O Misterioso Caso Duas Pontes

Por: Fenomenum Comentários: 0

O Caso Duas Pontes, ou Caso Rivalino Mafra, envolveu um garoto, na época com 12 anos, que teria testemunhado o desaparecimento de seu pai em meio à uma experiência ufológica. Seis meses depois uma ossada é encontrada e atribuída ao desaparecido.

O Caso Duas Pontes, ou Rivalino Mafra, é um dos mais intrigantes da casuística ufológica brasileira. Ocorrido em 19 e 20 de agosto de 1962, constitui-se ainda hoje em um mistério. Tem como protagonista Rivalino Mafra e Raimundo Mafra, pai e filho, que moravam na zona rural de Diamantina. Rivalino desapareceu misteriosamente deixando desamparados seus filhos. Raimundo, o mais velho e que teria testemunhado o desaparecimento, descreve um estranho fenômeno provocado por dois pequenos objetos voadores. Pouco tempo depois, restos mortais de uma pessoa, que são rapidamente atribuídos à Rivalino Mafra, são encontrados nas proximidades do local do desaparecimento aumentando ainda mais o mistério em relação ao caso.

Em agosto de 1969, o relato de um menino pobre, analfabeto e tímido provocou celeuma na cidade de Diamantina, repercutindo em todo o estado de Minas Gerais e além de seus limites.

Raimundo Aleluia Mafra, de 12 anos, órfão de mãe, auxiliava seu pai Rivalino Mafra da Silva nas suas atividades de caçada e garimpagem, responsabilizando-se também pela assistência a dois de seus quatro irmãos menores.

Situada em Duas Pontes, distrito de Diamantina, estado de minas gerais, a residência da família Mafra era um casebre completamente isolado. Por dezenas de vezes o menino repetiu seu relato ao tenente Wilson Lisboa, delegado de polícia do município, ao juiz de direito, aos médicos, sacerdotes, jornalistas e a um sem número de pessoas que, apesar de refugarem a versão de Raimundo, ficaram impressionados com sua coerência e tranqüila convicção.

Alegava que seu pai Rivalino tinha desaparecido ante seus olhos, cercado por um redemoinho de poeira amarela levantada por dois pequenos objetos, postados à porta do casebre. E chorava mansamente, convencido de que seu pai jamais voltaria.

Logo após a desaparição de seu pai, Raimundo procurou vestígios seus na vizinhança e foi chamar o Sr. João Madalena de Miranda, funcionário de uma fábrica distante. Chegando este amigo ao local da desaparição, uma clareira de terra batida, notou que ele parecia ter sido cuidadosamente varrido, numa área cujo o raio media 5 metros.

As buscas, já sob a direção da polícia de Diamantina, começaram no mesmo dia e continuaram por muito tempo. Cães amestrados da polícia militar chegaram a belo horizonte, mas não encontraram rastros do garimpeiro. Os vôos de aves de rapina eram acompanhados atentamente como possível indício para localização do corpo de Rivalino.

O cônego José Ávila Garcia, vigário de Diamantina, apesar de não acreditar na versão do menino, revelou que na semana antecedente ao desaparecimento de Rivalino um funcionário do departamento dos correios e telégrafos, Sr. Antonio rocha, avistou duas bolas de fogo voando em círculos, a grande velocidade e baixa altitude, exatamente sobre Duas Pontes, onde residia o garimpeiro. O Sr. Antonio rocha confirmou, ao repórter do diário de minas, esta comunicação.

Após exame clínico efetuado em Raimundo, o médico Dr. João Antunes de Oliveira revelou nada ter descoberto de anormal, além do estado de desnutrição. O menino pareceu-lhe em boas condições mentais.

Por iniciativa do juizado de menores, Raimundo foi conduzido a belo horizonte, pelo comissário Antônio da Cruz. Nesta capital ele repetiu a estória com os mesmo detalhes, inclusive para o CICOANI. Antes de interná-lo no João Pinheiro, instituto para proteção e instrução de menores desvalidos, o juizado providenciou exame psiquiátrico e testes psicológicos, cujos resultados em nada contribuíram para solucionar a questão.

 

Depoimento do menor Raimundo Aleluia Mafra ao CICOANI em 30/08/1962

Diz Raimundo que, cerca das 20 horas de 19 de agosto deste ano, encontrava-se com seu pai Rivalino Mafra da Silva num cômodo de sua residência, onde dormiam dois de seus quatro irmãos menores. Ele e o pai achavam-se agachados em torno de um pequeno fogo que fizeram no cão de terra batida do quarto, próximos a uma porta que liga o mesmo à cozinha. Em certo momento seu pai chamou-se a atenção para uma sombra escura e indefinível, que deslizava silenciosamente pela cozinha, na direção de um outro cômodo. Essa silhueta foi descrita como tendo quatro pernas; mas delas o menino nada pôde precisar, afirmando apenas que tinha alguma semelhança com homem a engatinhar.

À guisa de cabeça o menino descreveu na sombra um topete, querendo dizer alguma saliência, que teria se virado na direção do quarto, ao passar pela porta, dando a Raimundo e seu pai a impressão de terem sido observados.

Em seguida o Sr. Rivalino levantou-se, indo até a porta por onde a sombra se mostrara, ou um pouco além, nada conseguindo divisar. O menino admite que o medo poderia ter impedido ao seu pai uma revista do resto do casebre escuro, mas garante que as trancas internas das duas únicas portas – uma da cozinha, outra da sala, estavam fechadas.

Voltando para o quarto, o Sr. Rivalino viu-se na impossibilidade de dormir, assim como a seu filho. Em certa altura ouviram ambos vozes humanas, “grossas e enroladas”, citando o nome do Sr. Rivalino e dizendo que tão logo iam matá-lo tão logo saísse de casa. Ouviram também um ruído semelhante ao de um despertador, proveniente de fora da casa. O garimpeiro e seu filho atravessaram a noite sem dormir.

Às 6 horas da manhã do dia seguinte, 20 de agosto, segunda-feira, Raimundo preparou-se para sair da casa e buscar a montaria de seu pai, no terreiro anexo. Ao abrir a porta da cozinha, que dava para o terreiro, deparou com dois pequenos e estranhos objetos pousados no solo, a poucos metros da porta de distância. Diferindo na cor, eram idênticos quanto à forma e tamanho. Ambos tinham forma ovalada e mediam entre 40 e 50 centímetros no diâmetro maior. A existência de um pequeno apêndice numa das extremidades de cada objeto, conjugada à forma dos mesmos, fez lembrar a Raimundo as figuras de tatus. Estes apêndices, do tamanho de um dedo, tinham forma tubular, segundo a descrição do menino. E, tal qual “rabicho”, projetavam-se das partes traseiras dos objetos, as quais estavam um pouco suspensas do solo. No momento em que Raimundo as percebeu, esses apêndices apontavam para a porta, ou seja, para a sua pessoa. Em seguida, quando o Sr. Rivalino chegou à porta, atendendo ao chamado de seu filho, os tubos apontavam para a direção oposta, indicando que os objetos teriam virado. Um dos objetos era inteiramente negro, fosco. O outro era rajado de branco e preto, com listas iguais em largura e traçadas transversalmente ao diâmetro maior do objeto. Esta descrição foi feita pacientemente, com o auxílio de um retrato falado.

O Sr. Rivalino, logo ao perceber os dois objetos, colocados lado a lado, um metro do outro, admirou-se soltando a frase: “que será isto?”. Recomendou ao filho que não saísse ela porta e, tendo ainda na mão a faquinha e o fumo com que preparava seu cigarro de palha, o Sr. Rivalino aproximou-se lentamente dos objetos, afirmando seu filho que ele não parecia demonstrar medo. À aproximação de Rivalino, os dois objetos se uniram lateralmente, com um som surdo e começaram a girar em conjunto, velozmente e levantando logo um redemoinho de poeira amarela, a qual envolveu Raimundo, sem atingir seu filho. Este declarou que, além do surdo ruído durante o choque dos objetos, o único ruído que ouviu foi o zumbido do vento que levantava a espiral de poeira, tendo esta impedido que Raimundo enxergasse tanto os objetos, quanto seu pai, que não reapareceu quando cessou o redemoinho.

 

Comentários do CICOANI

Após meses de investigação infrutífera, surgiu a notícia de que o esqueleto de Rivalino fora encontrado. O jornal “A Estrela Polar” (Diamantina, 10/03/1963) afirma que, “no dia 3º de carnaval (1963), cinco caçadores encontraram, bem perto do casebre de Rivalino, em lugar de difícil acesso, a sua ossada. Caiu por terra o conto da carochinha. Falta agora esclarecer o resto” – diz o jornal (os grifos são nossos).

Em verdade, diríamos nós, que o “resto” que falta a esclarecer é praticamente tudo. Se não vejamos:

As explicações convencionais se reduziram a duas: o Rivalino teria fugido ou teria sido vítima de seqüestro e/ou assassinato.

Primeiro caso, a estória apresentada pelo filho seria um álibi inspirado pelo próprio Rivalino, para cobrir a sua fuga. Segundo: seria um álibi engendrado pro criminosos. Nos dois casos, portanto, haveria participação do filho, para cobertura de um episódio que, estranhamente, contrariava o interesse a segurança do mesmo. Ele demonstrou gostar do pai e acabou ficando sozinho com dois irmãos menores.

De qualquer forma, estranha-se que sua notória timidez e inexperiência não o levassem a vacilar em qualquer ponto dos repetidos depoimentos que teve que prestar à polícia, juízes, sacerdotes, médicos, jornalistas e finalmente ufologistas do CICOANI e da SBEDV (Dr. Walter Buller). Mais estranho ainda é que, para encobrir um crime se apresentasse um álibi de tal forma sofisticado e discrepante do contexto sócio cultural, a ponto de chamar a atenção não só da polícia de Diamantina, como do estado inteiro. O efeito da estória seria, então, o oposto de um álibi.

Se a estória do menino é inteiramente fruto de delírio e alucinação, como explicar que o exame psiquiátrico não tenha revelado os sintomas correspondentes? Como explicar que o menino tenha projetado no ambiente conteúdos intra-psíquicos de implicações tecnológicas tão avançadas e relativas à um tipo de fenômeno do qual jamais ouvira falar?

Na literatura específica dos discos voadores há referências a diminutos objetos telecomandos semelhantes ao descrito pelo menino. Pela raridade de suas fontes tais referências mantiveram-se praticamente restritas aos especialistas, sendo, obviamente, inacessíveis a crianças analfabetas do meio rural.

Outro ponto a explicar é a presença de objetos aéreos não identificados nas proximidades do casebre de Rivalino, uma semana antes do seu desaparecimento, assim como a extraordinária “varredura” do terreiro onde ele ocorreu.

Quanto ao esqueleto encontrado (se encontrado), que tipo de exame possibilitou relacioná-lo à Rivalino. Se a ossada foi descoberta perto de sua moradia seis meses depois, como se explica que seu cadáver não fosse encontrado, após dias de buscas minuciosas, enquanto era devorado por urubus e outros animais necrófagos? O cadáver não seria consumido por animais se estivesse enterrado mas, então o prazo de seis meses seria insuficiente para que se resgatasse apenas o esqueleto limpo. Caso este seja realmente de Rivalino, resta a hipótese de que sua carne tenha sido consumida de forma total e quase instantânea por meios não convencionais.

Parece, portanto, que do caso “Duas Pontes” tudo resta a explicar.

10/09/1968

Hulvio Brant Aleixo

 

 

COMENTÁRIOS EQUIPE FENOMENUM

Segundo o Blog Arraial do Tijuco, da cidade de Diamantina, o esqueleto teria sido encontrado por Paulo Duarte e Chico Prata em uma fenda de pedra e teria sido identificado graças à um cinto. O Blog não explica o grau de proximidade entre aqueles que descobriram a ossada e Rivalino Mafra. Também devemos levar em conta que numa época conturbada, em que vigorava um regime militar, notícias que poderiam gerar preocupação ou agitação eram rapidamente combatidas pelas autoridades. Sendo assim, um cenário armado com uma ossada, identificada como do desaparecido e posicionada em um local propício seria bastante útil numa manobra de silenciamento, se divulgada de forma apropriada. Seja como for, o caso chamou a atenção da Força Aérea Brasileira que registrou o episódio através de um relatório emitido pelo ufologista Hulvio Brand Aleixo que ilustra este artigo. O documento da Força Aérea Brasileira referente ao caso pode ser acessado aqui (arquivo de 6 páginas em formato PDF – 3,19 MB).

 

A Pesquisa da SBEDV

A Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores, fundada em 1957, foi uma das primeiras instituições de pesquisa ufológica brasileira. A entidade investigou os mais importantes casos da Ufologia Brasileira de maneira séria e incisiva. Tendo linha notadamente científica, a SBEDV considerava o fenômeno OVNI como de caráter benigno e de origem extraterrestre. Suas pesquisas de campo eram divulgadas através de Boletins especializados, publicados entre 1957 e 1982. O presente artigo foi compilado a partir do Boletim da SBEDV n° 30, de agosto de 1962 e fevereiro de 1963.

O Diário de Minas, nos dias 26 e 28 de agosto de 1962 e a Última Hora também do dia 28, todos de Belo Horizonte, bem como no dia 29, a Tribuna da Imprensa, Luta Democrática e o Jornal, desta Capital, em reportagem ilustrada com fotografias, noticiaram: em localidade distante cerca de 30 Km de Diamantina, lugar ermo, próximo (40 minutos a pé ainda de Biribiry), um meno de 12 anos (R.M.A.) ao sair de casa, entre 6 e 7 horas da manhã, deparou com duas bolas, diâmetro aproximado de 40 cm, colocadas no chão, em frente à porta de sua casa. Chamou o pai, Rivalino Mafra que, ao se aproximar das tais bolas, segundo informa o garoto, foi envolvido por forte redemoinho de ar que, levantando o pó, dificultou-lhe a visão. Entrementes seu pai desaparecera, segundo pode verificar, quando serenou o movimento do ar. Dizem, ainda, os jornais que o Delegado de Polícia procurou em vão descobrir o paradeiro de Rivalino Mafra e providenciou a realização de testes psicológicos para verificar que razões encobririam as afirmações do menor.

Naturalmente que a SBEDV não conservou indiferente diante destas notícias: dirigimo-nos a Diamantina em duas ocasiões diferentes. A primeira em 3 de setembro, duas semanas após o desaparecimento de Rivalino e a segunda no período de 6 a 19 de dezembro de 1962.

O drama do menor que já era órfão de mãe e, repentinamente, privado do convívio paterno por um lado e por outro, inesperadamente, centro de atenção e controvérsia não só do público como da imprensa e de freqüentes interrogatórios da imprensa falada e escrita, passou a preocupar as autoridades. Acreditamos que, movido pelo desejo de protegê-lo foi que o Sr. Juiz de Diamantina determinou a internação do menor em um instituto do Estado.

Mas, também, devemos reconhecer que esta controvérsia e curiosidade do público e da imprensa se tornaram fator de inegável valor na difusão do estranho acontecimento.

A propósito do desaparecimento de Rivalino contou-nos o Sr. Francisco Prata, seu amigo, que era seu hábito, aos domingos, caçar paca nos córregos vizinhos, entretanto na sua casa foram encontrados chapéu, rolo de fumo, canivete e carteira o que faz supor uma saída imprevista. Também a atiradeira do menor permanece na casa abandonada, como a indicar a pressa dos que dela saíram.

Afirmou-nos ainda, Francisco Prata que Rivalino era pessoa normal, sem vícios ou inimigos, acrescentando que naquela região não há crime organizado, apenas passional.

O motorista Pio Miranda que nos levou a primeira vez a visitar a cabana de Rivalino foi o mesmo que lá conduziu o menor, bem como as autoridades e repórteres ocasião em que se pôde ver ainda uma roda (1,5 metros de diâmetro), num chão limpo como se tivesse sido varrido, cerca de 1,5 m a 2 m da porta da casa. Veja-se a fig. 2b, onde se vêem abóboras que marcam a posição das bolas no lugar do famoso redemoinho.

Não constituiu tarefa fácil para nós entrevistar o menor. Só em dezembro, quando já retornávamos ao Rio conseguimos fazê-lo, por deferência especial do Dr. Jazon Aller Garcia.

Neuropsiquiatria não é nossa especialidade. Entretanto, pudemos observar que o menino se manteve absolutamente coerente com as afirmações de que já conhecíamos através dos jornais.

Deu-nos , ainda pormenores: desenhou as duas bolas achatadas (2e) de diâmetro aproximado de 40 cm, uma preta e outra listrada de branco e preto, ambas com um “rabinho”, para baixo, de 2 cm. Estas bolas se chocaram repentina e automaticamente, quando seu pai delas se aproximou. Não se ouviu barulho e apenas um chiado e levantamento de pó que lhe obscureceu a visão por uns 5 segundos, conforme pudemos calcular pela narrativa do menor. Conta ele, ainda, que estranhas ocorrências levaram pai e filho a velar e conversar a noite toda.

Em seguida ao desaparecimento do pai, o menor e seus dois irmãos pequenos, apavorados, foram morro acima e se refugiaram em casa de uma vizinha, contando-lhe o que havia acontecido.

A princípio não deu ela importância, o que só fez mais tarde à vista da insistência da afirmativa dos meninos.

Registre-se que, relacionado ao caso de Biribiri, foi verificada a presença de discos voadores nos céus de Diamantina, dois dias antes do desaparecimento de Rivalino Mafra.

De pé, da esquerda para a direita: Paulo Ávila, José Domingos, Paulo Duarte, Fabiano Pimenta e Dona Antonieta Motta. Agachados, na mesma ordem, Francisco Machado, Erimar Couto (Bocage), meio escondido, Rômulo Rocha e Waltinho Silva [Fonte: Blog Arraial do Tijuco].
Pesquisador da SBEDV, em visita ao local do fato. Duas abóboras ao chão indicam a posição dos objetos no momento em que foram observados inicialmente.

 

Desenho confeccionado pelos pesquisadores da SBEDV a partir do depoimento de Raimundo Mafra

 

Referências:


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