Os Estranhos Fenômenos de Santa Isabel, Argentina

Os Estranhos Fenômenos de Santa Isabel, Argentina

Na década de 1970, em meio à modernização industrial da Argentina, uma série de eventos misteriosos na fábrica da Ika-Renault, em Santa Isabel — envolvendo luzes estranhas, aparições e encontros com seres humanoides presenciados por funcionários como Theodoro Merlo, Enrique Moreno e Luftolde Rodriguez — desencadeou uma das mais intrigantes investigações ufológicas da América do Sul, marcada por relatos detalhados, efeitos físicos inexplicáveis e coincidências perturbadoras entre as testemunhas.


Neste artigo:


Introdução

No início da década de 1970, a Argentina viveu uma série de episódios que marcaram profundamente a história da ufologia sul-americana. Em meio ao clima de modernização industrial e crescente avanço tecnológico, eventos misteriosos começaram a ocorrer em uma das mais importantes fábricas do país — a planta da Ika-Renault, localizada em Santa Isabel, província de Córdoba. O que parecia ser um ambiente de rotina e precisão mecânica transformou-se, de repente, em cenário de acontecimentos inexplicáveis que desafiariam a lógica e a razão.

Durante meses, operários, técnicos e membros da equipe de segurança relataram luzes estranhas, aparições e fenômenos de natureza incomum dentro e nos arredores das instalações da fábrica. Tais manifestações, mantidas inicialmente em sigilo por medo e descrédito, vieram a público apenas quando dois funcionários — os senhores Moreno e Rodriguez — decidiram compartilhar suas experiências. A divulgação desses relatos atraiu a atenção de pesquisadores e deu início a uma investigação meticulosa, conduzida com o objetivo de compreender a origem dos incidentes e, se possível, reproduzir as condições em que haviam ocorrido.

A fábrica Ika-Renault, atualmente.

Quando as manifestações ocorridas na fábrica de Santa Isabel vieram a público, graças ao depoimento de dois de seus protagonistas — os senhores Moreno e Rodriguez —, iniciou-se uma investigação mais profunda. A equipe responsável, interessada em compreender o fenômeno, procurou diversas pessoas ligadas à empresa Ika-Renault, a fim de promover uma reconstituição minuciosa dos acontecimentos. Durante esse processo, surgiu a revelação de um incidente anterior, conhecido apenas pela equipe de segurança da fábrica, mantido em sigilo por pedido expresso da testemunha. Esse episódio havia ocorrido na residência particular do Sr. Mario Bidosa, executivo da mesma empresa, na cidade de Alta Gracia, província de Córdoba. Em 12 de outubro de 1972, os investigadores conseguiram finalmente entrevistar essa testemunha, que vivia nas imediações da cidade.

Mas o caso que mais chamou atenção foi o do Sr. Theodoro Merlo, de 56 anos, funcionário da Ika-Renault em Santa Isabel, onde exercia a função de zelador do vestiário da seção de Forja. Sem formação acadêmica formal, Merlo era conhecido por seu talento artístico — pintava e esculpia com impressionante habilidade autodidata. Tratava-se de um homem simples, reservado, e de uma humildade marcante. Durante a entrevista, recusou-se a ser fotografado, insistindo que seu relato não fosse amplamente divulgado. Sua narrativa, no entanto, mostrou-se coerente, livre de contradições e transmitida com uma convicção que impressionou os investigadores. A impressão geral era a de uma pessoa honesta, incapaz de inventar ou exagerar o que viu.

O episódio ocorreu em 21 de setembro de 1972, às 5h43 da manhã, dentro das instalações da fábrica. O Sr. Merlo dirigia-se aos vestiários da seção Forja, um pouco antes do início das atividades regulares. À 1h40, ele havia trancado cuidadosamente as duas portas de acesso ao local, garantindo que ninguém permanecesse ali. Como os técnicos só começavam o expediente às 7h30, era sua responsabilidade preparar o ambiente para a chegada da equipe de manutenção, prevista para as 6h.

Ao chegar, Merlo acendeu as luzes externas — os interruptores ficavam ao lado da porta nº 2. As lâmpadas que iluminavam os banheiros 1 e 2 eram de vapor de mercúrio, enquanto as demais (3 a 6) eram fluorescentes. Depois de iluminar o ambiente, ele destrancou a porta e entrou, dirigindo-se ao setor A, onde deixara sabonetes e toalhas de mão. Foi nesse instante que algo inusitado aconteceu: notou que a luz nº 1 estava apagada e, à sua esquerda, havia uma figura sentada sobre uma das pequenas pias.

Surpreso, ele parou por um instante. Sabia que o local estava completamente trancado desde a madrugada e que ninguém poderia estar ali dentro. Seguiu, então, discretamente até o setor B, cerca de sete metros adiante, tentando compreender o que via. As divisórias entre os banheiros não alcançavam o teto — ficavam a cerca de 50 centímetros dele —, o que permitia que a luz dos compartimentos vizinhos iluminasse parcialmente o ambiente, mesmo com uma das lâmpadas apagadas.

Enquanto passava diante de um espelho e ajeitava os objetos que levava nas mãos, Merlo ouviu um ruído agudo, semelhante ao de metal atingindo vidro. No mesmo instante, a luz nº 2 apagou-se, enquanto a luz nº 1, que antes estava desligada, acendeu sozinha. A iluminação repentina permitiu que ele percebesse, com nitidez, que a figura que havia visto momentos antes já não estava mais lá.
Confuso e alarmado, Merlo retornou rapidamente ao setor A, tentando localizar o intruso. Não havia ninguém. Do ponto onde estava, pôde observar o corredor que levava à porta de acesso nº 2, mas não viu qualquer movimento. Correu então até o setor B, supondo que o desconhecido poderia ter tentado escapar pela outra porta — a de nº 1. No entanto, ambas as portas estavam trancadas, assim como as claraboias, que só podiam ser abertas por dentro mediante um mecanismo complexo. Vasculhou o vestiário inteiro, inclusive abrindo os armários metálicos, mas não encontrou sinal de que alguém tivesse estado ali.

Mesmo com a pouca iluminação no setor B, Merlo conseguiu observar várias características da misteriosa figura, graças à claridade difusa das lâmpadas próximas. Estava a uma distância de apenas três metros quando a viu pela primeira vez. O ser, sentado sobre a pia, mantinha o braço direito levantado, com a mão tocando o que parecia ser o nariz, enquanto o braço esquerdo repousava sobre a borda da pia. A perna direita estava estendida, e a esquerda dobrada, com o pé apoiado firmemente no chão — detalhe importante, pois a pia ficava a cerca de 90 centímetros de altura. Isso indicava que a criatura deveria ter entre 2,40 e 2,50 metros de altura.

A vestimenta chamava atenção: era feita de uma única peça azul-escura, de tecido fosco e justo ao corpo, ajustada nos punhos, sem qualquer cinto, sapato ou acessório visível. O rosto e as mãos estavam descobertos. A pele era pálida, branca como gesso; os dedos longos e finos. O corpo era robusto, e o crânio, largo e arredondado. Não havia cabelos. O pescoço parecia curto, o queixo era largo e plano. As orelhas, pontiagudas e longas, não ultrapassavam o topo da cabeça. Os olhos, de formato amendoado e muito maiores que os humanos, chamavam mais atenção que qualquer outro traço. Na região das bochechas, Merlo notou manchas ou sombras tênues, e não conseguiu definir com clareza o formato do nariz ou da boca.

Reconstituição por IA, do avistamento de Theodoro Merlo, feita a partir do desenho feito pela testemunha.

Durante a breve observação, ele relatou uma série de efeitos físicos curiosos. Notou que a temperatura no setor onde estava era consideravelmente mais alta do que nas outras áreas. Seus olhos começaram a arder e lacrimejar — sintoma que persistiu por três dias. Desenvolveu uma mancha avermelhada no centro do nariz, acompanhada de dor que ainda estava presente no dia da entrevista. Sofreu também de dores de cabeça recorrentes e desconforto lombar, que duraram cerca de uma semana.

Outros Fenômenos

Depois do estranho encontro nos vestiários da fábrica de Santa Isabel, o Sr. Theodoro Merlo preferiu o silêncio. Aquela figura enigmática que surgira e desaparecera diante dele continuava a lhe causar desconforto, mas ele temia ser ridicularizado ou acusado de alguma negligência. Então, guardou o segredo só para si — junto com um pequeno esboço do ser que fizera às pressas, como quem tenta preservar um fragmento de um pesadelo.

Representação do caso, feita pela testemunha.

Ao fim do expediente, Merlo voltou para casa, em Villa Oviedo, Alta Gracia. Eram cerca de 6h30 da manhã do dia 21 de setembro. Tentou descansar, mas a lembrança da criatura — seus olhos fixos, a maneira silenciosa como havia se movido — o assombrava. Mesmo assim, à noite, retomou sua rotina. Por volta das 21h10, embarcou no ônibus que o levaria de volta à fábrica. Escolheu um assento discreto, o terceiro da fileira esquerda, perto da janela. O veículo já levava cerca de 25 passageiros, quase todos operários que, como ele, seguiam para o turno noturno.

Lá na frente, acima do para-brisa, o espelho retrovisor refletia o interior do ônibus. Era um espelho grande, retangular, medindo algo em torno de 26 por 46 centímetros. As luzes internas estavam apagadas — apenas o brilho fraco do painel iluminava o ambiente. E foi nesse meio-escuro que o Sr. Merlo viu algo que gelou seu sangue: no espelho, surgiu um rosto. Um rosto muito parecido com o da figura que ele havia encontrado naquela manhã.

O reflexo era nítido, perturbadoramente claro. O Sr. Merlo virou-se rapidamente para verificar se alguém estava ali, no banco de trás. Só viu um passageiro sonolento, encostado na janela, usando uma boina basca e de braços cruzados. Nenhuma semelhança. Mesmo assim, o rosto permanecia lá, firme no espelho — observando-o.

Reconstituição por IA, do avistamento ocorrido na estrada, a bordo do ônibus.

Desta vez, ele pôde notar detalhes que antes lhe haviam escapado. A boca, por exemplo, lembrava a de um cão, com o lábio superior mais projetado que o inferior. Nas bochechas, manchas marrons; e sob cada olho, duas pequenas linhas escuras, formando ângulos em direção às órbitas. As sobrancelhas, finas e arqueadas, pareciam desenhadas à mão. O ser não piscava. O nariz era triangular, com bordas retas e sem protuberância alguma. Tudo era tão real e, ao mesmo tempo, tão impossível.

Durante cerca de três minutos, Merlo ficou hipnotizado pela visão. E então, como se uma pedra tivesse sido lançada em um lago, o rosto começou a se desfazer em círculos concêntricos, até desaparecer por completo. No espelho, voltou a aparecer o que deveria estar ali o tempo todo: a orelha do motorista, parte do pescoço, o braço, o ombro e o rosto do primeiro passageiro. Nenhum deles havia notado nada.

Quando o ônibus chegou à fábrica, por volta das 22h30, o Sr. Merlo tentou se concentrar no trabalho, mas era impossível. Aquilo não saía da sua cabeça. No amanhecer do dia 22, às 5h, não aguentou mais e procurou o chefe do departamento de segurança, o Sr. Romero. Contou-lhe tudo — inclusive sobre o rosto no espelho — e entregou o desenho que havia feito, agora aprimorado com os novos detalhes que lembrava. O assunto, por ordem de Romero, permaneceu em sigilo absoluto, conhecido apenas pelos seguranças.

Foi só semanas depois, em 10 de outubro, que o Dr. Ignacio Castro Igarzabal, em uma visita de rotina à fábrica, ouviu de Merlo o relato completo. O médico ouviu atentamente, mas preferiu não opinar.

A área do vestiário, onde o caso ocorreu.

Enquanto isso, pequenos episódios curiosos continuavam a ocorrer. Na madrugada de 25 de setembro, por volta das 2h, Merlo e um colega, o Sr. Moyano, foram até os vestiários da Forja para uma inspeção de rotina. Quando abriram a porta, perceberam que as luzes simplesmente não acendiam. Um silêncio pesado tomou o ambiente. Assustados, decidiram não entrar. Horas depois, ao voltarem, as lâmpadas funcionavam perfeitamente. Nenhuma explicação.

Pouco mais de duas semanas depois, outro fato o deixou intrigado. Era 9 de outubro. Ao acordar, Merlo notou que seu relógio de pulso e o despertador de sua cabeceira marcavam 4h da manhã. Mas o relógio de parede, no cômodo ao lado, mostrava 5h — o horário correto. Estranho é que tanto o relógio de pulso quanto o despertador haviam sido acertados com base no relógio de parede. Como se o tempo tivesse se “atrasado” apenas para ele.

O próprio Merlo não sabia dizer se esses acontecimentos tinham alguma relação com o que vira na fábrica e no ônibus. Mas, instintivamente, sentia que tudo estava conectado de alguma forma — ainda que fosse impossível compreender como.

A planta baixa do vestiário, onde o caso ocorreu.

Algum tempo depois, ao ver ilustrações de outros casos de avistamentos de humanoides, Merlo percebeu semelhanças inquietantes. No famoso caso de Villa Santina, por exemplo, ele notou que o nariz e a boca dos seres retratados eram “idênticos, de uma forma surpreendente” aos do ser que havia encontrado em Santa Isabel. Já ao observar o caso Hopkinsville, percebeu uma diferença clara: as orelhas das criaturas daquele incidente não se pareciam em nada com as do seu visitante.
Essas comparações, longe de trazerem alívio, apenas aumentaram sua sensação de mistério. Afinal, se diferentes pessoas em diferentes partes do mundo haviam descrito seres de aparência tão parecida, o que exatamente teria visitado o vestiário da fábrica naquela manhã?

Merlo nunca encontrou resposta definitiva. Mas uma coisa é certa: desde aquele setembro de 1972, ele jamais voltou a olhar para um espelho retrovisor da mesma maneira.

Um Novo Fato

Seis meses depois do chamado “Incidente Merlo”, um novo episódio voltaria a agitar os corredores da fábrica da Ika-Renault, em Santa Isabel. E, curiosamente, foi apenas após esse segundo caso que o primeiro veio a público — como se o silêncio tivesse sido rompido pela força dos novos acontecimentos. Dessa vez, a testemunha era Enrique Moreno, um jovem de apenas 19 anos, técnico, disciplinado e reservado, que trabalhava no departamento de teletipos da empresa.

Diferente de Merlo, Moreno não parecia alguém inclinado à fantasia: estudara na escola de sargentos de Córdoba, era metódico, e carregava consigo um “diário de bordo” onde anotava rigorosamente cada tarefa cumprida durante o turno noturno. Mesmo assim, nada o preparou para o que viveu naquela noite de 27 de setembro de 1972.

Era por volta das 22h30 quando Moreno deixou a Sala da Guarda para entregar alguns documentos pendentes no Escritório de Engenharia. A tarefa era simples e rotineira. Por isso, ele nem se preocupou em acender as luzes da sala — apenas entrou, deixou os papéis sobre uma mesa e se preparava para sair quando algo estranho aconteceu. As lâmpadas fluorescentes da sala principal começaram a piscar e se apagaram. Depois voltaram a acender, e novamente se apagaram. Esse ciclo de luzes e sombras repetiu-se três vezes, num intervalo de apenas 15 segundos.

Croqui indicando a movimentação da testemunha, quando o caso ocorreu.

Logo em seguida, um zumbido forte, semelhante ao de uma turbina, ecoou pelo ambiente. O som durou poucos segundos, mas foi o bastante para deixá-lo em alerta — principalmente porque naquela seção da fábrica não havia máquinas em funcionamento, e, segundo ele, nenhum equipamento industrial conhecido produzia aquele tipo de ruído.

Desconcertado, Moreno decidiu sair dali o quanto antes. Voltou à sua motocicleta, que mantinha estacionada por perto, e dirigiu-se até o depósito, atravessando um beco de cerca de 200 metros. Terminou o serviço, registrou o horário — 23h13 — e começou a retornar em direção ao posto de gasolina interno. Até então, tudo parecia ter voltado ao normal.

Mas o improvável o aguardava no caminho de volta. Enquanto pilotava, Moreno notou à distância, quase no limite do vale, uma espécie de arco-íris, mas diferente — muito baixo e brilhante, como se pairasse perto do solo. Achou curioso, mas não deu importância. Acelerou.

Enrique Moreno, protagonista de outro avistamento na fábrica.

Foi então que, a uns 100 metros adiante, percebeu uma figura azul-esverdeada parada na beira da estrada, a cerca de 10 metros da calçada. Pensou, num primeiro momento, que fosse um operário da fábrica, já que muitos usavam macacões verdes. A luz das lâmpadas de vapor de mercúrio poderia estar apenas criando um reflexo esquisito. Mas havia algo errado com as proporções: o ser era grande demais, “descomunal”, como ele descreveu depois. Por um instante, Moreno chegou a imaginar que fosse alguém brincando com pernas de pau.

A cerca de 30 metros de distância, o “operário” girou o tronco e a cabeça para encará-lo. O movimento era rígido, quase mecânico, como se cada parte do corpo estivesse presa à outra por articulações artificiais. Nesse exato instante, a motocicleta de Moreno começou a tremer violentamente. O motor perdeu força, o escape roncou e, mesmo tentando engatar a segunda marcha, ele percebeu que o veículo não se movia — como se as rodas estivessem travadas por uma força invisível.

O motor continuava ligado, porém em rotação mínima, emitindo um som abafado e irregular. A moto parou completamente, bem em frente ao ser, que permanecia imóvel no meio da pista.
A descrição de Moreno é uma das mais detalhadas já registradas em casos semelhantes. O ser tinha entre 2,30 e 2,40 metros de altura, com porte atlético e rosto anguloso, de tez esbranquiçada ou verde muito clara. O jovem não conseguiu determinar se a coloração era real ou apenas um reflexo da luz de suas roupas. Não tinha cabelos, e as orelhas se projetavam além do topo da cabeça, num formato anômalo.

Os olhos, redondos e luminosos, eram como globos de luz amarela — sem pálpebras, cílios ou sobrancelhas. A boca, uma simples linha reta, e o nariz, sem protuberância, davam ao rosto uma aparência quase esculpida, inumana. Moreno teve a nítida impressão de que não se tratava de um ser vivo, mas de uma espécie de robô — uma máquina humanoide.

Reconstituição por IA, do incidente envolvendo Enrique Moreno.

A roupa consistia em um macacão azul-esverdeado de material plástico e brilhante, que parecia emitir uma leve luminescência própria. Um cinto prateado, largo, com fivela oval e uma pequena protuberância lateral completavam o traje, como se fosse um equipamento acoplado.

Curiosamente, Moreno só pôde ver o ser da cintura para cima — a parte inferior parecia oculta por uma sombra ou distorção no ambiente, o que tornava a visão ainda mais surreal.

À esquerda, croqui feito pela testemunha.

Enquanto a moto se aproximava e o encontro acontecia, Moreno foi tomado por uma série de sensações físicas intensas:
1. Um zumbido agudo invadiu seus ouvidos, fazendo-os doer e entupindo a audição, como se estivesse em alta altitude.
2. Um formigamento percorreu todo o corpo, da cabeça aos pés, e só desapareceu quando ele conseguiu se afastar.
3. Seus braços e pernas ficaram paralisados, embora conseguisse mover a cabeça. Sentia-se sem força, mas ainda consciente.
4. O ar ao redor estava anormalmente quente, apesar da noite fresca.
5. Um cheiro forte de óleo queimado impregnava o ambiente.

Depois que conseguiu deixar o local — sem saber ao certo como a motocicleta voltou a funcionar —, Moreno experimentou vários efeitos residuais:
• boca seca e náuseas por mais de 24 horas;
• dores no pescoço, nos braços e nas costas, que persistiram por semanas;
• ardência nos olhos e lacrimejamento intenso que duraram cerca de três horas.

Quando foi entrevistado pela primeira vez, em 14 de outubro de 1972, Moreno ainda estava abalado. Falava com voz trêmula, e cada detalhe parecia revivido com desconforto. Mesmo sem buscar fama ou reconhecimento, ele demonstrava certeza sobre o que vira — uma convicção que impressionou os investigadores.

Esse episódio, conhecido como o “Caso Moreno”, acabou sendo considerado um dos relatos mais importantes da série de fenômenos registrados em Santa Isabel. Não apenas pela riqueza dos detalhes, mas pelos efeitos físicos e pela interferência eletromecânica — uma característica comum em encontros próximos com objetos ou seres de origem desconhecida.

Até hoje, o que realmente aconteceu naquela noite permanece sem explicação. Mas, para o jovem Moreno, o brilho verde-azulado daquele ser colossal jamais se apagou da memória.

Reconstituição do incidente, com o Enrique Moreno e o pesquisador.

Após o caso

O Sr. Moreno ainda se recorda nitidamente daquela noite estranha na fábrica da Ika-Renault, em Santa Isabel. Ele garante que o objeto pairou diante dele por não mais do que trinta segundos, imóvel, sem emitir qualquer som ou movimento — exceto aquela rotação súbita de 45°, que já havia descrito anteriormente. Então, sem aviso, a motocicleta que ele conduzia pareceu ganhar vida própria. Foi lançada bruscamente para a esquerda, como se uma força invisível a tivesse empurrado. Moreno conta que tentou frear, mas não tinha controle algum — o veículo vibrava, os faróis piscavam, e o motor, após um solavanco, voltou a funcionar como se nada tivesse  acontecido.

Ainda atordoado, ele não se lembra de ter segurado o guidão. A sensação era a de estar sendo conduzido, talvez instintivamente, talvez por algo além de seu próprio corpo. Mesmo assim, fez as quatro curvas do corredor interno do hangar, como se a moto o guiasse sozinha. Ali, onde o limite era de apenas 5 km/h, ele garante que atingiu cerca de 50 km/h. Na última curva, quase perdeu o controle por completo. Chegou à guarita em disparada, a ponto de quase colidir com as barreiras de segurança — o que lhe rendeu uma bronca imediata de um dos controladores.

Nesse momento, a sirene indicando o fim do turno tocou: eram 23h30. Porém, ao olhar para seu relógio de pulso, Moreno percebeu algo estranho — o ponteiro marcava 23h13 e o relógio havia parado. A diferença de 17 minutos o deixou perturbado. Ele tinha certeza de não ter perdido a consciência, e a ideia de que pudesse ter “apagado” o assustava profundamente. Durante a reconstituição feita mais tarde, ficou claro que o trajeto que ele descreveu, mesmo com a breve parada diante do fenômeno, não poderia ter durado mais de três minutos. Então, o que teria acontecido nesses 17 minutos desaparecidos? Um lapso de memória? Uma amnésia parcial? Era algo que, talvez, só pudesse ser esclarecido por uma sessão de hipnose controlada.

Enrique Moreno apontando o local onde ele estava passando.

Assim que os guardas foram informados do incidente, seguiram até o local onde Moreno havia visto o ser. Não encontraram nenhum vestígio dele — nenhum odor, nenhum calor. Mas atrás do chassi, exatamente onde ele havia apontado, encontraram duas marcas retangulares no chão, medindo cerca de 20 por 40 centímetros, com 2 cm de profundidade. O solo ali ainda estava quente, embora fosse firme, endurecido por uma mistura de leite e óleo industrial. Dentro das marcas, havia algo curioso: pequenas partículas brilhantes, que lembravam mica.

Enquanto os guardas analisavam as marcas, um deles — talvez impaciente, talvez incrédulo — começou a zombar de Moreno. Disse que ele estava delirando e, num gesto brusco, começou a destruir as marcas com o pé direito. No relatório oficial, esse mesmo guarda escreveu que “não havia nada de estranho” e que “partículas de mica eram comuns naquele tipo de solo”.

O resultado não poderia ser outro: Moreno virou motivo de piada entre os colegas. Riam dele, questionavam sua sanidade, chamavam-no de “visionário”. A pressão, o nervosismo e o medo começaram a cobrar seu preço. Ele passou a sentir náusea, uma dor intensa no pescoço, braços e costas, e suas têmporas latejavam fortemente. Foi levado às pressas ao centro médico da fábrica, onde o médico constatou que sua pressão havia despencado para 7. Pouco depois, ele perdeu a consciência.

Enrique Moreno, apontando o local onde o ser esteve e onde foram encontradas marcas.

Quando recobrou os sentidos, sob efeito de sedativos, foi colocado em uma ambulância e levado para casa. Durante o trajeto, meio sonolento e ainda abalado, uma sequência confusa de palavras e números surgiu em sua mente — “coordenadas”, “latitude”, “longitude”, “18”… Expressões soltas, desconexas, das quais ele pouco se lembraria depois, mas que ficaram registradas como um eco estranho da experiência.

Nos arredores de Córdoba, no entanto, Moreno surpreendeu os paramédicos ao pedir que o levassem até a casa de sua noiva, a jovem Elba del Valle Cellz, de 18 anos. Mais tarde, ele mesmo diria não entender o porquê desse impulso. Elba confirmou que, por volta das 0h30, ele apareceu em sua casa — pálido, nervoso, repetindo que havia visto um “ser mecânico”, um “robô” dentro da fábrica. Ela o ajudou a se sentar, e ele adormeceu quase de imediato, mas começou a se debater, tremendo, como se estivesse em convulsão. Apavorada, ela o acordou. Moreno bebeu um copo d’água, pediu desculpas e foi embora, deixando-a sem entender o que tinha acontecido.

No dia seguinte, 28 de setembro, Moreno voltou ao trabalho. Achou que o pior já havia passado — mas não. Às 22h30, enquanto buscava alguns arquivos na seção de teletipos, sentiu novamente aquela sensação incômoda de estar sendo observado. Virou-se e, pela janela que dava para uma área deserta, viu — a apenas três metros de distância — o mesmo ser da noite anterior. No mesmo instante, as lâmpadas começaram a piscar, os teletipos se acenderam sozinhos, e um zumbido suave, como o de uma turbina distante, encheu o ar.

Enrique Moreno, apontando onde o estranho ser foi visto.

Desesperado, Moreno correu em direção à guarita, tentou escalar as barreiras e gritava para que alguém o acompanhasse — queria testemunhas, precisava provar que não estava louco. Um dos guardas o segurou pelo braço, pedindo que se acalmasse. Disse que sua obsessão estava lhe causando alucinações e que, se continuasse assim, acabaria sendo afastado por insanidade. Levou-o para tomar um café com os outros guardas, que prometeram não contar nada à administração, para “evitar problemas”. Afinal, Moreno já tinha passado por um exame médico no dia anterior — e qualquer novo incidente colocaria seu emprego em risco.

Algumas semanas depois, em 16 de outubro de 1972, o famoso parapsicólogo argentino Enrique Marchesini foi convidado a examinar discretamente o caso. Sem saber de nada sobre o ocorrido, ele simplesmente tocou em uma peça de roupa usada por Moreno e declarou que o homem havia sofrido um choque nervoso intenso, resultado de uma experiência única e profundamente marcante. Marchesini afirmou que o sujeito era sincero e não simulava seus sintomas, recomendando repouso absoluto e silêncio.

Enrique Marchesini, parapsicólogo.

Mais tarde, um técnico analisou o relógio de pulso de Moreno — um Orient — e descobriu que ele estava fortemente magnetizado. O especialista comentou, meio intrigado, que só algo com um poderoso campo eletromagnético poderia causar aquele efeito. Brincou dizendo que “algum curioso devia ter testado uma máquina sobre o relógio”, sem imaginar o contexto do caso.
Quando compararam o relato de Moreno a outros episódios ufológicos, as conclusões foram curiosas. Ele não encontrou semelhança com o caso da Villa Santina, mas disse que as orelhas do ser lembravam bastante as do famoso caso de Hopkinsville, nos EUA. O mais impressionante, porém, foi quando viu uma foto das estátuas moai da Ilha de Páscoa — ficou surpreso com a semelhança entre aqueles rostos enigmáticos e o ser que o havia encarado nas noites de Santa Isabel.

O último incidente

O terceiro — e último — episódio das chamadas “premonições antropomórficas” na fábrica de Santa Isabel ocorreu quase quatro horas depois da primeira observação feita pelo Sr. Moreno. E, curiosamente, há semelhanças marcantes entre os dois casos, a ponto de parecerem diferentes capítulos de uma mesma história. A nova testemunha era o Sr. Luftolde Rodriguez, um homem de 52 anos, motorista de caminhão da empresa Egea, responsável pelo transporte de materiais para as oficinas da Ika-Renault. Pessoa simples, de pouca escolaridade, mas firme em suas palavras e convicto do que viu naquela madrugada incomum de 28 de setembro de 1972.

Luftold Rodriguez, testemunha de outro incidente na fábrica.

Por volta das 3h40 da manhã, Rodriguez chegou com seu caminhão Dodge 1957 à entrada nordeste da fábrica, como fazia rotineiramente. Sua tarefa era descarregar algumas chapas de metal naquela área. Tudo parecia absolutamente normal até o momento em que, prestes a dar ré, notou que o ar estava… diferente. “Claro demais”, como ele próprio descreveu. Foi então que percebeu alguém se aproximando por trás, caminhando lentamente pelo lado direito do caminhão.

Intrigado, Rodriguez olhou pela janela lateral e, de relance, viu o torso de uma figura humana — mas muito mais alta do que qualquer pessoa que ele já tivesse visto. A cabeça dessa figura ficava fora de seu campo de visão. O ser avançou até a frente do caminhão e, quando passou diante dos faróis, Rodriguez pôde observá-lo melhor. A estranha figura parou, girou o corpo cerca de 100 graus e o encarou por alguns segundos. Em seguida, fez o mesmo movimento em sentido contrário e continuou andando. O motorista notou que aquele movimento não parecia natural — não era apenas a cabeça que girava, mas todo o torso, como se fosse uma estrutura rígida, quase mecânica.
O ser então atravessou a estrada em diagonal, dirigindo-se para a esquerda e entrando num beco onde desapareceu atrás de uma estrutura metálica. Rodriguez, atônito, permaneceu imóvel, tentando processar o que havia acabado de presenciar.

Reconstituição do incidente, feita por IA.

Mais tarde, durante a investigação, as caixas empilhadas próximas à estrutura serviram de referência para estimar a altura do visitante: aproximadamente 2,50 metros. E aqui as coincidências com o caso Moreno se tornaram ainda mais evidentes. O ser era careca, com a cabeça achatada no topo e na parte de trás, orelhas grandes e eretas, projetando-se alguns centímetros acima do crânio. Não possuía pálpebras, sobrancelhas nem cílios. Sua pele era pálida, quase translúcida, e os olhos redondos pareciam emitir luz própria.

O nariz era reto, de bordas achatadas; a boca, pequena — um detalhe que lembrou a Rodriguez o formato descrito no caso “Villa Santina”. Os braços e as pernas eram longos e finos, e o corpo, embora com aparência atlética, dava uma sensação estranha de rigidez, como se fosse um robô revestido por uma armadura plástica. O ser vestia um macacão verde-azulado, de peça única, que refletia a luz de forma sutil, como se tivesse um brilho próprio.

A entrada nordeste da fábrica.

Na mão esquerda, segurava algo que parecia uma bola de bilhar, mas que emitia uma luz branca intensa e constante. O braço que a sustentava ficava levemente erguido. Na cintura, via-se um largo cinto prateado, com uma espécie de bainha ou caixa metálica presa do lado direito. Havia também anéis prateados em cada pulso, com cerca de 10 centímetros de largura, e botas prateadas com pregas na parte superior e base retangular — uma anatomia curiosa, pois os pés pareciam quase quadrados.

Rodriguez reparou ainda em algo particularmente incomum: o ser não dobrava os joelhos ao andar. Em vez disso, inclinava o corpo ligeiramente para o lado a cada passo, num movimento que lembrava mais uma máquina do que um ser vivo. Toda a cena durou entre um minuto e um minuto e meio, mas foi o suficiente para gravar na mente do motorista uma lembrança que jamais o deixaria.

A fábrica atualmente.

Durante o episódio, ocorreram ainda alguns fenômenos físicos curiosos. No exato ponto em que o caminhão estava estacionado, o motor parou repentinamente e todas as luzes — tanto do veículo quanto da área do beco — se apagaram. Ao mesmo tempo, Rodriguez começou a ouvir um som contínuo, semelhante a um enxame de abelhas, e percebeu que não conseguia mais se mover. Estava totalmente paralisado, preso ao banco do motorista.

O caminhão começou então a vibrar violentamente, a ponto de danificar o rádio instalado no painel, que soltou uma forte descarga elétrica antes de desligar de vez. Foi só quando o veículo foi movido — cerca de 25 a 30 metros adiante — que tudo voltou ao normal. As luzes reacenderam, o motor voltou a funcionar e o estranho zumbido cessou.

Após o desaparecimento da figura, Rodriguez permaneceu sentado ao volante por cerca de três minutos, ainda atordoado. Só então alguns colegas de trabalho se aproximaram, perguntando por que ele estava parado, sem buscar a carga do armazém. Ao ouvir o relato, eles vasculharam a área indicada, mas não encontraram vestígio algum do misterioso ser.

A análise posterior revelou semelhanças impressionantes entre esse episódio e os dois anteriores registrados na mesma fábrica.
• Caso Merlo: coincidência no formato do lábio do ser.
• Caso Moreno: descrição quase idêntica em todos os demais detalhes.
• Caso Pretzel (Carlos Paz): correspondência apenas na presença da esfera luminosa na mão esquerda.

Croqui do local onde ocorreu o avistamento de Rodriguez

Essas coincidências sugerem uma ligação direta entre os fenômenos, talvez indicando que as três aparições faziam parte de uma mesma sequência de eventos.

Com o passar dos dias, novos relatos começaram a surgir, alimentando ainda mais o mistério. Embora as investigações não pudessem ser levadas adiante por limitações de tempo e de acesso, ficou claro que havia muito mais testemunhas do que se imaginava — algumas das quais preferiram ficar em silêncio por medo do ridículo.

A área onde o caso de Rodriguez aconteceu.

Durante as reconstituições no local, vários funcionários admitiram ter ouvido ou visto movimentos estranhos e luzes incomuns sobre a fábrica nos últimos dias de setembro de 1972. Um deles chegou a mencionar que um alto funcionário da empresa teria observado, na noite de 27 de setembro, um objeto luminoso e, através de um tubo de observação, teria visto uma figura humana idêntica à descrita pelos senhores Moreno e Rodriguez.

Croqui do ser observado por Rodriguez.

Essa testemunha, entretanto, recusou-se a depor.
Além do perímetro da fábrica, também vieram à tona relatos externos:
1. O Sr. Quiroga, morador das redondezas, afirmou ter visto por volta das 23h30 do dia 27 um objeto luminoso que parecia recolher uma pessoa através de um tubo de luz — algo como um “conduto de cristal”.
2. O Sr. Norberto Grotto, residente no Boulevard Colón, relatou que, enquanto dirigia com a esposa entre 23h30 e 23h45, viu um objeto subindo rapidamente nas proximidades da Ika-Renault. A princípio pensou tratar-se de um balão meteorológico, mas a velocidade e o modo como o objeto desapareceu verticalmente o fizeram duvidar dessa explicação.
3. Vários moradores de Villa El Libertador, bairro vizinho à fábrica, disseram ter visto, por volta da meia-noite, uma esfera luminosa subindo em grande velocidade do setor sudeste de Córdoba — exatamente onde a fábrica está localizada.

Retrato falado do ser estranho.

Esses testemunhos, mesmo sem confirmação plena, reforçam a ideia de que algo extraordinário — e talvez interligado — realmente ocorreu em Santa Isabel naquela sequência de noites de setembro de 1972. Um mistério que, meio século depois, ainda resiste à lógica, permanecendo como um dos episódios mais intrigantes da ufologia argentina.

Com informações de:


  • GALINDEZ, Oscar. Los Fenomenos Antropomorfos de Santa Isabel. Revista OVNIs – Un Desafio de La Ciencia, n. 2, p. 16-21, ago. 1974.
  • GALINDEZ, Oscar. Les étranges phénomènes de Santa Isabel, Argentine. Boletim Inforespace, n. 19, p. 29-38, fev. 1975.
  • GALINDEZ, Oscar. The Anthropomorphic Phenomena at Santa Isabel – Part I. Flying Saucer Rodriguez, v. 21, n. 2, p. 12-16, 1975.
  • GALINDEZ, Oscar. The Anthropomorphic Phenomena at Santa Isabel – Part II. Flying Saucer Rodriguez, v. 21, n. 3-4, p. 17-22, 1975.
  • GALINDEZ, Oscar. The Anthropomorphic Phenomena at Santa Isabel – Part III. Flying Saucer Rodriguez, v. 21, n. 5, p. 15-17, 1975.

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