
Roswell: Da Queda Misteriosa ao Ícone da Cultura Pop
Roswell se tornou um ícone da ufologia mundial após o suposto acidente de 1947, alimentando teorias conspiratórias e o imaginário popular sobre extraterrestres.
Neste artigo:
Introdução
Em junho de 1947, um objeto misterioso caiu em um rancho nos arredores de Roswell, no Novo México. Após o ocorrido ser comunicado às autoridades, os militares inicialmente anunciaram em julho que haviam recuperado um “disco voador”, mas logo recuaram, afirmando que os destroços eram apenas de um balão meteorológico que se desfez no deserto.
Nos anos 1990, a Força Aérea dos EUA alegou que os destroços pertenciam ao Projeto Mogul — uma iniciativa secreta para detectar testes nucleares soviéticos, usando balões de grande altitude lançados da Base de Alamogordo. Contudo, àquela altura, a narrativa de que uma nave alienígena teria sido recuperada, junto com corpos de extraterrestres, já havia se consolidado no imaginário popular.
O jornal The New Mexican não acreditou na versão oficial. Em sua edição de 9 de julho de 1947, estampava a manchete: “O último relatório de disco é o mais falso até agora”, acompanhando uma matéria da Associated Press. A reportagem descrevia como o fazendeiro W.W. “Mac” Brazel encontrou os destroços e só percebeu sua possível importância após ouvir relatos sobre objetos voadores avistados por todo o país, desde que, em 24 de junho, o piloto Kenneth Arnold relatou ter visto nove objetos brilhantes próximos ao Monte Rainier, em Washington.
Embora o episódio tenha ocorrido em 1947, os boatos sobre uma queda de OVNI só se espalharam décadas mais tarde, especialmente após uma entrevista em 1978 com Jesse Marcel Sr., o primeiro militar a investigar o caso, que afirmou acreditar na origem extraterrestre dos destroços. O interesse se intensificou com a publicação do livro The Roswell Incident (1980), de Charles Berlitz e William L. Moore, que alimentou ainda mais a teoria alienígena. Hoje, o evento é parte fundamental do folclore ufológico, com um museu e um festival anual que atraem turistas a Roswell.
No final dos anos 1940, o New Mexican publicou diversas reportagens sobre supostos avistamentos de “discos”. Em 8 de julho de 1947, o jornal criticou a mídia pela forma como cobria o fenômeno. Um editorial classificou 98% das notícias sobre discos voadores como farsa ou bobagem, atribuindo o surto de relatos ao clima de tensão da época, chamado por alguns de “atomitis” — uma reação ao medo nuclear.
Essa visão dialoga com a análise do professor emérito David J. Halperin, da Universidade da Carolina do Norte, que vê os OVNIs como uma expressão do folclore moderno, refletindo temores profundos, especialmente os relacionados à morte e à destruição nuclear. Em seu livro Intimate Alien: The Hidden Story of the UFO (2020), Halperin afirma que o incidente de Roswell simboliza o medo coletivo da aniquilação desde o advento das bombas atômicas.
Ele observa ainda que o 509º Grupo de Bombardeio, sediado na base de Roswell à época do incidente, foi o mesmo responsável pelos ataques a Hiroshima e Nagasaki. Jesse Marcel, antes de ser transferido para Roswell, havia atuado nos testes nucleares da Operação Crossroads no Atol de Bikini em 1946.
O medo atômico permeava também a cultura popular, refletido em filmes como Godzilla e Them! (1954), este último ambientado no Novo México e envolvendo formigas gigantes mutantes causadas por radiação.
Halperin também vê paralelos entre a atual onda de interesse por fenômenos aéreos não identificados — que levou o governo dos EUA a reabrir investigações em 2022 — e o clima político agitado iniciado com a eleição de Donald Trump em 2016. Segundo ele, a sensação de que a realidade conhecida havia sido desestabilizada foi intensificada pela pandemia.
Em julho de 1947, o New Mexican declarou que continuaria cobrindo “discos voadores”, mas com tom irônico, a menos que surgissem evidências concretas de atividade extraterrestre. Ao longo das décadas, o jornal continuou abordando o tema, mas com foco nos impactos econômicos e turísticos, mais do que em avistamentos.
Por exemplo, em 1997, o jornal destacou que Roswell foi capa da revista Time pelos 50 anos do incidente — uma exposição midiática que, se paga, teria custado quase US$ 2 milhões ao estado. Durante a campanha presidencial de 2008, o então governador Bill Richardson disse que o governo não havia sido transparente sobre o caso Roswell, o que lhe rendeu críticas do Washington Post, que exigia provas concretas ou silêncio.
O jornal também publicou, em 2008, uma matéria sobre os planos de construir um parque temático de OVNIs em Roswell, que fracassaram por problemas legais envolvendo o financiamento público. A manchete dizia que o projeto havia sido “sugado por um buraco negro”, após a retirada de um repasse de US$ 245 mil por violação à cláusula antidoação do estado.
Mais recentemente, em 2022, um repórter e um fotógrafo do New Mexican foram a Roswell para cobrir os 75 anos da “mania dos OVNIs”, participando do festival que ainda reúne fãs e curiosos.
E, mesmo com os OVNIs fora dos holofotes por um momento, Roswell continua olhando para o céu. Em setembro, a cidade sediará, pela primeira vez, o Campeonato Nacional de Corridas Aéreas, trazendo um novo atrativo turístico após os prejuízos causados por uma enchente histórica em outubro.
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