caça Jaguar-116 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 6 – Lado B – Gravação das Comunicações entre o caça Jaguar-116 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 7 – Lado A – Gravações telefônicas diversas
- Gravações da Noite Oficial: Fita 8 – Lado A – Gravação das Comunicações entre o caça Jambock- 17 e a Defesa Aérea
- Gravações da Noite Oficial: Fita 8 – Lado B – Gravação das Comunicações entre o caça Jambock- 17 e a Defesa Aérea
- ROCHA JR, J. S. Invasão de Tráfego Aéreo em 1986. Revista UFO, nº 55, p. 27. Novembro de 1997.
- EQUIPE UFO. Entrevista com Brigadeiro Sócrates Monteiro. Revista UFO, 163. Março de 2010
- Reportagem do programa Fantástico da Rede Globo exibido em 22/05/2016.
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