Aninhado nas terras altas da Escócia, rodeado de montanhas escarpadas, florestas e campos, o Lago Ness é um dos grandes lagos da Europa. Com pouco mais de 38 quilômetros de extensão possui 1,5 quilômetro de largura e uma profundidade fantástica — mais de 210 metros em alguns trechos — ele se torna, em termos de volume, o terceiro maior reservatório natural de água doce da Europa. E talvez seja mesmo o mais misterioso de todos. Em suas águas geladas, escuras e praticamente opacas em virtude da turfa, especula-se a existência de uma imensa criatura.
Neste artigo:
- Introdução
- História Viva
- O Ressurgimento de Nessie
- Nessie no Centro das Atenções
- Um Vídeo Gera Investigações
- Investigações científicas
- Ceticismo
- Em Busca de Explicações
- Novas Investigações
- Outros Monstros
- Fonte
Introdução
Entre as inúmeras pessoas que acreditam piamente na existência de uma enigmática criatura nas águas do lago está o agricultor Hugh Ayton. Em 1963, ele outras quatro pessoas aravam um campo, às margens do lado, próximo da vila de Dores. Por volta das 19h30, seu filho, Jim, avistou algo se mexendo no lago e alertou o grupo. Todos olharam para o lago e viram algo grande e preto agitando as águas por onde passava.
Ao perceber que estavam possivelmente diante do Monstro do Lago Ness, eles correram até um pequeno basco presente ali perto e tentaram se aproximar. “A coisa continuava se movimentando pelo lago e à medida que chegamos mais perto deu para ver mais detalhes. O pescoço era comprido, mais ou menos 1,80 metro fora da água. A cabeça parecia a de um cavalo, só que maior e mais chata. O corpo tinha três corcovas baixas — com uns 10 a 12 metros de comprimento ao todo e mais de um metro de altura. Era escuro e tinha a pele áspera.”
Eles já estavam a menos de 50 metros do animal, segundo Ayton, quando:
“O monstro tirou o corpo um pouco mais para fora da água e depois mergulhou, provocando tremenda comoção nas águas e fazendo o barco rodopiar. Uma coisa que eu nunca mais vou esquecer é o olho dele — oval, perto do topo da cabeça. Nunca mais vou esquecer aquele olho olhando para a gente.”
Não se sabe quando o monstro do lago Ness foi visto pela primeira vez, nem o relatou pela primeira vez. Os chamados espíritos das águas fazem parte das lendas escocesas e de alguns relatos históricos há séculos. Em 565, o missionário irlandês são Columbano teria cruzado, às margens do Ness, com alguns aldeões que enterravam um homem supostamente morto por um monstro. Existem relatos de que o santo teria salvo alguém que nadava no lago e se assustara com “uma fera demasiado estranha, algo que parecia ser uma imensa rã, mas que com toda certeza não era uma rã”. Segundo a lenda ou história, a criatura teria devorado o infeliz se o santo não tivesse intervindo: “Não te adiantes nem mais um passo nem toques naquele homem, Vá embora imediatamente!” Diz-se que o monstro chegou a menos de 5 metros do nadador, mas afundou nas águas e desapareceu, sem causar nenhum mal.
Os antigos escoceses batizaram essas criaturas de gênios da água, cavalos aquáticos, touros aquáticos, ou apenas Espíritos. E como tais eram temidos. As mães não deixavam os filhos brincarem muito perto das margens de lagos e rios. Segundo acreditavam, a fera assumia a forma de um cavalo que passava a galope pelos campos, seduzindo as crianças a subir em sua garupa. Depois voltava às profundezas, levando consigo o pequenino.
Em tempos mais atuais, consta que uma das primeiras aparições diurnas teria ocorrido em 1880. Duncan McDonald, barqueiro experiente e acostumado ao Lago Ness, havia mergulhado para examinar uma embarcação que afundara quando, de repente, começou à dar sinais frenéticos para que o puxassem para a superfície. Ao chegar à tona ele estava pálido, e tremia muito e levou um bom tempo até conseguir dizer que tinha visto um monstro nas águas escuras e lodosas. O que mais o impressionou foi o olho, “pequeno, cinza e malévolo” segundo McDonald. E depois dessa experiência, Duncan nunca mais entrou no lago.
De 1880 até hoje, estima-se que tal monstro teria sido avistado mais de 3 mil vezes, sendo visto por agricultores, padres, pescadores, advogados, policiais, políticos e até mesmo um detentor do prêmio Nobel de química, o inglês Richard L.M. Synge, que viu a criatura em 1938.
Essas observações ocorreram tanto das margens quanto de barcos, em diferentes horários, por indivíduos ou grupos, e a repercussão desses avistamentos levou à criação de várias expedições. Pesquisadores chegaram a passar meses a fio observando o lago de binóculo. Já lançaram minissubmarinos em suas águas profundas. Já esmiuçaram seus recantos sombrios com câmeras de luz estroboscópica e equipamento sonar.
Além de um volume impressionante de testemunhos oculares, toda a prova que há se resume a um punhado de fotos indistintas e ambíguas, umas poucas filmagens e leituras discutíveis de sonar. Apesar de tanta atenção, as charadas do lago Ness e de sua fugidia criatura continuam tão longe de uma solução quanto estavam naquele dia, em 1880, quando Duncan McDonald quase morreu de susto com a forma malévola que ele supôs ter visto nas águas opacas do lago.
História Viva
Os geólogos calculam que o lago Ness se formou durante a última era glacial, há cerca de 10.000 ou 20.000 anos, pela erosão causada com o deslocamento de uma geleira.
Mas os escoceses das montanhas têm uma explicação mais sugestiva tanto para o lago quanto para o seu nome. Nos tempos antigos, reza a lenda, o lago era um vale paradisíaco, com um poço sagrado, abençoado por um sacerdote druida. Suas águas curavam qualquer doença. Mas, como todo éden, o vale vivia sob a ameaça constante de destruição. Os druidas haviam prevenido a população, avisando que, depois de tirar água do poço, era preciso sempre recolocar a pedra para fechá-lo.
Tudo corria bem até um dia em que uma mulher foi até o poço deixando seu bebê em casa, ao lado da lareira. Lá estava recolhendo sua água quando ouviu o choro do filho e disparou de volta, evitando que a criança se queimasse com uma brasa. Mas o poço ficara destampado. As águas inundaram o vale. Desse lamento teria surgido o termo Ness, que daria o nome ao lago.
O chamado Grande Glen escocês é uma falha geológica que divide a Escócia ao meio, de Fort William, no sul, até Inverness, no norte. É nessa região que o lago está situado e ali ele é sujeito a ventos fortíssimos capazes de fazer com que mude totalmente de aparência, em questão de minutos. Em um momento sua superfície é como um tranquilo espelho de água e logo em seguida se transforma em uma massa feroz, com ondas de quase 3 metros.
Existe um ditado local que diz o lago Ness nunca devolve seus mortos. Um corpo morto é consumido pela fauna lacustre muito antes de haver tempo para se formarem os gases que levariam o cadáver à superfície.
Em 1932, a mulher de um eminente banqueiro afogou-se num acidente de barco no lago. Embora fosse excelente nadadora e estivesse a alguns metros apenas da margem, ela afogou-se e seu corpo nunca foi recuperado. Vinte anos depois, o conhecido piloto de lancha de corrida, John Cobb, morreu enquanto tentava quebrar o recorde mundial de velocidade na água. Supostamente as condições eram ideais e havia apenas uma brisa leve. Mas o barco de Cobb desintegrou-se ao atingir uma zona de águas turbulentas a mais de 300 quilômetros por hora. Dizem alguns que a zona de turbulência era a esteira deixada pelo monstro. Outros, no entanto, acreditam que Cobb com toda certeza entrou na esteira do seu próprio barco.
Na região onde o lado é mais largo e profundo fica as ruínas de Urquhart, uma antiga fortaleza normanda que, segundo a lenda, foi construído com pedras levadas por bruxas. Disputado em certa época entre ingleses conquistadores e escoceses rebeldes, esse castelo do século XII é hoje em dia famoso pela vista, do lago, que seria a mais apropriada para observar o monstro.
O Ressurgimento de Nessie
Como um monstro teria chegado ao lago Ness é um mistério quase tão grande quanto a essência do próprio monstro. Às únicas vias que ligam o lago ao mar são o canal Caledonian, aberto à navegação em 1822, e o rio Ness. O canal é controlado por comportas que se abrem apenas para dar passagem às embarcações. O rio agora é muito raso para acomodar uma criatura de proporções monstruosas, embora deva ter sido muito mais fundo logo após o final da última era glacial, antes que a terra subisse, aliviada do imenso peso das geleiras.
De qualquer maneira, o lago Ness, que é rico em enguias, salmões, trutas e outros peixes, seria um lar confortável para qualquer monstro. Entretanto foi só em meados de 1930 que Nessie deu sinal de vida, depois de séculos de quietude. Então, houve uma primeira notícia de sua aparição em 22 de julho de 1930, quando o jovem lan Milne e dois companheiros pescavam na costa de Tor Point, perto da minúscula cidade de Dores. Os rapazes estavam em busca de salmão quando notaram, espantados, uma grande agitação nas águas do lago, a cerca de 500 metros de onde eles estavam. “Eu vi a espuma subir a uma altura considerável”, relatou Milne.
A coisa avançou na direção dos pescadores e ficou a uns 300 metros de distância, depois se virou rapidamente, em semicírculo, e partiu numa velocidade de uns 15 nós ou mais. “À parte que nós vimos devia ter uns 6 metros de comprimento, com 1 metro fora da água. Deixou uma esteira que sacudiu violentamente o barco”, disse Milne, que concluiu solenemente. “Não há dúvida de que era uma criatura viva e eu afirmo que não se tratava em hipótese alguma de um tubarão gigante, foca, cardume de lontras do mar ou outra coisa qualquer normal.”
O relato de Milne, publicado na imprensa local, provocou uma certa comoção e levou muita gente a escrever cartas contando experiências semelhantes. Mas como ninguém mais teve oportunidade de avistar Nessie, o assunto foi morrendo. Passaram-se dois anos, e em 1933, o monstro do lago Ness regressou para valer. Naquele ano, uma equipe de trabalhadores estava executando uma obra de conserto e recapeamento da estrada ao longo da margem norte do lago e, para alguns investigadores, houve uma relação estreita entre os dois acontecimentos. De fato, ainda que a agitação causada pelos trabalhadores provavelmente não fosse suficiente, como queriam alguns, para perturbar o sono do monstro em sua caverna subaquática, é bem possível que o número de árvores derrubadas ao longo da estrada tenha dado aos passantes uma visão melhor do lago e de seu eventual habitante.
Seja qual for a causa, no dia 14 de abril de 1933, o senhor e a senhora John Mackay, hoteleiros de Drumnadrochit, passavam de carro ao longo da estrada que margeia o lago Ness quando a senhora Mackay percebeu a superfície serena do lago ser violentamente quebrada por uma erupção repentina de um redemoinho turvando a água. Atônita, a senhora Mackay viu o que lhe pareceu ser um enorme animal emergir e mergulhar durante cerca de um minuto, antes de desaparecer em meio à espuma. O casal contou sua inacreditável história a Alex Campbell que, entre outras coisas, era o correspondente local do Inverness Courier. Campbell, que depois afirmaria ter visto o monstro inúmeras vezes, no decorrer dos anos, mandou sua história para o jornal.
O fato é que Nessie passou a surgir de vez em quando para espanto de todos, nativos e turistas. Segundo contaram, ela chegou até a aparecer em terra. Numa bela tarde de julho daquele ano, George Spicer, um negociante londrino, passeava com sua mulher perto do lago quando de repente uma “criatura horrorosa”, com um pescoço longo e quase 8 metros de comprimento atravessou a estrada bem na frente do carro. A fera parecia levar uma pequena ovelha ou algo parecido na boca, disse Spicer. Foi a coisa mais próxima “a um dragão ou animal pré-histórico que eu já vi na vida”, acrescentou ele.
Em outra ocasião, em setembro, da janela de uma casa de chá, um grupo de seis pessoas disse ter visto o monstro enquanto ele nadava pelo lago, a 600 metros de distância. Tinha cabeça de serpente e seu pescoço subia e descia, oscilando de um lado para outro; as pessoas viram duas corcovas e uma grande cauda fustigando a água. Observaram fascinadas durante bem uns dez minutos até que a criatura se afastou devagar e mergulhou, desaparecendo completamente. A comoção durou o verão todo e o monstro foi visto inúmeras vezes por dezenas de pessoas. Segundo a senhora Spicer, “era uma criatura horrenda, abominável”.
À primeira foto de Nessie foi tirada em meados de novembro de 1933, por um morador da região, Hugh Gray, que focalizou sua câmera num trecho do lago muito agitado, a menos de 100 metros dele; quatro chapas queimaram, mas a quinta, ainda que danificada, mostrava uma forma vagamente delineada, sinuosa, na água. Gray não quis arriscar um palpite sobre seu tamanho, dizendo apenas que era enorme. A pele lhe pareceu lisa, brilhante, cinza-escura. O negativo foi examinado por vários especialistas em fotografia e todos asseguraram que ele não apresentava sinais de falsificação.
Aquelas alturas Nessie já tinha se transformado em assunto para a imprensa nacional, com pencas de repórteres informando diretamente da Escócia. Ofereceram-se prêmios polpudos para quem conseguisse capturar o monstro, vivo ou morto. Os hotéis da região jamais lucraram tanto, e as lojinhas de suvenir foram à forra, vendendo mil e uma bugigangas em forma de monstro. Tamanha era a paixão que, nos feriados, formavam-se grandes congestionamentos na estrada à beira do lago. Consta que até o primeiro-ministro britânico da época, Sir Ramsey MacDonald, teria ficado muito interessado, a ponto de planejar uma viagem para o norte, com a esperança de pelo menos avistar Nessie.
Nessie no Centro das Atenções
Em Londres, um restaurante de frutos do mar reagiu à febre do monstro oferecendo no cardápio “filé de linguado à moda do lago Ness”. Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, uma confecção feminina fez sucesso com um conjunto chamado “Lago Ness”: vestido verde-escuro, com jaqueta combinando, com uma aba larga com de pele de raposa cinzenta.
O impacto turístico foi tão grande deixando austríacos muito insatisfeitos e levando o governo da Áustria a se queixar de que tudo não passava de uma conspiração escocesa para afastar os turistas dos Alpes e das docerias de Viena.
Claro que o ambiente fomentava um embuste e, inevitavelmente, pelo menos um foi realmente perpetrado. Em dezembro, um caçador de animais de grande porte, acompanhado de seu fotógrafo pessoal, chegou ao lago Ness com a intenção declarada de capturar o monstro. Nem bem haviam começado sua pesquisa quando relataram ter descoberto gigantescas pegadas, deixadas horas antes nas margens do lago.
O mundo aguardou ansioso pelo pronunciamento do Museu Britânico a respeito das fotos que haviam obtido. Na opinião abalizada deles, as pegadas pertenciam a um pé empalhado de hipopótamo, pertencente a um morador local.
Embora essa fraude tenha colocado uma aura de ridicularização no mistério, foram surgindo mais alegadas testemunhas do monstro. No começo de 1934 ele teria aparecido pela segunda vez em terra. Numa noite enluarada, Arthur Grant, um jovem estudante de veterinária presumivelmente confiável, passeava de motocicleta quando viu um grande objeto escuro na estrada. Grant parou, desmontou da moto e foi procurando aproximar-se com cuidado.
Segundo ele, quando chegou perto viu que não era um objeto, mas sim um animal, cuja cabeça lembrava a de uma cobra ou de uma enguia. O bicho ficou olhando para ele e, quando chegou a menos de 20 metros, saiu aos saltos e mergulhou no lago. Grant fez um esboço da figura que dizia ter visto: o monstro tinha uns 6 metros de comprimento, com um corpo pesado e quatro patas; o quarto dianteiro era fraco e pequeno, mas os quadris imensos e fortes o suficiente para permitir-lhe sair saltando pela estrada, como se fosse um enorme canguru. “Parecia um híbrido”, comentou o rapaz. Para muitos, entretanto, o animal em questão dava a impressão de ser um plesiossauro, um réptil aquático que habitou a Terra na época dos dinossauros, 70 milhões de anos atrás.
A cabeça pequena, o pescoço de serpente, o tamanho, as nadadeiras e os hábitos aquáticos, tudo parecia se encaixar. Mas isso era impossível — ou será que não? Os relatos e o consenso cada vez maior acerca do que o monstro poderia ser aguçaram o interesse de um homem chamado Rupert Gould, o primeiro de muitos que tentaram identificar o monstro de uma vez por todas. Gould, que estava com 37 anos quando se aposentou do departamento hidrográfico do Almirantado Britânico, em 1927, tinha vários interesses na vida, entre os quais se incluíam a relojoaria, o motocontínuo, os canais de Marte, Nostradamus e o segredo hindu do encantamento de serpentes. E, além de tudo, interessava-se também por serpentes marinhas, sobre as quais discorreu num livro que publicou em 1930.
Gould concentrou-se no lago Ness, enquanto se multiplicavam os relatos a respeito de Nessie. Gould chegou a Inverness em novembro de 1933, comprou uma pequena motocicleta que batizou de Cintia e lá se foi para o lago. Um homem grandalhão, com mais de 1,90 metro de altura, Gould era uma figura meio cômica. Mas era também incansável, rodando sem parar pelas margens do lago e entrevistando cerca de cinquenta pessoas que tinham supostamente visto o monstro. Em 1934, sem nunca ter visto coisa alguma, publicou O Monstro do Lago Ness e Outros, o primeiro livro sobre o assunto.
Seu livro não impressionou muito os zoólogos, mas encantou Sir Edward Mountain, um milionário das empresas de seguros que pescava salmão na Escócia. No verão de 1934, Sir Edward financiou pessoalmente a primeira expedição de investigação do monstro do lago Ness.
Os integrantes eram todos homens da região, recrutados pelo próprio Sir Edward em listas de desempregados. Escoceses até a morte, todos registraram solenemente a ocupação de “Observadores do Monstro”, em suas carteiras de trabalho. Sir Edward equipou o grupo com máquinas fotográficas e binóculo, e fez com que se espalhassem por vários pontos em volta do lago durante cinco semanas, nove horas por dia. Os observadores do monstro relataram várias aparições e tiraram 21 fotos. Mas apesar do interesse manifestado pelo próprio rei Jorge V, que até levou alguns membros da família real a visitar o lago, não se obteve nada de conclusivo com o ambicioso projeto de Sir Edward. Ele próprio, depois de examinar as pegadas encontradas por seus funcionários, chegou a pensar que o monstro não passava de uma foca que entrara no lago pelo rio Ness à cata de salmões e que não tinha conseguido sair. Zoólogos que viram um filme feito mais tarde por James Fraser — que dirigiu a expedição de Sir Edward — chegaram até a concordar, embora alguns aventassem a hipótese de que fosse uma baleia, ou mesmo uma grande lontra do mar.
Havia uma fotografia do monstro, no entanto, que não poderia ser desprezada tranquilamente, nem pelos zoólogos nem por ninguém. Em abril daquele mesmo ano, um cirurgião londrino chamado Robert Kenneth Wilson, de férias nas Highlands da Escócia, tirara quatro fotos de algo que estava provocando o que ele qualificou como “uma movimentação considerável” no lago Ness. Quando foram reveladas, duas das fotos haviam queimado, mas a terceira mostrava, clara e indiscutivelmente, o que parecia ser a cabeça e o pescoço erguidos de um animal; na quarta via-se perfeitamente a cabeça mergulhando na água.
Passaram-se décadas, mas a terceira foto — muitas vezes chamada de Foto do Cirurgião — continua sendo a documentação mais famosa de Nessie. É também a mais polêmica. Os céticos dizem que Wilson forjou a foto no dia Primeiro de Abril. Entretanto, estudiosos defensores de Nessie alegam que a fotografia foi feita em 19 de abril.
Quando a Segunda Guerra Mundial tomou conta da Europa, o monstro do lago Ness caiu no esquecimento. Avistado umas poucas vezes durante o final da década de 40 e na de 50, não foi levado muito a sério; era como se o furor dos anos 30 tivesse exaurido a capacidade do público de se excitar com esse tipo de coisa. Em 1947, por exemplo, um gerente de banco de Inverness chamado J.C. Forbes afirmou que vira a criatura e um jornal local não demorou a publicar uma carta irônica, ridicularizando o caso.
Durante essa época, a única pessoa que continuou levando o monstro a sério foi Constance Whyte, dona de casa que se familiarizou com o lago Ness quando o marido se tornou gerente do canal Caledonian. Ela mesma nunca viu o monstro, mas passou duas décadas coligindo e avaliando dezenas de impressões de testemunhas oculares.
Em 1957 publicou um livro, intitulado “Mais que uma Lenda”, que se tornou leitura obrigatória para todos os futuros caça-monstros. Whyte reuniu meticulosamente todos os relatos existentes sobre o que havia sido visto no lago. Além disso, ela lançou a ideia de que talvez houvesse, em vez de um monstro solitário, uma família de criaturas préhistóricas aprisionadas ali desde a era glacial.
Um vídeo gera investigações
Mas caberia a um inglês chamado Tim Dinsdale reacender o interesse internacional pelo lago Ness. Sempre houve quem se interessasse pela causa de Nessie. Mas somente Dinsdale dedicou sua vida inteira à tarefa de provar a existência do monstro.
Uma noite, em 1959, Dinsdale, então um engenheiro aeronáutico de 34 anos, folheava uma de suas revistas preferidas em sua casa no sul da Inglaterra, quando topou com um artigo sobre o monstro do lago Ness. Já tinha ouvido falar em Nessie, claro, e sentia uma vaga curiosidade. Mas à medida que foi lendo, “percebeu que o interesse crescia”, conforme diria mais tarde em O Monstro do Lago Ness, um dos três livros que escreveu sobre o assunto. Naquela noite, Dinsdale teve um sono agitado. Ele sonhou que andava pelas margens inclinadas do lago, espiando a água escura na esperança de encontrar o monstro. Ao acordar, percebeu que tinha encontrado a missão de sua vida.
Durante o ano seguinte (1960), Dinsdale analisou minuciosamente todos os dados existentes e no ano seguinte fez sua primeira viagem até o Ness. Em sua primeira viagem, Dinsdale procurou o monstro por seis dias. Levantava-se de madrugada e ficava observando o lago de binóculo, de vários pontos na margem. Cada vez que se deslocava de um local para outro, preparava-se para uma aparição repentina montando uma câmera de filmar, equipada com lentes telefotográficas, num tripé que punha a seu lado no banco do carro. Quando não estava observando, entrevistava pessoas que diziam ter visto o monstro.
Depois de cinco dias, Dinsdale estava prestes a desistir. Mas resolveu ficar mais um dia. Ele levantou-se de novo de madrugada e observou o lago por quase quatro horas sem sucesso. Após este período, faminto, ele resolveu voltar para o hotel para tomar seu café da manhã. Antes, porém, ele preparou a câmera. No caminho, alguma coisa na água chamou sua atenção. Ele parou o carro, pegou o binóculo e avistou uma forma oval comprida, cor de mogno, deslocando-se na água. Dinsdale largou o binóculo e começou a filmar.
Ele filmou o monstro enquanto ele nadava para oeste em ziguezague, a uma distância estimada entre 1.200 e 1.700 metros. Dinsdale resolveu arriscar. Na esperança de chegar perto o bastante para ver a cabeça e o pescoço do monstro, correu até a beira da água — só que ele já tinha sumido.
A importância do filme de Dinsdale só seria totalmente reconhecida quase seis anos depois. No final de 1965, a pedido do deputado, David James, também um aficionado pelo monstro do lago Ness, o JARIC, ou Centro de Informação de Reconhecimento Aéreo Conjunto, órgão da Força Aérea Britânica, concordou em analisar o filme. O JARIC calculou que o objeto tivesse pelo menos 1,80 metro de largura e 1,50 de altura. O mais importante é que o JARIC concluiu que não se tratava nem de barco nem de submarino, admitindo que, portanto, era “provavelmente um objeto animado”. Esse avistamento motivou Dinsdale, que faria duas viagens por ano ao Ness, passando várias semanas ou meses nas margens do lado fazendo investigações.
Ficar longos períodos sem ver a família não foi a única penalidade dessa paixão. Dinsdale também teve pneumonia, despencou de trechos íngremes nas margens do lago e enfrentou tormentas, ventos e ondas realmente perigosas. Mas nesse tempo todo Dinsdale avistou só mais duas vezes a estranha criatura.
O filme feito por seu Dinsdale desencadeou inúmeras expedições, desde empreitadas individuais até verdadeiros exércitos de voluntários. A tentativa mais abrangente e mais duradoura partiu da Agência de Investigação dos Fenômenos do Lago Ness. A força motriz dessa organização foi David James, um deputado mais conhecido na época por suas duas tentativas de fuga, sendo a segunda delas bem-sucedida, de um campo alemão de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Naquele mesmo ano, na primeira de muitas expedições a Loch Ness, James e mais uns vinte voluntários esmiuçaram o lago com binóculos e câmeras durante o dia. À noite, projetavam holofotes do exército nas águas negras. Muitas vezes acabavam iluminando outros caça-monstros, já que o lago foi ficando decididamente congestionado.
O tenente-coronel HG. Hasler, líder de um famoso e ousado ataque contra navios de guerra alemães durante a Segunda Guerra, tinha chegado antes e já estava em seu veleiro, esquadrinhando a superfície e tentando captar ruídos subaquáticos com hidrofones. Estudantes de Cambridge, voluntários, tinham montado câmeras nas margens e exploravam as águas mais profundas com sonar.
Essa investida de 62 produziu apenas fiapos de prova, insuficientes para os céticos. Nos anos seguintes, a LNI, com a ajuda de batalhões de voluntários, manteve fotógrafos amadores 24 horas por dia, distribuídos para cobrir 70 por cento da área do lago, de maio a outubro. Pelos cálculos de James, eles dedicaram cerca de 30.000 horas a esmiuçar a superfície do lago e muitas mais coletando relatos de testemunhas. Eles usaram sonares, sobrevoaram o lago de helicóptero e despejaram nele pedras lambuzadas de óleo de salmão e outras substâncias de odor forte, na esperança de que agissem como atrativo sexual para o monstro. Tocaram a Sexta Sinfonia de Beethoven embaixo da água. Gravaram o som difundido nas profundezas e depois transmitiram-no de volta.
Em 1969, a LNI empregou um submarino minúsculo, batizado de Viperfish, para mergulhar nas partes mais profundas e — esperava-se — disparar arpões de biópsia contra o monstro para recolher amostras de tecido. No primeiro mergulho, o submarino enterrou o nariz na lama do fundo e teve que soltar o lastro para escapar. No fim, até os mais dedicados concordaram, a contragosto, que o submarino era barulhento, lento e desajeitado demais para fazer frente a Nessie.
Investigações científicas
Durante vários verões, as caçadas da LNI foram dirigidas em parte por Roy Mackal, o primeiro integrante da comunidade científica que levou a criatura a sério. Em 1965, Mackal era um bioquímico de 40 anos, formado pela Universidade de Chicago, muito conhecido por suas pesquisas com o ácido dexorribonucléico, ou ADN. Ele conseguiu levar a questão aos meios científicos e angariou recursos para sua investigação. Todos os anos, no verão, ele viajava de Chicago para o Lago Ness para conduzir suas investigações e em 1970 ele teve seu próprio avistamento.
Ele estava retirando os hidrofones que haviam sido colocados para gravar sons subaquáticos quando percebeu a água do lago agitar-se. Uma forma triangular, com aspecto de borracha, saltou uns 30 centímetros para fora da água e desapareceu, seguido do que parecia ser o dorso de um animal de pele lisa. Um minuto depois, mais ou menos, a coisa tinha desaparecido sem deixar rastro. Tendo satisfeito sua curiosidade ao ver monstro, Mackal manteve seu interesse nas atividades da LNI, mas também voltou suas atenções para outras criaturas anômalas.
Mais ou menos na época em que Mackal começou a se afastar do monstro do lago Ness, outro norte-americano, o advogado Robert Rines, envolveu-se profundamente na investigação. Em 1963, Rines e alguns amigos fundaram a Academia de Ciências Aplicadas, destinada a apoiar campos incomuns de pesquisa. À organização não estava oficialmente afiliada a uma universidade, nem tinha um programa estabelecido de pesquisa, mas contava com alguns cientistas de alto gabarito, muitos deles interessados nos mistérios do Lago Ness.
Rines foi para a Escócia em 1970, acompanhado de Martin Klein, um colega do MIT, que era inventor de um tipo extremamente sensível de sonar, usado na busca de navios afundados e em plataformas marítimas de petróleo. Os primeiros resultados foram encorajadores. O invento de Klein apontou a presença de grandes corpos em movimento, de tamanho 10 a 50 vezes superior ao maior peixe conhecido do lago. O equipamento também sugeriu a existência de cavernas subaquáticas, onde o monstro talvez morasse.
No ano seguinte, Rines equipou-se com uma câmera submarina sincronizada com uma potente luz estroboscópica. Em agosto de 1972, Rines foi finalmente recompensado com fotos que acabariam sendo as mais importantes, embora altamente polêmicas, para a defesa da existência do monstro do lago Ness.
O equipamento sonar do barco da LNI, registrou a presença de um grande objeto submerso. Minutos depois, os salmões começaram a pular freneticamente na superfície, evidentemente para escapar de algum predador. À uma profundidade de 13 metros, a câmera de Edgerton captou uma imagem extraordinária. A imagem feita na ocasião foi analisada pelo Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ela mostra o que muita gente interpretou como sendo uma espécie de grande nadadeira. Os cálculos atribuíram-lhe um comprimento de cerca de 2,50 metros e uma largura de cerca de 1,20 metro. Três anos mais tarde Rines obteria dados ainda mais interessantes.
Em junho de 1975, as câmeras subaquáticas de Rines foram disparadas por dois sinais de sonar dados com seis horas de diferença. Por algum motivo, Rines não revelou imediatamente o filme. Mas dois meses depois ele entregou o rolo de filme, com 2 mil fotografias, para seu amigo Charles Wyckoff, um gênio da fotografia e criador do filme de alta velocidade usado para registrar testes atômicos.
Ao ver as imagens reveladas, Rines e Wyckoff ficaram atônitos. A primeira foto ativada pelo sonar parecia mostrar um pescoço longo e curvo, um torso volumoso e as nadadeiras dianteiras de um imenso animal. Na extremidade do pescoço, eclipsado em parte pela sombra, havia a sugestão de uma pequena cabeça. Wyckoff calculou que a parte à mostra deveria medir uns 6 metros de comprimento — mas o corpo do animal continuava para além dos limites da foto. Mais impressionante ainda foi a segunda imagem; tratava-se de um close de alguma coisa toda enrugada. Estariam os pesquisadores finalmente olhando a cara do monstro do lago Ness?
A Carranca, como a foto acabou sendo chamada, mostrava o que pareciam ser dois olhos pequenos e duas protuberâncias semelhantes a chifres, numa simetria bilateral característica de criaturas vivas. Wyckoff calculou que a cabeça tivesse 60 centímetros de comprimento.
As fotos provocaram um furor sem precedentes, mesmo pelos padrões do lago Ness. Pela primeira vez a comunidade científica parecia disposta pelo menos a pensar na possibilidade da existência da criatura do lago e especular acerca de sua identidade.
O doutor George R. Zug, curador da seção de répteis e anfíbios do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian Institution de Washington, declarou-se convencido da existência de uma população considerável de animais de grande porte no lago. Era obviamente impossível que um único animal tivesse sobrevivido sozinho desde a era glacial.
Essas fotografias levantaram discussões acadêmicas e um simpósio foi organizado para debater sobre as fotografias. Entretanto, elas mal obtiveram algum respeito e logo a credibilidade dos caçadores de monstros por água abaixo. À imprensa, que ficou sabendo das fotos, estampou manchetes garrafais. E quando foi divulgado o veredicto dos cientistas do Museu Britânico, a quem David James pedira para examinar as fotografias, os caçadores de Nessie ficaram desapontados.
Segundo os cientistas, nenhuma das fotos provava de fato a existência de um animal no lago Ness. Em lugar disso, segundo teorizaram, a imagem de um corpo e pescoço poderia ter sido causada por bolhas de gás na vesícula aérea de larvas de um minúsculo mosquito, comum nos lagos escoceses. Quanto à Carranca, disseram que poderia ser um cavalo morto ou até mesmo uma árvore. Assim, a conferência programada para o final do ano em Edimburgo foi cancelada abruptamente. Pior ainda, passaram a correr boatos de que as fotos teriam sido forjadas.
Ceticismo
Desde a famosa fraude da pegada de hipopótamo, em 1933, as zombarias em torno dos que acreditavam em Nessie jamais haviam sido tão veementes. Mas nunca deixou de haver, para cada pessoa tentando provar a existência do monstro, um batalhão de céticos empenhados em estabelecer justamente o contrário.
Um dos primeiros céticos a publicar suas opiniões foi Maurice Burton, respeitado zoólogo, ex-integrante da equipe do Museu Britânico. Embora ele não excluísse a possiblidade de Nessie existir, ele declarou que o animal muito provavelmente era uma lontra marinha encontrada em quantidade no lago. As lontras são animais grandes, chegando a medir até 1,80 metro. Têm a cabeça pequena, pescoços longos e sinuosos, cauda proeminente e o corpo coberto por pêlos macios, escuros, que refletem luz quando molhados. E, segundo Burton, são muito esquivas. “Uma lontra pode passar despercebida mesmo num rio próximo a uma pequena cidade”, disse ele. “Seria preciso pôr em seu encalço uma matilha de cães para fazê-la aparecer.” E quanto ao tamanho? Ilusão, disse Burton.
Uma lontra assustada ou curiosa, segundo Burton, é capaz de esticar um pescoço por si só considerável até dar a impressão de estar a mais de um metro fora da água — principalmente para um observador sugestionável, que depois acaba imaginando que o animal tem de 6 a 7 metros no total. “A maioria que diz ter visto esse animal”, argumenta Burton, “falou em choque, surpresa e até terror. Em momentos assim, a tendência é vermos as coisas maiores do que são.”
Segundo esse ponto de vista, parece mesmo que a famosa Foto do Cirurgião, de 1934, registrou apenas uma lontra assustada. O doutor Wilson teria captado a cabeça e o pescoço de uma delas. Outros observadores que dizem ter visto o monstro, declarou Burton, foram enganados por coisas como barcos, pássaros e veados nadando, vistos à distância e distorcidos por miragens. Quanto a Dinsdale, afirmou Burton, o que ele filmou na verdade foi um barco de pesca; as corcovas nas costas do monstro seriam uma mera “fileira de pescadores, com chapéus oleados, sentados da proa à popa, num bote de 4,50 metros — algo comum no lago Ness”. Esta ultima afirmação foi rebatida, pois a maioria dos pescadores da região sai para pescar sozinho, ou aos pares.
Burton argumentou ainda que grande parte do que as pessoas viam se devia a matéria orgânica decomposta, como por exemplo folhas, galhos e outros resíduos. Quando essa matéria se decompõe e sobe, disse ele, solta bolhas de gás que provocam correntes na superfície. O problema com essa teoria é que tais bolhas de gás aparentemente não ocorrem no lago Ness.
Segundo Ronald Binns, um outro cético que se propôs a desmascarar o monstro do lago Ness em seu livro de 1983, A Solução do Mistério do Lago Ness, os ácidos produzidos pelo humus no fundo do lago impedem a rápida putrefação. Em consequência disso, a matéria orgânica que vai sendo depositada no fundo desfaz-se em pó e não gera gás.
Binns também descartou uma outra teoria segundo a qual os monstros não passariam de pinheiros encharcados de água e impelidos por gases. Entretanto Binns está de acordo com Burton quanto à crença de que a maioria dos supostos monstros avistados no lago são apenas miragens ou lontras, pássaros, veados e outros animais convencionais. Ele acrescentou que Dinsdale estava excessivamente excitado e dormindo muito pouco durante aquela semana de abril em 1960 e que, sem querer, filmara um barco a motor. Também as fotos de Rines e as descobertas com sonar foram duramente criticadas. Em 1983 dois engenheiros norteamericanos, Alan Kielar e Rikki Razdan, utilizaram a plataforma da LNI para instalar 144 aparelhos de sonar pela superfície do lago. Qualquer objeto com mais de 3 metros de comprimento que passasse sob eles dispararia um alarme e o sonar o localizaria automaticamente. Depois de vários meses, voltaram para os EUA de mãos vazias. Ao revisar os dados registrados anteriormente pela academia a respeito de Nessie, concluíram que muitos dos contatos por sonar haviam sido causados por barcos ou objetos estacionários e que alguns deles continham erros matemáticos.
Diante de suas suspeitas, os dois engenheiros pediram a um laboratório especializado em fazer ampliação computadorizada, processo que havia sido desenvolvido para aproximar e detalhar fotos de planetas tiradas por sondas espaciais, para mandar-lhes cópias ampliadas da foto da nadadeira. Receberam uma reprodução cheia de grânulos, indistinta, muito diferente da foto que havia sido publicada. Os artigos que saíram na imprensa sobre a descoberta dos dois engenheiros pareciam acusar Rines de ter feito retoques. Rines retrucou dizendo que havia combinado várias ampliações para chegar à imagem da nadadeira. Tratava-se de procedimento padrão, disse ele, com apoio do laboratório. De qualquer forma a acusação maculou a prova mais convincente da existência de Nessie.
A clássica Foto do Cirurgião também sofreu outras críticas. O conhecido cético Steuart Campbell, autor de um minucioso estudo das provas relativas à existência de Nessie, afirma que a fotografia de Wilson é um grande embuste. Considerando-se o ângulo em que a máquina teve que ser segurada e a falta de primeiro-plano na imagem, Campbell calculou que Wilson teria que estar a cerca de 60 metros do objeto fotografado, e não a mais de 180 metros, como havia declarado a Constance Whyte.
Segundo Cambell, ao exagerar a distância da qual tirara a foto, Wilson estava tentando fazer uma lontra passar por monstro. Entretanto uma outra análise, realizada por dois oceanógrafos da Universidade da Colúmbia Britânica, concluiu que a polêmica foto de Wilson sugere, de fato, uma grande criatura esticando o pescoço a cerca de 1,20 metro acima da superfície da água.
As negativas dos céticos ganharam força com os numerosos embusteiros e fanfarrões que tentaram se promover com Nessie. De todos, o mais extravagante talvez tenha sido Frank Searle, que se autonomeou “o maior caça-monstros do mundo” e que arrasou com os caça-monstros genuínos durante vários anos.
Antigo pára-quedista do exército britânico, Searle era gerente de uma importadora de frutas, em Londres, na época em que armou sua barraca numa fazenda próxima ao lago Ness, em junho de 1969. A LNI aceitou-o de início como mais um dedicado voluntário e até lhe emprestou uma câmera de filmar. Durante os três anos seguintes ele afirmou ter visto várias vezes a criatura, mas nunca apresentou uma foto que comprovasse sua alegação. De repente, sua sorte mudou.
Em julho de 1972, Frank Searle apresentou uma foto que emocionou os outros pesquisadores; mostrava uma grande corcova num remoinho de água. Alguns meses depois ele apareceu com mais três fotos — uma série de corcovas, um pescoço e uma grande cabeça —tiradas, segundo ele, quando a criatura surgiu de repente ao lado de seu bote, mergulhando em seguida e reaparecendo do outro lado. Não demorou muito para que Searle tivesse um belo álbum de instantâneos de Nessie, atraindo atenção internacional. Mas seu descarado mercenarismo estava se tornando constrangedor.
No “Centro de Informações do Lago Ness”, pegado a sua nova casa-reboque, ele vendia cartões postais com reproduções das fotos além de uma fita cassete com sua própria versão da história do lago Ness. Chegou a publicar um livro, Nessie: Sete Anos em Busca do Monstro, em que lamentava a falta de reconhecimento oficial a suas descobertas, menosprezando os esforços da LNI, de Rines e Dinsdale e vangloriando-se do número de jovens estrangeiras, “fanzocas do lago Ness” que haviam partilhado de seu reboque.
Com o correr do tempo, Searle foi perdendo toda credibilidade que algum dia tivera entre os pesquisadores de Loch Ness. Os céticos não perdiam a oportunidade de lembrar que nunca houve uma testemunha sequer com ele, nas várias vezes em que dizia ter visto o monstro. Quem examinou suas fotos ficou com a impressão de que alguns dos “monstros” não passavam de galhos e árvores fora de foco. A certa altura, Steuart Campbell acusou Searle de chegar mesmo a falsificar as imagens, superpondo canhestramente a foto de um réptil sobre uma do lago.
Mesmo assim Searle continuou atraindo curiosos, até que finalmente, em 1983, ele enviou seu último boletim do lago Ness, no qual anunciava estar deixando o local para ir em busca de tesouros perdidos. Por ironia do destino, ele durou mais do que muitos investigadores sérios. E, inadvertidamente, a polêmica criada em torno das fotos de Searle serviu para salientar um dos pontos críticos da busca: a dificuldade de se obter fotos autênticas, um problema que gente como Dinsdale, por exemplo, qualificou de “o vodu do lago Ness”.
Em Busca de Explicações
Para os fotógrafos, o monstro é o mais frustrante dos modelos. A criatura emerge tão depressa que até investigadores veteranos são pegos de surpresa e ficam olhando boquiabertos, sem nada conseguir fazer, enquanto ela mergulha de novo. Também é surpreendente a frequência com que a própria aparelhagem apresenta defeito, ou então uma chapa fotográfica se perde. Essa alta taxa de infortúnios levou alguns pesquisadores mais criativos a sugerirem que Nessie não é de carne e osso e sim algum tipo de fenômeno paranormal.
De fato, o lago Ness tem mostrado possuir uma certa dose de ocultismo. Segundo as lendas, existe um navio fantasma, de mastro único e velas, que aparece de vinte em vinte anos, singrando as águas noturnas com aura azulada e mágica. Esse navio teria sido visto em 1922, 1942 e 1962. No começo do século, Aleister Crowley, um inglês conhecido por suas práticas de magia negra, comprou uma casa perto do lago, declarou-se senhor das terras e, supostamente, convocou a ajuda de demônios tão furiosos que seu administrador enlouqueceu e tentou matar mulher e filhos; corriam boatos de sacrifícios humanos e até hoje a população local evita passar por perto.
Isso repercurte nas histórias envolvendo o monstro. Moradores da região acreditam que sua presença seja malévola. Em 1973 o reverendo Donald Omand exorcizou a atmosfera diabólica que sentiu na região. E embora declare que não conseguiu exorcizar a criatura, saiu de lá convencido de que ela causava “instabilidade mental” naqueles que iam à sua procura. Caça-monstros empenhados negam peremptoriamente que seja esse o caso, embora confessem sentir uma profunda ansiedade às vezes. Muitos adoeceram no decorrer das buscas. Tim Dinsdale, por exemplo, dizia que às vezes era tomado por uma sensação tão forte de desconforto, em certas áreas da margem, que ficava imaginando se alguma história violenta não teria deixado um permanente “resíduo do mal” naqueles lugares.
Embora Dinsdale não descartasse esse lado na questão do monstro do lago Ness, ele acreditava — como a maioria de seus colegas — que havia alguma explicação racional para tantas aparições. Uma das mais populares continua sendo a de que a criatura é um plesiossauro, pertencente à uma pequena população que de alguma forma sobreviveu à última era glacial e ajustou-se à vida no lago Ness.
Os defensores da teoria do plesiossauro lembram a captura, em 1938, de um celacanto, um imenso peixe pré-histórico que segundo se acreditava tinha sido extinto juntamente com o plesiossauro. Mas o plesiossauro não é a única explicação para Nessie. Já se sugeriu, até, que o monstro do lago Ness seria uma versão alongada de uma minhoca pré-histórica.
O engenheiro marinho F. W. Holiday, um ávido caçador de Nessie, acredita que ela seja uma minhoca aquática gigante, anteriormente encontrada apenas em restos fósseis — e a um comprimento máximo de 35 centímetros. Não há muitos que compartilhem de sua opinião. Os críticos observam que a minhoca nunca chegaria a atingir o diâmetro do monstro. Apenas alguns invertebrados, como a lula gigante e o polvo, são grandes o bastante para se aproximar em tamanho, mas não se parecem com Nessie em nenhum outro aspecto.
Muitos investigadores, inclusive Adrian Shine, londrino, vendedor ativo e naturalista amador, que começou a trabalhar com a LNI em 1973, acreditam que a resposta mais sensata para o mistério seria algum tipo desconhecido de peixe ou talvez de enguia. O lago é rico em salmão e enguias, que crescem até tamanhos consideráveis. Além do mais, movimentam-se com rapidez e raramente sobem à superfície. Outros porém refutam a teoria, dizendo que peixes não conseguiriam mudar de profundidade aos níveis registrados pelos equipamentos sonares. As enguias ondulam de lado a lado, enquanto o monstro do lago Ness ondularia de cima para baixo. E se fosse mesmo um peixe, como explicar as aparições em terra?
Diante dessas especulações, o campo das criaturas conhecidas reduz-se à classe dos mamíferos. Um concorrente provável, na opinião de alguns cientistas, pertenceria a uma das ordens de mamíferos, a que inclui focas e baleias, animais enormes que sobrevivem longos períodos em água doce. Mackal, depois de hesitar entre candidatos que vão de uma imensa lesma marinha a uma salamandra gigantesca, parece ter escolhido no fim o Zeuglodon, uma baleia primitiva, alongada, que se acredita extinta há mais de 20 milhões de anos.
Focas de pescoço excepcionalmente longo e lontras marinhas continuam as candidatas prediletas daqueles favoráveis a explicações mais convencionais. Mas aqueles que acreditam fervorosamente que Nessie não tem nada de convencional continuam a afirmar que as focas são animais sociáveis, que gostam de brincar na água e dar suas voltinhas em terra. As lontras são de fato criaturas de natureza mais esquiva, mas não são assim tão aquáticas que possam viver e criar na água como o monstro presumivelmente faz. Nem mergulham a profundidades de mais de 200 metros, onde o sonar detectou objetos em movimento.
Novas Investigações
Outro grande mistério diz respeito ao número de monstros existente. Tanto os caça-monstros quanto os céticos falam de uma única criatura, mas há relatos de pessoas que viram duas e até três juntas, e há um consenso generalizado de que um animal solitário não sobreviveria séculos num lago. Baseado no tamanho do lago e na quantidade de alimento, George Zug, do Smithsonian, calculou que o número de criaturas como Nessie poderia variar de 10 a 20 animais, se pesarem cerca de 1.300 quilos, e chegar até 150 animais de 140 quilos.
Enquanto prosseguem debates desse tipo, o que os caçadores querem mesmo é saber se Nessie existe. Por isso, ano após ano, Rines e os membros de sua academia, além de outros investigadores, retornam ao lago na esperança de encontrar resposta para essa pergunta simples, mas tão importante. Mas desde 1975 não surge nada tão impressionante quanto as fotos de Rines.
Foi por causa dessas fotos que a Academia de Ciências Aplicadas voltou ao lago Ness em 1976, com apoio financeiro do New York Times, para levar a cabo a investigação tecnologicamente mais sofisticada que já se fizera até então. Rines reuniu uma equipe com mais de vinte cientistas altamente conceituados, inclusive Edgerton e Wyckoff, dos Estados Unidos, Canadá e Grã Bretanha. A expedição chegou com quase mil quilos de equipamento e, em junho, espalhou pelo lago um verdadeiro arsenal de artefatos para detecção por sonar e fotografias. Havia uma câmera de 16 milímetros dotada de mecanismos estroboscópicos, capaz de fotografar a cada 15 segundos; duas câmeras estéreo de 35 milímetros conjugadas à mais potente luz estroboscópica jamais empregada no lago; e uma câmera de televisão que iria operar 24 horas por dia e gravar em vídeo tudo que passasse diante de suas lentes.
Tudo isso foi colocado 12 metros abaixo de uma plataforma ancorada a uma profundidade de 36 metros na água, a cerca de 100 metros da margem do pier Temple, perto do castelo de Urquhart. As conexões elétricas e um cabo de televisão foram ligados a um bangalô na margem, equipado com as instalações de controle. Os cientistas iriam se revezar e, pela tevê, fariam o monitoramento da câmera com dispositivo de tempo que fotografava a cada 15 segundos — e estariam preparados para acionar as poderosas luzes estroboscópicas para as câmeras de 35 milímetros assim que vissem qualquer coisa suspeita.
Durante dois meses, os membros da expedição observaram o monitor de tevê e vasculharam as águas com o sonar. Voltaram para casa sem provas conclusivas, pró ou contra, Foi um verão excepcionalmente quente, sem chuvas, e a temperatura nas camadas superiores da água do lago subiu acima de seus 5 graus Celsius costumeiros. Uma das teorias era a de que quase toda a fauna lacustre tinha ido para regiões mais fundas; outra dizia que, em virtude da seca, as águas do lago tinham baixado de tal forma que a desova dos salmões ficara prejudicada e que portanto não havia peixe nas zonas rasas do lago para atrair Nessie de suas profundezas.
Nas 108.000 fotografias tiradas pelas câmeras estroboscópicas foi difícil achar as trutas, os salmões, as enguias, e muito menos um monstro. Um instrumento infra-vermelho de alta resolução, destinado a detectar diferenças mínimas de temperatura, produzidas pelas emanações da criatura, também falhou. A descoberta mais substancial do sonar foi a de um bombardeiro Wellington que afundara no lago durante uma missão de treinamento, em 1940.
Ainda assim não se pode dizer que a expedição tenha decepcionado, já que houve uma série de ocorrências fascinantes e intrigantes. Lá pela meia-noite do dia 16 de junho, por exemplo, Charles Wyckoff estava observando o monitor de tevê quando percebeu que uma das câmeras com dispositivo de tempo estava desaparecendo, como se o lodo estivesse cobrindo a imagem. Isso foi estranho, porque não havia nada por perto para agitar a água — pelo menos, nada que pudesse ser visto. Ele acionou a luz estroboscópica, mas a água estava tão opaca que ele quase não conseguia enxergar a potente luz. Minutos depois a água clareou o suficiente para ver a câmera com dispositivo de tempo — que parecia estar se mexendo violentamente para a direita, saindo da tela. Ele acionou de novo a luz estroboscópica. A câmera tinha desaparecido.
Uma hora mais tarde, lá pelas 1h00 da manhã, a câmera voltou ao campo de visão do monitor, sem aparentemente ter sido danificada. O episódio terminou, deixando Charlie atônito. Sem a menor idéia se tinha ou não encontrado a criatura.
Houve outros fatos estranhos. No final de junho, os cientistas colocaram um sonar para vasculhar a região em torno das câmeras suspensas. Qualquer coisa nadando por ali apareceria como um traço. À 20 de junho, eles viram dois traços em curva na tela do monitor — quem sabe um casal de salmões grandes. A 24 de junho, começaram a captar traços diferentes — de objetos grandes, sólidos, muito maiores que um peixe. Esses objetos representavam um alvo de pouco menos de 2 metros de largura ao raio de ação do sonar e apareceram às 7h18, 8h52 e 8h56 por alguns segundos apenas. Nos dias 25 e 28 de junho o sonar registrou a presença de outros alvos de grande porte, muito distantes para serem fotografados.
Mas, às 22h44 do dia 30 de junho, a esposa de Charles Wyckoff, Helen, estava monitorando o sonar quando notou que algo grande havia entrado no raio de detecção, a cerca de 100 metros. A figura aproximou-se e parou a uns 70 metros da câmera. Ainda estava muito longe para ser fotografado e, depois de uns momentos, afastou-se.
Por fim, às 5h00 da manhã de 1º de julho, o sonar registrou o sinal mais forte da temporada, indicando algo de cerca de 9 metros de largura a uns 90 metros das câmeras. Charles Wyckoff estava de plantão e observou com crescente agitação o alvo, que permaneceu ao alcance do sonar por uns três minutos. Aí ele disparou até o lago — “e foi recebido”, escreveu Meredith, “pela bruma cinzenta que envolvia as águas calmas”.
Os últimos registros foram no dia 4 de julho e, depois, silêncio total. Quando os cientistas partiram, levaram consigo a certeza de que existe um monstro no lago Ness. Quaisquer dúvidas haviam evaporado com o cuidadoso exame de provas passadas, conversas com moradores da região e suas próprias evidências. A exceção dos registros feitos com o sonar, todas as provas são inadmissíveis cientificamente. Mas em qualquer polêmica científica, a prova admissível é tão somente a ponta do iceberg intelectual. Sob a prova sólida, tangível, existe sempre uma massa imensa de sugestões, indicações e até pressentimentos que apoiam a teoria.
As provas também foram suficientes para Rines, que continuou sua busca apesar dos pesares. Em 1979 ele anunciou que se valeria de um par de golfinhos equipados com câmeras disparadas por sonar e com luzes estroboscópicas. A ideia era que os golfinhos, com seus extraordinários sentidos, encontrariam o monstro e que, naquele momento, as luzes o iluminariam e as câmeras documentariam sua existência. Mas antes que os golfinhos chegassem ao lago Ness, um deles morreu e Rines resolveu cancelar o projeto.
Naquele verão, os pesquisadores organizaram um rastreamento por sonar de 1.500 horas ininterruptas, dia e noite, nas águas do lago Ness. O número de sinais detectados foi altíssimo e a maioria não poderia ser atribuída a peixes — ou pelo menos a nenhuma espécie conhecida de peixe. Mas nada apareceu na superfície nem na frente das câmeras subaquáticas, talvez em virtude do dirigível da Goodyear que passou quinze horas sobrevoando o lago. Saído da Itália para se juntar à expedição de busca, só a sombra imensa que ele projetou no lago seria suficiente para levar qualquer monstro de volta a seu esconderijo.
O lago ficou relativamente calmo por mais cinco anos. Mas no verão de 1987 voltou a ser o centro das atenções. A Sociedade Internacional de Criptozoologia, uma organização de zoólogos e outros interessados em animais enigmáticos, realizou sua reunião anual no Real Museu da Escócia, em Edimburgo e dedicou um dia inteiro ao debate da questão de Nessie. Naquele mesmo ano, houve uma outra expedição organizada por Shine.
Chamada de Operação Sondagem Profunda, foi a prospecção por sonar mais ampla feita no imenso lago. Foram usados 24 barcos, alinhados de bombordo a estibordo, que desceram uma cortina de sonar sobre as águas do lago. Durante três dias, a flotilha avançou e recuou em formação através de todo o lago Ness, vasculhando com perfeita sincronia as profundezas. Houve apenas três registros de contato por sonar, mas um deles deixou atônitos até mesmo os céticos engenheiros que haviam instalado o equipamento. Não muito distante do castelo de Urquhart, o registro gráfico do sonar mostrou algo grande movendo-se devagar a mais de 180 metros abaixo da superfície. Segundo Darrell Lowrance, presidente de uma firma de equipamentos eletrônicos de Tulsa, Oklahoma — que financiou e forneceu equipamento sonar para o projeto — declarou: “Existe alguma coisa aqui que nós não entendemos e existe alguma coisa aqui que é maior do que um peixe, quem sabe alguma espécie ainda não detectada. Não sei.”
Igualmente intrigante, a expedição de Shine também obteve uma imagem, identificada por uns como um toco de árvore apodrecido ou um afloramento de rocha, muito parecida com a celebrada foto da Carranca, tirada por Robert Rines em 1975. Não houve nada que provasse que o monstro existe nem nada que provasse que ele não existe. Inevitavelmente, para os caça monstros isso significou adiar a busca para os verões seguintes, quando talvez a tecnologia moderna conseguisse melhores resultados.
Não restam dúvidas de que a turma do contra aumenta a cada dia, à medida que o poderio da ciência convocado para ajudar na busca não fornece resultados. Ainda assim é difícil desacreditar de todas as provas — todos os relatos de aparições, as fotos, os registros de sonar — acumuladas em meio século. Como também é difícil descartar sem mais nem menos toda a sabedoria popular das Highlands, como a do velho patriarca que comentou, uns tempos atrás: “Tem um bocado de coisa esquisita naquele lago.”
Outros Monstros
Monstros lacustres — imensos, misteriosos, ameaçadores — fazem parte do folclore de muitos povos, em muitas terras. Os escoceses, que não são exatamente crédulos ou fantasiosos, dizem ter visto monstros em vários outros lagos, além do Ness. De fato, nos últimos anos o lago Morar chegou até a roubar a ribalta do lago Ness por causa de relatos de pessoas que teriam visto um monstro chamado Morag. Há notícias de monstros em lagos da Escandinávia, da Irlanda, da Sibéria e também em regiões da África. E, a se julgar pelo que dizem as testemunhas, a Nessie tem pelo menos dois primos na América do Norte. O lago Champlain, de 175 quilômetros de extensão, que se situa entre os estados de Nova York e Vermont, chegando até Quebec, abriga o Champ, que já foi visto mais de duzentas vezes e capturado em filme uma vez. No lago Okanagan, na Colúmbia Británica, teria acontecido o primeiro contato físico entre um ser humano e um monstro lacustre.
Segundo alguns relatos, Samuel de Champlain, o explorador francês do século XVII, talvez tenha avistado uma criatura estranha no lago que leva seu nome, Mas o primeiro registro da aparição de Champ, ou de parentes seus, data de 1819, quando um barqueiro diz ter visto uma criatura de longo pescoço com a cabeça uns 4,5 metros acima da água. Vieram outras aparições semelhantes e, lá pelo final do século XIX, o interesse em Champ era tão grande que o empresário circense P.T. Barnum ofereceu uma grande soma pelo monstro, vivo ou morto.
No entanto, Champ não se dignou a dar a qualquer felizardo o ar de sua graça e alguns observadores continuam a duvidar que haja qualquer coisa fora do comum vivendo no lago Champlain. Entretanto, em 1977 uma mulher em férias fotografou o que parece de fato ser uma cabeça e um pescoço comprido fora da água (página ao lado). Na década de 80, os legisladores dos estados de Vermont e Nova York julgaram prudente — para não falar de como seria conveniente para o turismo — adotar leis de proteção a Champ.
A existência de monstros nos lagos canadenses, inclusive Okanagan, é tradição de séculos. Os índios falavam de Naitaka, ou serpente da água, que seria parte deus, parte demônio. Tamanho era o terror inspirado por Naitaka que, ao cruzar o lago, os nativos jogavam sempre galinhas e porcos vivos, para apaziguar a fera. Não tomar tal precaução era considerado total loucura e, em tempos mais recentes, houve um incidente que corroborou tal crença.
Por volta de 1850, um certo John MacDougall atravessava o lago com dois cavalos nadando atrás, amarrados à canoa por meio de cordas. Normalmente MacDougall seguia a tradição indígena e jogava algum animal vivo na água para apaziguar qualquer coisa que eventualmente houvesse de maligno nas águas; mas naquele dia esqueceu-se. Segundo se conta, uma coisa invisível começou a puxar os cavalos e teria afundado também a canoa se MacDougall não tivesse cortado depressa as cordas e remado a toda velocidade para a margem.
Apesar de relatos como esse — ou talvez por causa deles — o monstro de Okanagan foi considerado mera superstição até meados de 1920, quando várias pessoas disseram tê-lo visto. Mas como todas as histórias davam a entender que o animal era inofensivo, o medo foi logo substituído por afeição. Os moradores da região deram-lhe um nome engraçadinho, Ogopogo e, em 1983, a associação de turismo regional estava oferecendo um milhão de dólares a quem produzisse provas da existência de Ogopogo. Claro que foi um golpe publicitário destinado a atrair turistas, mas bem que a associação imaginou existir pelo menos uma pequena chance de que alguém fosse reivindicar o prêmio, tanto assim que tratou de fazer uma apólice de seguro com a companhia Lloyd’s de Londres.
Mas nem todo mundo achou graça na história. Em 1987, uma canadense que se identificou apenas como senhora B. Clark revelou um encontro que tivera com o monstro treze anos antes. Ainda adolescente na época, ela nadava em direção a uma plataforma de mergulho, a uns 400 metros da margem, quando “uma coisa grande e pesada bateu nas minhas pernas”. Ela tratou de se pôr a salvo na plataforma e de lá ficou observando. “Vi uma corcova, ou um anel, de uns 2 metros e meio de comprimento e cerca de 1 metro fora da água, movendo-se para a frente”, ela disse. O animal tinha uns 8 ou 9 metros no total e “meio que corcoveava para a frente, como uma minhoca gigante”. Mas a verdade é que para cada pessoa que disse ter visto Champ ou Ogopogo existem umas dez que viram a Nessie. Uma boa razão para que, a cada verão, dedicados caça-monstros provenientes de ambos os lados do Atlântico se dirijam ao lago Ness, menor e mais sombrio que o Champlain ou o Okanagan, em busca de registros do mítico animal.
Todos esses testemunhos, todos os dados existentes em torno do chamado Monstro do Lago Ness, não nos permitem afirmar com certeza que existe uma criatura incomum vivendo naquelas águas, mas nos mostram que a espécie humana talvez não saiba tudo o que para saber a respeito da imensa variedade de seres vivos que compartilham nosso pequeno e redondo planeta.
Com informações de:
- https://lochnessmystery.blogspot.com/
- http://www.nessie.co.uk/
- https://www.lochnesssightings.com/index.asp
- https://lochness.com/
- MISTÉRIOS DO DESCONHECIDO. Criaturas Misteriosas. Rio de janeiro: Time-Life Livros,1993.
Deixe um comentário