A abertura ufológica oferece mais esperanças e certezas, mas também traz mais exigências para os estudiosos.
Desde tempos imemoriais, o Fenômeno UFO se faz presente em nosso meio, deixando atônitos sábios e líderes de cada época. Com o aumento considerável das manifestações ufológicas na segunda metade do século XX, as autoridades se viram obrigadas a encarar seriamente o tema, registrando, documentando e estudando as insólitas ocorrências. Assim, surgiram programas específicos de estudos em diversos países, gerando toneladas de material que, a princípio, era classificado como sigiloso, confidencial, secreto e ultra-secreto, de acordo com as leis de cada país, permanecendo por décadas ocultos do conhecimento público. Durante esse período, ufólogos de todo o mundo se questionaram sobre o conteúdo destes arquivos e a profundidade do conhecimento gerado nestas investigações. Em algumas situações, diversos documentos confidenciais vazaram, chegando às mãos de pesquisadores e aumentando ainda mais a curiosidade sobre seu significado.
Tal material também serviu de base para pedidos de liberação de novos documentos oficiais. Em alguns países, o processo de abertura foi facilitado por leis específicas que estipulam prazos para liberação de documentos sigilosos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Lei de Liberdade de Informação [Freedom of Information Act, FOIA], permitiu aos ufólogos processar o governo e obrigá-lo a entregar informação oficial antes sonegada. Graças a isso, hoje é possível acessar – inclusive via internet – pastas oriundas de diversas agências norte-americanas. Para se ter idéia, no site do FBI há uma seção específica que reúne 1.684 páginas de documentação oficial sobre UFOs, que pode ser acessada no endereço: http://foia.fbi.gov/unusual.htm . E na página da todo-poderosa CIA existem mais títulos sobre inúmeros casos ufológicos, ocorridos em todo o mundo desde 1948.
Analisando estas pastas é possível perceber o enorme interesse da agência de inteligência dos Estados Unidos pela questão ufológica, embora seus dirigentes aleguem não realizar quaisquer estudos a respeito. Um memorando enviado por Ralph Clark para um diretor da CIA, em 29 de janeiro de 1952, afirma textualmente que, “no passado, durante várias semanas, UFOs foram observados visualmente e por radar. Este escritório tem mantido uma contínua revisão de avistamentos confiáveis nos últimos três anos e um grupo especial foi formado para analisar os avistamentos até hoje”. Os documentos também revelam que a agência se sentia muito incomodada com outras entidades governamentais, que lançavam seus próprios estudos a respeito do tema, e nos mostram o jogo duplo em que estava envolvida. Publicamente a CIA negava os fatos, criando comissões com o objetivo de desmistificar o fenômeno, mas secretamente coletava casos ocorridos em todo o mundo. Hoje, milhares de páginas de documentos podem ser encontradas no endereço: http://www.foia.cia.gov/ufo.asp .
No site de outra instituição norte-americana, a Agência Nacional de Segurança (NSA) – ainda mais poderosa do que a CIA –, também estão muitos arquivos significativos, que podem ser acessados em http://www.nsa.gov/public_info/declass/ufo/index.shtml. Mas existem informações ainda mais contundentes que não foram liberadas por nenhuma destas entidades, como descrições de quedas de UFOs e resgates de tripulantes, além de tentativas de perseguição e abate de naves, que permanecerão secretas por tempo indeterminado. Isso para não falarmos da tão sonhada confirmação oficial e irrefutável, por parte das autoridades, de que se tratam de ações de seres extraterrestres em nosso planeta.
Queda de UFOs e resgate de tripulantes
Seguindo o exemplo norte-americano, o Canadá também dedicou especial atenção ao estudo do Fenômeno UFO. Em 02 de dezembro de 1950, o Departamento de Transporte Canadense (DoT) estabeleceu uma iniciativa de estudos do tema sob direção do engenheiro Wilbert B. Smith. O Programa Magnet [Imã], como foi denominado, permaneceu formalmente ativo até a metade de 1954, e informalmente até a morte de Smith, em 1962. O Magnet funcionava dentro das instalações do DoT e tinha apoio do Conselho Nacional de Pesquisa do país. Baseado nas pesquisas do grupo, Smith concluiu que os UFOs tinham origem extraterrestre e aparentemente funcionavam através de mecanismos que manipulavam o magnetismo. Algumas teorias a respeito foram corroboradas por cientistas canadenses, que publicaram artigos durante os anos 70 e 80 na extinta revista ufológica francesa Lumières das la Nuit. Apesar da morte de Smith e do encerramento definitivo do Programa Magnet, o interesse do governo do Canadá se manteve muito ativo. Em 31 de março de 1966 foi firmado um acordo de cooperação militar para pesquisa ufológica entre o país e os Estados Unidos, sob a alegação de que era uma “união de esforços frente à ameaça comunista”, visto que a Guerra Fria era uma preocupação mundial constante.
As duas nações freqüentemente entravam em alerta máximo devido à persistente presença de alvos desconhecidos que ignoravam solenemente suas fronteiras. Até então, pilotos militares tinham ordem para empreenderem perseguições a estes objetos apenas dentro dos territórios de seus países. Com o acordo, no entanto, estavam livres para manter a perseguição em território vizinho. Através do documento JANAP 146 – iniciais de Joint Army, Navy and Air Force Publication, ou Publicação Conjunta do Exército, Marinha e Força Aérea – foram definidas as diretrizes de tal cooperação militar, determinando que os pilotos deveriam reportar às suas bases qualquer veículo aéreo ou marítimo de origem desconhecida que fosse registrado. Para instruí-los, foram confeccionados cartazes explicativos indicando com desenhos os cinco tipos de alvos que deveriam ser relatados: submarinos, aeronaves, mísseis, barcos e UFOs – estes representados pela clássica figura de um disco voador.
Para cada caso registrado, informações específicas deveriam ser preenchidas em um questionário – e mesmo em meio ao amontoado deles, registros de UFOs eram precisos e detalhados, demonstrando preocupação constante por parte das autoridades oficiais. A partir de 1966, com a adoção do JANAP 146, os casos ufológicos continuaram a ser reportados e investigados, principalmente pelo Conselho Nacional de Pesquisa e pela Polícia Montada canadense, que registrou várias ocorrências e gerou um impressionante volume de mais de 1.500 páginas de documentação, agora disponível ao público. O processo de abertura formal do governo canadense começou em outubro de 2007, com a liberação dos primeiros relatórios disponibilizados no site do Arquivos e Biblioteca do país, em uma seção intitulada UFOs, The Search for the Unknown [UFOs: A Busca Pelo Desconhecido], no endereço http://www.collectionscanada.gc.ca/ufo/index-e.html.
Em fevereiro passado, o governo canadense liberou mais um lote de arquivos, disponibilizando agora mais de nove mil páginas no referido site. Analisando a documentação oficial do país, percebe-se que os documentos contêm não só memorandos, relatórios e informes, mas também análises, exposições minuciosas de fatos, atividades presenciadas e ações tomadas, além de encontros e reuniões entre departamentos diversos. Um exemplo deste tipo é um memorando de setembro de 1967, intitulado Unidentified Flying Objects [Objetos Voadores Não Identificados], que afirma: “As investigações dos relatórios sugere a possibilidade de os UFOs conterem informação científica única ou tecnologia avançada que pode contribuir para a pesquisa técnica ou científica”.
Outro memorando detalha um avistamento no porto de Shag Harbor, testemunhado por membros da Polícia Montada e seis testemunhas civis, na noite de 04 de outubro de 1967. Descreve que os presentes viram um objeto de aproximadamente 20 m de diâmetro movimentando-se na direção leste, antes de submergir rapidamente no mar. Uma pequena luz branca apareceu na superfície da água por curto período de tempo e os policiais, com ajuda de pescadores, partiram em busca do estranho artefato, que desapareceu em seguida. Relatos como este já foram citados inúmeras vezes na Revista UFO [Veja edição UFO 138].
O pioneirismo francês
Entre todos os países que liberaram documentação sigilosa – “desclassificação” no jargão ufológico –, a França merece destaque especial. Historicamente, é o país com maior abertura oficial para o tema. Em 1977, o governo francês criou uma comissão especial de estudos ufológicos dentro do renomado Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), uma das mais avançadas do mundo. O Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados [Groupement d’Etude des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés, GEPAN], como ficou conhecido, foi estabelecido em um departamento próprio dentro da sede do CNES, em Toulouse. Seu objetivo era estudar relatórios de casos ufológicos ocorridos em território francês, coletados pela Força Aérea, autoridades civis, cientistas e a Gendarmerie, a polícia militar francesa. É interessante observar que a Gendarmerie tinha um relatório próprio para registrar aparições de UFOs, e era constante colherem de novos casos. Em 1988, o GEPAN foi substituído pelo Serviço de Investigação dos Fenômenos de Reentrada Atmosférica [Service d’Expertise des Phénomènes de Rentrées, SEPRA], que se manteve até 2004, quando foi reestruturado e rebatizado Grupo de Estudos e Informações sobre os Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados [Groupement d’Etude et d’Information sur les Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés, GEIPAN].
Desde o início, o GEPAN tinha apoio de diversos laboratórios especializados espalhados pelo país. Graças a isso, os pesquisadores puderam realizar uma avaliação completa e detalhada dos casos, desde aspectos psicológicos das testemunhas até dados meteorológicos ou análises de amostras coletadas. O constante contato com autoridades militares permitia a verificação de outras possibilidades, como manobras militares ou testes de armamentos secretos. Com todo este apoio técnico, o órgão também pôde realizar um estudo ímpar em cada ocorrência, desenvolvendo um sistema de classificação específica em que enquadrou os casos pesquisados em quatro grupos.
Os casos do tipo A eram aqueles confirmadamente explicados como tendo origem natural ou artificial conhecida. Os do tipo B eram “provavelmente identificados”, sobre os quais restavam poucas dúvidas. Os do tipo C eram situações em que não foram encontradas explicações para os incidentes por falta de dados. E, finalmente, os casos do tipo D eram aqueles sobre os quais todas as análises e informações obtidas permitiram descartar fraudes, enganos, erros de interpretação, fenômenos naturais ou tecnologia secreta de outro país – ou seja, não podiam ter explicação terrestre.
Elevada incidência de casos
O curioso nesta classificação é que apenas 10% dos casos se enquadram no tipo A, ou seja, que tiveram suas causas explicadas como fenômenos naturais, fraudes ou enganos. Em 29% dos casos, enquadrados no tipo B, faltaram informações complementares, mas foram explicados como fraudes, erros de interpretações ou enganos. Em 56% dos casos não foi possível identificar uma causa para o fenômeno causador do avistamento. Do total de casos analisados, em 34% faltaram informações que permitissem confirmar ou descartar hipóteses. Por fim, em 22% dos acontecimentos, mesmo de posse de todas as informações necessárias e depois de testadas todas as hipóteses possíveis, não foi possível identificar uma causa para os fenômenos, nem explicá-los satisfatoriamente.
Ao término de um determinado período, mais de 350 episódios envolvendo situações que não são originadas em fraudes, enganos ou fenômenos naturais foram divulgadas. Nesse arquivo existem não apenas relatos, mas também fotografias, vídeos, mapas, desenhos, laudos de análises laboratoriais etc. Por exemplo, após intensa investigação, o Caso Trans-en-Provence, ocorrido em 08 de janeiro de 1981, foi classificado como tipo D. O agricultor Renato Nicolai, protagonista do caso, testemunhou o pouso de um estranho objeto discóide em sua fazenda, deixando um pequeno círculo no solo e plantas afetadas. Sobre este incidente, encontra-se no site do atual GEIPAN fotos do local, croquis, mapas e laudos procedentes de laboratórios franceses [Veja o livro Dossiê Cometa, código LIV-021 da coleção Biblioteca UFO].
O interesse em disponibilizar estes arquivos na internet surgiu em 2001, quando o GEIPAN, com metodologia própria, começou a desenvolver uma tecnologia para catalogar as mais de 100 mil páginas de documentos que foram liberadas. Nesse meio tempo, houve barreiras jurídicas que atrasaram o projeto, e apenas em março de 2007, depois de vencidos os problemas legais e técnicos, o projeto foi colocado em prática. Tal atitude pioneira inspirou outros governos mundiais, como Inglaterra, Itália, Dinamarca e Suécia, por exemplo, a agilizarem seu processo de desclassificação de arquivos e os disponibilizarem ao público. Atualmente, todos os arquivos do GEIPAN podem ser acessados no endereço http://www.cnes-geipan.fr .
A Inglaterra estreou seu processo de desclassificação ufológica em maio de 2003, quando transferiu suas pastas antes secretas sobre o assunto para o Arquivo Nacional daquele país. Entretanto, somente em 2007, embalados pela liberação dos documentos franceses, é que alguns se tornaram públicos, com a disponibilização de aproximadamente 500 páginas no site do Ministério da Defesa (MoD) britânico. Em março de 2008 foram liberados novos arquivos, que mostram como o governo inglês trata a questão ufológica. Os primeiros documentos se originam dos estudos que visavam determinar se os discos voadores poderiam ser uma ameaça à segurança do Reino Unido. Alguns deles, da década de 50, apontam o interesse do então primeiro ministro Winston Churchill sobre estes fatos. “Até onde vai toda essa coisa sobre discos voadores? O que isso pode significar? Qual é a verdade?”, disse Churchill aos seus assessores. A resposta do Ministério da Aeronáutica foi superficial e limitou-se a explicar os fenômenos como erros de interpretação, fraudes e fenômenos naturais. Caso o primeiro ministro tivesse sido informado corretamente, talvez a história oficial dos UFOs na Inglaterra teria sido diferente.
Entre os documentos desclassificados há arquivos relativos a dois importantes casos ocorridos em áreas militares, um na Floresta Rendlesham e outro em Cosford. Além destes, foram liberadas informações geradas por um estudo oficial, intitulado Unidentified Aerial Phenomena in the UK [Fenômenos Aéreos Não Identificados no Reino Unido], do Ministério da Defesa, que é dividido em três volumes, dois anexos e um índice geral. Este trabalho, desenvolvido por volta do ano 2000, é detalhado e explora todas as faces da fenomenologia ufológica, apresentando descrições de inúmeros casos britânicos, estatísticas, gráficos, desenhos, croquis, mapas, hipóteses, comunicações internas, memorandos e outros documentos do governo daquele país.
Incidentes envolvendo aviões
Em outubro de 2008 houve uma nova desclassificação de arquivos, com um número ainda maior de casos registrados. Foram liberados então 24 lotes de documentos, compostos de 200 a 300 relatos de casos e documentos internos do governo. Um dos registros mais interessantes é o de um episódio envolvendo um avião da companhia aérea Alitalia que quase se chocou contra um UFO sobre a cidade de Kent, em 1991. Depois de longa investigação, o caso foi encerrado e possíveis explicações convencionais, como mísseis, outras aeronaves ou balões, foram plenamente descartadas, permanecendo o mistério sobre a identidade do artefato observado.
Outro relato interessante envolveu um piloto de caça que tentou interceptar um UFO na região leste da Inglaterra, que chegou a disparar suas armas inutilmente contra o estranho objeto. Este caso não é único do tipo, pois em vários outros países houve episódios similares confirmados. Um exemplo aconteceu no Peru, em 08 de abriu de 1980, quando o piloto de caças Oscar Santa Maria disparou contra um UFO que invadiu o espaço aéreo daquele país. A última desclassificação ocorrida no Reino Unido deu-se em 22 de março passado, quando novos documentos foram disponibilizados no site do MoD. Desta vez foram liberados sete novos lotes, totalizando 2.111 páginas e cobrindo os anos de 1987 a 1993. Espera-se liberação de novas informações para breve.
Mistérios também na Austrália
A Austrália é outra nação a desclassificar documentos sobre UFOs. Desde 1982 o país vem realizando uma abertura gradativa e discreta de seus segredos. Atualmente eles estão disponíveis no Arquivo Nacional da Austrália e no escritório de Investigação de Segurança Aérea do Departamento de Aviação. O material revela que o país mantém um eficiente sistema de acobertamento de fatos ufológicos e considera a pesquisa do Fenômeno UFO relevante. Não poderia ser de outra forma, especialmente se levarmos em conta que a Austrália é palco de registros fantásticos de ocorrências ufológicas, como o caso Frederich Valentich, que desapareceu com seu avião após empreender uma perseguição a um gigantesco UFO sobre o Mar da Tasmânia. Até 1980, a investigação oficial no país era realizada pela Real Força Aérea Australiana (RAAF). A partir deste ano, esta responsabilidade passou para o Departamento de Defesa Policial. Da mesma forma como ocorre na investigação oficial das autoridades francesas e canadenses, uma parcela dos casos registrados na Austrália também permanece sem explicação plausível.
E a exemplo do governo norte-americano, o australiano usou os mais diversos pretextos para tentar explicar os casos insolúveis. Em relatos envolvendo atitudes agressivas ou ocorrências com dano resultante das aparições de UFOs, as justificativas até então eram inéditas no meio ufológico – tornados. A desculpa era muito utilizada nos relatórios oficiais até 1967, mas, com o advento de novas descobertas tecnológicas, outra explicação incomum começou a ser usada – plasma. Porém, esta acabou sendo pouco aceita, pois eram óbvios o acobertamento e a tentativa de mistificação por parte dos responsáveis pelos tais “esclarecimentos oficiais”.
Este tipo de atitude por parte da RAAF gerou várias críticas de instituições nacionais e internacionais. Em 1976, o Departamento de Defesa australiano enviou ao GEPAN um relatório de casos catalogados e estudados por sua Força Aérea. Claude Poher, na época diretor do órgão francês, respondeu da seguinte maneira: “Posso dizer ao pessoal responsável por este trabalho que algumas das possíveis causas mencionadas nos relatórios simplesmente não são aceitáveis”. O doutor Poher citou, inclusive, um episódio ocorrido em Wickham, em 04 de abril de 1975, em que um disco voador de aspecto prateado foi observado. A RAAF explicou o episódio como um simples erro de interpretação, alegando que o objeto avistado seria apenas Vênus. Poher fundamentou sua opinião no fato de que o planeta não estava visível na direção e horário mencionados, e acrescentou que sem o endosso de especialistas de diferentes áreas, jornalistas ou simples curiosos poderiam levar o nome do Departamento de Defesa ao ridículo.
Manobra de acobertamento disfarçada
A má-vontade da RAAF em lidar com o assunto era visível até mesmo na organização dos documentos gerados. O sumário anual de casos ocorridos na Austrália começou com o número um, que abrange os anos de 1960 a 1968. O segundo compreende o ano de 1969. O terceiro inclui os anos de 1970 e 1971. Já do quarto ao nono sumário é possível notar que não existe uma ordem lógica, o que gera confusão no momento em que os arquivos são consultados, tanto na sede do Arquivo Nacional, em Canberra, como no site da instituição. A consulta disponível no site também apresenta muitas falhas. Os arquivos são classificados com várias palavras-chaves diferentes: “UFO”, “Unidentified Flying Object”, “Flying Saucer” e “Flying Saucers”, “Unusual Aerial Sightings” ou “UAS” etc. Uma pasta específica pode estar catalogada sob apenas uma palavra-chave. Exemplificando, se um pesquisador digitar “UFO” no campo de pesquisa, aparecerão 11 registros, sendo quatro deles disponíveis. Se digitar “Flying Saucers”, surgirão 49 registros, sendo 33 disponíveis. Parece uma manobra de acobertamento disfarçada de imperícia técnica.
A Espanha também reconhece oficialmente a existência dos UFOs e libera documentação oficial publicamente. Desde 1992 o país vem desclassificando documentos oficiais, outrora sigilosos, sobre casos registrados pela Força Aérea Espanhola (FAE). São registros de diversos episódios pesquisados com rigor pela instituição, além de relatórios de ocorrências nas Ilhas Canárias e outras áreas do mar territorial espanhol. Os registros mais antigos datam de 1962, quando aparentemente o assunto UFO começou a ser registrado oficialmente pelo Ministério do Ar. Em 1968 houve um aumento considerável no número de avistamentos, despertando o interesse da defesa espanhola, pois UFOs passaram a ser constantemente registrados por radares ou reportados por pilotos e civis.
Segundo as leis espanholas, relatórios de avistamentos ufológicos devem ser catalogados no mínimo como assunto reservado. Quando expirou o prazo legal de sigilo, em 1992, vários documentos foram oficialmente desclassificados para consulta pública. A maior parte deles é referente a registros de discos voadores tendo como testemunhas pilotos, controladores de tráfego aéreo e militares. Uma característica marcante destes registros é a riqueza de detalhes referentes aos fatos registrados – em vários deles existem transcrições completas de diálogos entre os pilotos e os controladores. Fotografias, mapas e jornais da época em que ocorreram os avistamentos etc também estão disponíveis. A princípio, eram arquivados no Estado-Maior da Força Aérea, em Madri, sendo depois transferidos para o Comando Operativo Aéreo, na Base Aérea de Torrejón de Ardoz. Após serem liberados, foram disponibilizados na biblioteca do Exército do Ar.
A exemplo de outras nações, a desclassificação de documentos espanhola também não é completa. Segundo o principal responsável pela liberação das pastas, o tenente-coronel Angel Bastida, a FAE ainda mantém em seus arquivos documentos com conteúdos que podem ameaçar a segurança nacional ou, em casos específicos, que tenham nomes e dados que podem afetar a privacidade de testemunhas dos casos registrados. Um detalhe pertinente observado neste caso é que, com a divulgação dos documentos oficiais, tornou-se evidente que a FAE vinha mentindo aos meios de comunicação em várias situações, quando publicamente desacreditou casos ufológicos enquanto secretamente vinha registrando a detecção dos objetos no espaço aéreo do país. Embora a desclassificação espanhola tenha importância histórica pela época em que ocorreu, antes da inglesa e da mais recente francesa, e também pela qualidade dos documentos disponibilizados, pesquisadores criticam a ausência de relatórios para casos considerados importantes, documentados por grupos ufológicos daquele país. Apesar disso, novos documentos ainda devem ser liberados em breve.
Preservação da segurança aérea
A Dinamarca também iniciou seu processo formal de desclassificação de arquivos ufológicos em 28 de janeiro passado, quando disponibilizou 329 páginas de documentação oficial no site da Força Aérea Dinamarquesa (FTK). Durante anos, a FTK registrou relatos de pessoas que avistavam UFOs pelo país afora, limitando-se a contatar outros órgãos militares na tentativa de encontrar explicações para os fenômenos. Na sua maioria, os episódios foram explicados adequadamente, porém uma pequena parcela permaneceu sem conclusão. Como ocorreu a quase todos os governos até então propensos a liberar seus arquivos, o interesse inicial era determinar se os UFOs representavam uma ameaça à segurança nacional. Segundo o capitão Thomas Pedersen, do Comando Tático do Ar dinamarquês, órgão responsável pelo registro e estudo de UFOs no país, eles não representam uma ameaça e, assim, seguindo o exemplo francês e inglês, o assunto acabou sendo liberado oficialmente.
A Itália é outro país que recentemente admitiu a materialidade do Fenômeno UFO. Mas a abertura ufológica no país deixou a desejar, pois houve apenas um reconhecimento formal da existência do fenômeno. A forma escolhida pelo governo italiano para isso foi disponibilizar no site da Força Aérea Italiana (FAI), na seção intitulada Avvistamenti UFO [Avistamentos ufológicos], dados superficiais de alguns casos ocorridos pelo país. O leitor pode consultar este material no endereço http://www.aeronautica.difesa.it/News/Pagine/RepartoGeneraleSicurezza.aspx. Os acontecimentos estão dispostos por ano de ocorrência, de 2001 a 2008, mas nenhum documento oficial foi liberado, apenas registros coletados pelo Departamento Geral de Segurança. A FAI alegou que mantém seus arquivos no interesse da preservação da segurança aérea do país. Ainda segundo seu site, dados anteriores a 2001 estão sendo reorganizados para serem publicados em breve.
A página da Aeronáutica italiana disponibiliza também um formulário que pode ser baixado e impresso por qualquer testemunha, para ser preenchido e entregue em delegacias de polícia espalhadas pelo país, como no modelo francês. Esta forma de lidar com o assunto é inócua, pois aparentemente as autoridades somente coletam informações, sem fazer uma investigação aprofundada sobre os fatos. Se compararmos o interesse dos italianos quanto aos UFOs com o dos países vizinhos, fica difícil não imaginar que existam muitos outros documentos de pesquisa ainda secretos, que dificilmente serão liberados. Portanto, cabe à população italiana interessada na liberdade de informação a cobrança disso a seu atual governo.
Falta o Uruguai abrir os arquivos
A lista de nações que estão desclassificando documentos ufológicos oficiais aumenta a cada dia. Alguns países, embora ainda não tenham disponibilizado documentos, ao menos se dizem abertos em relação ao tema. Um exemplo é o Uruguai, que em agosto de 1979 criou a Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objectos Voladores No Identificados (Cridovni) dentro de sua Força Aérea. O objetivo principal da entidade é receber e analisar casos ufológicos ocorridos no país, criando um banco de dados, e ainda promover intercâmbio técnico e científico com instituições internacionais. Entretanto, a documentação oficial gerada por esta comissão ainda é reservada. Aqui no continente, o Chile é outro país com grande abertura ao tema. Nas instalações da Força Aérea do país, em Santiago, existe um departamento intitulado Centro de Estúdios de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA), fundado em outubro de 1997 e subordinado à diretoria de Aviação Civil chilena. A função principal do CEFAA é reunir informações sobre casos ufológicos e pesquisá-los, mas seus arquivos ainda não estão disponíveis.
Em 13 de março de 2008, o governo do Equador também abriu seus arquivos aos pesquisadores, disponibilizando 44 casos documentados de aparições de UFOs no país, cumprindo parte da determinação do presidente Rafael Correa, que deseja transparência nas informações governamentais. Em outros países da América do Sul, o processo de desclassificação está apenas começando, seja por iniciativa governamental ou através do esforço e determinação de pesquisadores independentes. Na Argentina, por exemplo, vários centros de pesquisa ufológica estão se unindo para reivindicarem a liberação de documentação oficial do governo. Em recente reunião, foi redigida uma petição oficial que será enviada ao Congresso, acompanhada de um abaixo-assinado.
Em diversas ocasiões o governo da Argentina se mostrou interessado no assunto, chegando inclusive a criar comitês de pesquisa. O primeiro deles foi a Comisión Permanente de Estudios del Fenómeno OVNI (Copefo), formado em 1962 e composto por oficiais da Marinha. A entidade funcionou até 1967, quando foi encerrada. Ainda em 1962, a Força Aérea Argentina criou sua própria comissão independente, que exercia suas atividades dentro do serviço de informações do órgão. Todas elas, bem como outras criadas no âmbito militar, geraram um dossiê de 300 páginas, que foi entregue em 1997 ao então secretário de assuntos militares do Ministério da Defesa, Jorge Pereyra de Olazabal. A conclusão do documento era de que havia um fenômeno genuíno por trás das manifestações ufológicas, pois uma parcela dos casos pesquisados não tinha uma explicação natural e plausível. Com a possível liberação da documentação argentina, este dossiê será mais um documento oficial atestando a ocorrência de um fenômeno inteligente de origem desconhecida.
Queima de arquivos essenciais
Em qualquer ambiente governamental, seja no Brasil, na Espanha ou nos Estados Unidos, existe burocracia. Isso significa que as diferentes repartições que movem a máquina pública irão produzir um volume enorme de papelada que, por conseqüência, irá ocupar um grande espaço em escritórios e departamentos estatais. Geralmente, esta papelada é processada e microfilmada – às vezes até digitalizada –, tornando desnecessário o armazenamento dos papéis por um longo período. Eles são então destruídos, seja por fogo ou picote. Em alguns casos, os papéis são mantidos por mais algum tempo, caso o assunto em pauta possa ser retomado.
Este processo de produção de documentos, armazenamento temporário, microfilmagem e posterior destruição é algumas vezes falho. Seja por intenção, omissão, erro ou extravio, alguns documentos acabam sendo perdidos. No caso do governo inglês, por exemplo, sabe-se que os registros ufológicos até 1966 eram considerados sem importância social ou histórica, e assim acabavam sendo destruídos. Somente a partir de 1967, com uma grande onda ufológica ocorrendo no Reino Unido, é que o assunto foi novamente considerado relevante o suficiente para os arquivos e documentos serem mantidos arquivados.
Não podemos estimar até onde a Ufologia será prejudicada pela perda de documentação importante nestes processos. No Brasil existem exemplos de descaso, descuido ou simplesmente de interesses particulares determinando o destino de alguns documentos oficiais. Um exemplo é o caso da queima de documentos confidenciais da Base Aérea de Salvador, em 2004. A perda destes arquivos prejudica o trabalho de pesquisadores e em alguns casos até sepulta para sempre importantes fatos da história do país. Somente com a pressão de ufólogos, historiadores, cientistas da informação e da sociedade civil é que poderemos reverter essa situação e trazer à tona estes segredos governamentais, que devem ser expostos publicamente.
Em entrevista para a Revista UFO, o brigadeiro José Carlos Pereira afirmou que não há nenhum motivo para manter os arquivos ufológicos em sigilo [Veja edições UFO 141 e 142]. “A liberação não expõe o país a uma guerra, não vai provocar pânico, não coloca em risco a Segurança Nacional e nem atinge a privacidade de pessoas eventualmente citadas neles. Isso é o que temos que ter em mente. Se não vai afetar nenhuma destas questões, então revela!” Sua declaração, embora tenha sido focalizada no âmbito nacional, pode ser válida também internacionalmente, pois seja no Brasil, na Rússia, China ou EUA, a verdade é uma só: existe um fenômeno de origem desconhecida e externa à Terra agindo em nossos céus, e que não representa necessariamente uma ameaça.
O velho clichê utilizado pelas autoridades, de que a revelação dos fatos ufológicos pode gerar situações embaraçosas a muitas nações, já não se justifica. Ora, é justamente com o reconhecimento gradativo do Fenômeno UFO por todos os governos mundiais, com a confirmação dos fatos, desclassificação de documentos, liberação de gravações em áudio, vídeo etc, que a humanidade irá se acostumar com a realidade a que está confrontada, e só assim estará pronta para conhecer a verdade. Este é o caminho a ser seguido.
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